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Ao receber Nobel da Paz, PMA pede para "não ter de escolher entre crianças que vão viver e aquelas que vão morrer de fome"

O diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, o americano David Beasley, disse nesta quinta-feira (10) que o planeta pode enfrentar uma "pandemia da fome" com consequências ainda mais graves do que a Covid-19. Ele lançou este novo alerta durante a cerimônia virtual de entrega do prêmio Nobel da Paz de 2020, concedido ao PMA.

A pandemia de Covid-19 provocou um aumento exponencial da fome, associada a um quadro de conflitos em várias regiões do planeta.
A pandemia de Covid-19 provocou um aumento exponencial da fome, associada a um quadro de conflitos em várias regiões do planeta. © ONU
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Beasley reafirmou que 270 milhões de pessoas sofrerão da falta de alimentos em razão das "várias guerras atuais, das mudanças climáticas, da generalização do uso da fome como arma política e militar e de uma pandemia mundial que agrava esse quadro de maneira exponencial".

“Não atender a essas necessidades causará uma pandemia de fome que obscurecerá o impacto do Covid”, disse ele, após tirar a máscara, em discurso transmitido da sede da agência da ONU em Roma.

O maior organismo humanitário do mundo de combate à fome, o PMA, fundado em 1961, alimenta dezenas de milhões de famintos em todos os continentes. No ano passado, 97 milhões de pessoas receberam a valiosa ajuda do PMA.

Ao conceder o Prêmio Nobel da Paz em 9 de outubro, o Comitê Nobel da Noruega elogiou a luta do PMA contra essa "arma de guerra" que afeta principalmente os civis. "Diante do avanço nacionalista, o PMA representa exatamente o tipo de cooperação e compromisso internacional de que o mundo tanto precisa hoje", repetiu o presidente do comitê, Berit Reiss-Andersen.

Um "apelo à ação"

A pandemia do coronavírus impediu a realização das festas de gala, que ocorrem todo ano em 10 de dezembro, para a entrega dos prêmios Nobel em Oslo (Paz) e Estocolmo (literatura, medicina, física, química e economia). Os organizadores tiveram que se resignar a modestas homenagens, principalmente online. Excepcionalmente, a medalha de ouro e o diploma Nobel foram enviados a Roma por mala diplomática.

"Este Prêmio Nobel da Paz é mais do que um agradecimento, é um apelo à ação", disse Beasley. Sublinhando que “a fome está às portas da humanidade”, o executivo afirmou que “a comida é o caminho para a paz”.

Nas últimas semanas, o PMA expressou preocupação com o risco de fome em Burkina Faso, Sudão do Sul, nordeste da Nigéria e Iêmen. Neste país da Península Arábica, a desnutrição, já em níveis recordes, deverá piorar ainda mais devido à pandemia e à falta de fundos.

Ironia da história

O diretor do PMA demonstrou indignação com "aquele que pode ser o momento mais irônico da história moderna".

“Por um lado, após um século de progresso massivo na erradicação da pobreza extrema, 270 milhões de nossos vizinhos estão agora à beira da fome”, disse ele. "Por outro lado, há US$ 400 trilhões em riqueza em nosso planeta atualmente. Mesmo no auge da pandemia de Covid-19, em apenas 90 dias, um adicional de US$ 2,7 trilhões de riqueza foi criado. Nós precisamos de apenas US$ 5 bilhões para salvar 30 milhões de vidas de fome", acrescentou.

Normalmente, para que o PMA possa receber os 10 milhões de coroas suecas (€ 975.000) do prêmio, Beasley deve, em princípio, pronunciar o tradicional discurso do Nobel em um prazo de seis meses. Ele concluiu seu agradecimento, nesta quinta-feira, com um apelo contundente.

“Quando não temos dinheiro suficiente nem acesso ao que precisamos, temos que decidir quais crianças comem e quais não comem, quais crianças vivem, quais crianças morrem”, disse ele. "Por favor, não nos peçam para escolher quem vai viver e quem vai morrer (...). Vamos alimentar todos elas", suplicou.

Cerimônia presencial adiada

Apesar do contratempo devido à Covid-19, os organizadores esperam poder receber os vencedores posteriormente, provavelmente em 2021.

Em Estocolmo, as festividades também foram deixadas de lado, substituídas por eventos em grande parte pré-gravados.

"A pandemia impôs obstáculos difíceis para todos nós", disse o presidente da Fundação Nobel, Lars Heikensten. “Ela nos lembrou da importância da cooperação transfronteiriça na resolução de crises humanitárias e que, com a ajuda da ciência, podemos encontrar soluções”.

Depois da poetisa norte-americana Louise Glück, que recebeu o Nobel de Literatura no domingo em sua casa em Massachusetts, os demais prêmios foram entregues em ordem dispersa esta semana aos laureados em seus respectivos países de residência.

(Com informações da AFP)

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