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Tribunal de Haia ratifica condenação à prisão perpétua de Mladic, o "Carniceiro dos Bálcãs"

A justiça internacional confirmou, nesta terça-feira (8), a condenação à prisão perpétua do ex-líder militar sérvio Ratko Mladic, conhecido como o "Carniceiro dos Bálcãs". Ele foi condenado por crimes cometidos durante a guerra da Bósnia, de 1992 a 1995. 

O ex-líder militar sérvio Ratko Mladic no Tribunal de Haia, nesta terça-feira, 8 de junho de 2021.
O ex-líder militar sérvio Ratko Mladic no Tribunal de Haia, nesta terça-feira, 8 de junho de 2021. AP - Jerry Lampen
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"A câmara de apelações mantém a sentença de prisão perpétua para o Sr. Mladic", declarou o Mecanismo para os Tribunais Penais Internacionais (MTPI) de Haia, rejeitando o recurso de apelação apresentado pelo ex-general.

O veredicto, pronunciado por cinco juízes do MTPI, que substituiu o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) após seu encerramento em 2017, é definitivo e não pode mais ser objeto de apelação.

Mladic havia sido condenado em primeira instância em 2017 por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, principalmente por seu papel no massacre de Srebrenica, em que mais de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram mortos pelas forças sérvias da Bósnia. A matança é a pior ocorrida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e foi considerada como um genocídio pela justiça internacional.

Preso em 2011, depois de passar 16 anos foragido, Ratko Mladic, detido em Haia, é hoje um homem idoso, de quase 80 anos, e que sofre de problemas de saúde, segundo seus advogados. No entanto, mais de 25 anos após o conflito, o ex-general ainda mantém uma aura de herói entre muitos sérvios da Bósnia,.

Dia histórico para os Bálcãs

Apesar da pandemia de Covid-19, parentes das vítimas viajaram para Haia com o objetivo de acompanhar a avaliação do MTPI. Já Munira Subasic, presidente de uma das associações de "mães de Srebrenica", foi ao local "para olhar o carrasco nos olhos".

"Este é um dia histórico, não só para nós, mães, mas também para todos os Bálcãs, Europa e mundo", declarou Munira. Em sua opinião, Ratko Mladic "é um monstro que não se arrependeu do que fez". "Onde quer que seu exército fosse, onde quer que colocasse os pés, cometia genocídio", acrescentou.

A ratificação da prisão perpétua do ex-general também foi celebrada por líderes de todo o mundo. "Este julgamento histórico mostra que quem cometer crimes horríveis será responsabilizado", saudou o presidente americano, Joe Biden.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, se disse "aliviado" com a decisão da justiça internacional, que classificou como "um triunfo do direito". "Espero que seja um consolo para as vítimas e os sobreviventes", reiterou. 

O veredicto "ressalta a determinação da justiça internacional em fazer os acusados prestarem contas - e no caso de Mladic, passaram-se quase três décadas após seus crimes hediondos", afirmou em comunicado a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

"Defesa" do povo sérvio

A defesa e a acusação apelaram do resultado do primeiro julgamento, em que o TPII absolveu Ratko Mladic de genocídio em muitos outros municípios. No entanto, os advogados do ex-general queriam a absolvição das acusações de genocídio, que resultaram em prisão perpétua, alegando que eram infundadas.

Mladic alega que foi obrigado a atuar desde o início da guerra na Bósnia (1992-1995). O conflito deixou cerca de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados. Mas, para o general, tudo o que fez foi em defesa do povo sérvio.

Não por acaso, ele continua sendo uma figura popular entre seus defensores. Na véspera do veredicto, na praça central da cidade de Bratunac, perto de Srebrenica, cerca de 50 sérvios assistiram à exibição de um filme sobre Mladic. 

"Seu trabalho foi grande e nunca deve ser esquecido", afirmou Vojin Pavlovic, presidente da associação nacionalista Istocna alternativa (Alternativa Oriental). "Você só precisa ser um sérvio para ser sentenciado em Haia", acrescentou, expressando "pessimismo" sobre o veredicto de apelação do ex-general.

Inicialmente programadas para março de 2020, as audiências foram adiadas primeiro porque Ratko Mladic foi submetido a uma cirurgia de cólon, e uma segunda vez por causa da pandemia de Covid-19.

Em agosto de 2020, durante o julgamento de recurso, Ratko Mladic declarou que o tribunal era um "desdobramento das potências ocidentais" e afirmou ser "um alvo da aliança da Otan", acusando os procuradores de retratá-lo em termos "satânicos, traiçoeiros e diabólicos".

Divisões nos Bálcãs 

Ratko Mladic é um dos principais líderes julgados pela justiça internacional por crimes cometidos durante as guerras na ex-Iugoslávia, além do ex-líder político dos sérvios bósnios Radovan Karadzic, condenado à prisão perpétua em 2019, e do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que morreu em sua cela em Haia de um ataque cardíaco em 2006, antes de seu julgamento ser concluído.

O procurador do MTPI, Serge Brammertz, alertou que o julgamento final de Mladic não seria suficiente para encerrar as divisões nos Bálcãs, considerando que marcava apenas o fim de um capítulo.

(Com informações da AFP)

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