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Guerra pelo poder na frágil Mianmar pode trazer consequências desastrosas, segundo imprensa francesa

“De um lado, as forças de ordem estão cada vez mais presentes. Do outro, os birmaneses se mobilizam em um movimento de desobediência civil que não esmorece”, explica o jornal Libération sobre a situação na ex-Birmânia, onde os militares tomaram o poder no começo do mês.

Protesto em Mandalay, Mianmar, contra o golpe de Estado militar do dia 10/02/2021.
Protesto em Mandalay, Mianmar, contra o golpe de Estado militar do dia 10/02/2021. AP
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“O país voltou ao estado de violência dos anos 2010”, constata o historiador Thant Mynt-U, autor de livros sobre a situação de hoje em Mianmar. 

O jornal católico La Croix acrescenta que, de fato, os militares birmaneses nunca deixaram o poder. “Eles têm o sentimento de serem os únicos vencedores da soberania e da unidade (ilusória) do país.” 

Há dez anos, o sistema político birmanês é baseado em um compromisso entre Aung San Suu Kyi e o exército para a partilha do poder. A Prêmio Nobel entrou para o governo em 2016 após a vitória de seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND) nas eleições de novembro de 2015. O governo foi uma coabitação, com o exército controlando as questões de segurança e Aung San Suu Kyi, o resto. Mas nenhum dos lados estava contente com a situação. 

A vitória esmagadora de Aung San Suu Kyi e de seu partido nas eleições em novembro de 2020 e a pressão por mudanças constitucionais que a colocaria à frente das Forças Armadas foram o estopim para que o exército alegasse fraude eleitoral. A partir daí, foi um passo para o putsch, explica Libération.

Geração 2.0 tem armas próprias

A juventude birmanesa está mais conectada do que nunca, explica o jornal católico La Croix. “Ela vinha respirando ares de liberdade há dez anos e agora o exército decidiu cortar-lhes as asas. Mas nada garante que a revolta 2.0 possa rivalizar os canhões dos militares”, diz David Camroux, especialista em Ásia e Pacífico da Sciences Po, de Paris. 

A nova geração usa suas próprias armas, como os ataques cibernéticos contra sites governamentais. Um grupo que se apresenta como os "Hackers da Birmânia", paralisou vários endereços estatais, como o Banco Central, o site de propaganda do exército, a cadeia pública MRTV, a autoridade portuária e a agência de segurança alimentar e de saúde. As manifestações continuam, apesar das prisões e repressão violenta.

Os conflitos nasceram ao mesmo tempo que a Birmânia independente, em 1948. “O exército está no DNA do organismo birmanês”, garante Camroux. “A grande tragédia histórica da Birmânia tem raízes no início da colonização britânica, em 1885, quando o rei foi obrigado a se exilar. Os britânicos aniquilaram com um golpe o símbolo sagrado da unidade nacional”, acrescenta. Desde então o exército se colocou no lugar da monarquia. 

 

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