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"Não queremos ditadura!": birmaneses ocupam as ruas de Mianmar pelo 3° dia consecutivo

Uma multidão voltou a invadir as ruas de Yangon nesta segunda-feira (8), pelo terceiro dia consecutivo de protestos gigantescos em Mianmar. Os birmaneses protestam contra o golpe militar que tirou a líder Aung San Suu Kyi do poder na semana passada.

Manifestantes exigem a libertação da dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, presa por militares na semana passada.
Manifestantes exigem a libertação da dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, presa por militares na semana passada. AP
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Centenas de milhares de pessoas foram novamente às ruas da capital econômica de Mianmar nesta segunda-feira. Pela primeira vez desde o início do movimento, as forças de segurança utilizaram jatos d'água para dispersar os manifestantes. 

"Não vamos trabalhar mesmo se nosso salário diminuir", declarou uma empregada de uma fábrica têxtil, que respondeu à convocação de greve lançada pelos líderes da contestação. "Não queremos uma ditadura!", reiterou. 

Outros setores aderiram à manifestação, como advogados, enfermeiros, estudantes e até monges. Muitos militantes levaram bandeiras vermelhas da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, presa desde a última segunda-feira (1°).

"Liberem nossos dirigentes!", "respeitem nossos votos!", "rejeitem o golpe de Estado!", diziam cartazes exibidos pelos participantes da mobilização. "Antes nós vivíamos com medo, mas tivemos um governo democrático durante cinco anos e não tivemos mais medo. Não vamos nos dobrar", declarou Kyaw Zin Tun, engenheiro de 29 anos. 

Outras cidades birmanesas também realizaram manifestações. Em Tangu, a 300 quilômetros ao norte de Yangon, motoristas realizaram um buzinaço. Na capital Naypyidaw duas pessoas ficaram feridas pelos jatos d'água lançados pelas forças de segurança. 

Na semana passada, dezenas de funcionários iniciaram uma greve para protestar contra o golpe militar. Os atos se intensificaram neste fim de semana, com grandes protestos no domingo (7). As manifestações são inéditas desde 2007 no país, quando um movimento foi violentamente reprimido pelas forças armadas birmanesas. 

Até o momento, os generais que lideraram a ação contra Aung San Suu Kyi não se manifestaram sobre a mobilização do povo. 

Ao menos 150 detidos

No último 1° de fevereiro, militares resolveram acabar com uma frágil transição democrática em Mianmar e instauraram o estado de emergência por um ano. Além de Aung San Suu Kyi, outros dirigentes da LND foram presos. Ao menos 150 pessoas foram detidas, entre deputados, autoridades locais e ativistas.

Nesta segunda-feira, o papa Francisco pediu a libertação de todos os detidos. "O caminho para a democracia empreendido nos últimos anos se viu bruscamente interrompido pelo golpe de Estado da semana passada. Isso provocou a prisão de vários dirigentes políticos que espero que sejam soltos rapidamente, como estímulo ao diálogo sincero pelo bem do país", declarou.

Na semana passada, a ONU também fez um apelo em prol da libertação de todos os detidos, mas não condenou diretamente o golpe de Estado. China e Rússia - que tradicionalmente apoiam o Exército birmanês nas Nações Unidas - se opõem a adotar uma resolução contra o país. Já os Estados Unidos e a União Europeia ameaçam aprovar sanções contra Mianmar. 

50 anos de governo militar

O país viveu sob o domínio dos militares durante quase 50 anos desde sua independência, em 1948. Em 2010 teve início uma liberalização progressiva e um governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, chegou ao poder depois da vitória da LND nas eleições de 2015.

Em novembro desde ano, o partido da dirigente venceu novamente por ampla maioria as legislativas. No entanto, os militares consideraram a votação fraudulenta, embora os observadores internacionais não tenham constatado problemas.

Segundo analistas políticos, os generais temem perder influência após a nova vitória da LND, que poderia tentar reformar Constituição, atualmente muito favorável aos militares. O exército prometeu eleições livres após o estado de emergência, mas a população recebeu o anúncio com ceticismo.

(Com informações da AFP)

 

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