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Acordo de US$ 10 bi sobre Roundup foi bom negócio para Bayer, diz autor de "Monsanto Papers"

O acordo de US$ 10 bilhões fechado pela Bayer na quarta-feira (24) para compensar americanos que alegam na Justiça ter desenvolvido câncer após exposição ao glifosato, substância ativa do herbicida Roundup, é uma boa notícia para a gigante química alemã, estima o francês Stéphane Foucart, do jornal Le Monde. Em 2019, a Bayer comprou a rival Monsanto, fabricante do Roundup, por US$ 63 bilhões.

O laboratório Bayer anunciou nesta quarta-feira que irá pagar cerca de US$ 10 bilhões para encerrar processos lançados por 100 mil americanos que sofrem de câncer e atribuem a doença à exposição ao Roundup, um herbicida desenvolvido pela Monsanto.
O laboratório Bayer anunciou nesta quarta-feira que irá pagar cerca de US$ 10 bilhões para encerrar processos lançados por 100 mil americanos que sofrem de câncer e atribuem a doença à exposição ao Roundup, um herbicida desenvolvido pela Monsanto. AP - Martin Meissner
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Foucart é coautor, ao lado de Stéphane Horel, da série de reportagens publicadas na França sob o título "Os Monsanto Papers". Em entrevista à rádio France Info, nesta quinta-feira (25), ele disse ver esse acordo bilionário como "uma confissão de que a Bayer não venceria a disputa judicial nos Estados Unidos".

A gigante química alemã assinará um cheque de quase US$ 10 bilhões para evitar as condenações. "Para os acionistas, é uma maneira de garantir o futuro", acredita Foucart. O acordo compensa apenas três quartos das mais de 120.000 queixas pendentes nos Estados Unidos. A quantia pode parecer astronômica, mas as perspectivas do negócio permanecem boas, e os investidores estão voltando, nota o jornalista francês. "O preço das ações da Bayer tem aumentado ultimamente", destaca.

Segundo a gigante alemã, este acordo e outros de menor importância financeira "não contêm nenhum reconhecimento de responsabilidade ou falta" da empresa. A Bayer pagará entre US$ 8,8 bilhões e US$ 9,6 bilhões para resolver o litígio e US$ 1,25 bilhão para sanar futuros litígios", informou o comunicado do grupo.

Na avaliação de Foucart, a gigante química alemã não tinha outra opção. "A Bayer já perdeu três processos em primeira instância. A direção entrou com recursos contra essas decisões, mas enfrenta dificuldades em defender o produto [Roundup] em juízo. Hoje, o principal problema da Bayer é o 'Monsanto Papers'. Centenas, milhares de correspondências internas da Monsanto mostram que os executivos e toxicologistas da empresa tiveram mais de duas décadas de fortes dúvidas sobre a segurança do uso de agroxóticos à base do glifosato. É muito complicado defender seu produto em juízo quando você mesmo expressou dúvidas em sua correspondência interna", assinala Foucart.

Posicionamento na Europa em 2022

É muito provável que a Bayer também enfrente dificuldades na Europa. O glifosato passará por uma nova reavaliação pelas autoridades de saúde europeias em 2022. Será um momento muito importante para a empresa. Existe uma forte pressão de ONGs para a proibição definitiva do produto. Além disso, o acordo recém-negociado nos EUA pode levar agricultores de dezenas de outros países a buscarem reparação na Justiça.

Das três condenações em primeira instância nos EUA, a primeira delas impôs à Bayer uma indenização de US$ 189 milhões. No segundo caso, que envolve um casal diagnosticado com câncer, o valor da indenização foi fixado em US$ 2 bilhões. O grupo alemão apelou das sentenças, mas essas somas podem estimular a abertura de inúmeros novos processos, principalmente porque o produto continua à venda e seus efeitos potencialmente deletérios à saúde dos agricultores.

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