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Planeta Verde

A rua de Paris que sonha em se tornar exemplo de “lixo zero”

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A gestão do lixo é um dos desafios mais complexos para a preservação do meio ambiente. Por outro lado, é também a forma mais palpável pela qual os cidadãos comuns podem contribuir para limitar a poluição. E se, pouco a pouco, as cidades se transformassem em “lixo zero”?

Associação Zéro Déchet sensibiliza moradores da Rue de Paradis, a rua "lixo zero" de Paris.
Associação Zéro Déchet sensibiliza moradores da Rue de Paradis, a rua "lixo zero" de Paris. La Rue Zéro Déchet Groupe Public
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Em Paris, uma rua inteira se lançou nesse ambicioso objetivo. A rue de Paradis – ironicamente, “rua do Paraíso” – é o cenário de um piloto promovido pela prefeitura do 10º distrito da capital francesa. A iniciativa conta com o apoio de associações especializadas em sensibilizar e ensinar pessoas e comerciantes a diminuir, e muito, a quantidade de lixo.  

A ideia foi pegar uma rua que representasse uma minicidade: a rue de Paradis tem moradias, lojas, restaurantes, escritórios, escolas. Durante um ano inteiro, os frequentadores são incitados a refletir sobre a geração de lixo – e, principalmente, a mudar de hábitos em casa e no trabalho. O resultado é que, até agora, a rua já produziu 53 toneladas a menos de dejetos em relação a 2018, segundo a administração local.  

Rue de Paradis, no 10° distrito de Paris.
Rue de Paradis, no 10° distrito de Paris. RFI / François-Damien Bourgery

A moradora Oussila percebeu que, imediatamente, as crianças se empolgaram com o tema. “Sentimos que as pessoas estão mais conscientes, principalmente as crianças. Tenho dois filhos e é incrível: eles aprenderam tudo e agora me questionam o tempo todo. ‘Como zeramos o nosso lixo’, ‘por que vamos fazer isso?’”, relata. “Por enquanto, acho que as crianças estão mais aplicadas que os pais”, brinca.

Soluções em bares e restaurantes

Comerciantes como Paul Solier, cofundador da Federação Francesa do Aperitivo, entraram de cabeça no desafio. O nome já anuncia: a loja-bar vende especiarias para o famoso “apéro” francês. Por lidar com produtos perecíveis, sujeitos a uma série de regulamentações, a missão logo se tornou mais difícil.

Cofundador da Fédéração francesa do "l’Appéritif Paul Solier"
Cofundador da Fédéração francesa do "l’Appéritif Paul Solier" @paulantso

“Parece simples, mas é complicado. Você deve seguir apenas o bom senso, mas, quando percebe, as mudanças impactam na logística cotidiana de um estabelecimento, tanto para quem trabalha quanto para os clientes”, reconhece o cofundador. “Nós temos de pensar em alternativas realmente fáceis de usar, que façam os clientes ter vontade de aderir.”

Foi quando surgiu a ideia de reaproveitar as garrafas do vinho da casa, oferecido aos clientes que preferem tomar o aperitivo no próprio local. Solier também agora otimiza as tábuas de frios servidas, de modo a evitar o desperdício alimentar, a maior fonte de lixo em restaurantes.

A poluição gerada pela alimentação também é um ponto fácil de melhorar. Na cafeteria de Patrice Pages, nada mais é servido em objetos plásticos. Os clientes são estimulados a comprarem a granel.

“Muitas pessoas vêm comprar o café com o próprio pote, ou com o mesmo saquinho da vez anterior, quando compraram aqui. Nós só preenchemos com o novo café”, conta Pages. “E os clientes que vêm para consumir aqui já chegam com a taça deles ou com aqueles copos térmicos, para levar para o trabalho o seu café, chocolate quente ou chá.

Não levar futuro lixo para casa

O blogueiro Julien Vidal “se converteu” em lixo zero há alguns anos e agora se dedica a ajudar outras pessoas a mudarem o estilo de vida. Em seu livro Ça commence par moi (“Começa por Mim”, em tradução livre), ele ensina a “nem deixar o lixo entrar na nossa casa”, reduzindo ao máximo a quantidade de embalagens. As frutas e legumes podem passar a ser compradas na feira, por exemplo.

“Você leva a sua sacola e compra. Não precisa de mais nada; nem plástico, nem papel. Depois, você revaloriza o seu lixo orgânico, que representa um terço do que você produz. Você pode fazer a compostagem na sua casa ou levar em algum lugar no bairro”, explica. “O restante, você coloca para reciclagem ou reaproveita: em vez de comprar cada vez mais roupas e objetos eletrônicos, você conserta, preserva, empresta ou toma emprestado quando precisa.”

Operação terça-feira com um tupperware em um restaurante que participa da operação.
Operação terça-feira com um tupperware em um restaurante que participa da operação. Emilie Chaix / Ville de Paris

Limites para a compostagem?

A compostagem costuma ser o passo mais radical de quem decidiu se dedicar de verdade à questão. Mas Benjamin Kam, que administra um restaurante que serve pratos de ovos na rue de Paradis, avalia que, no seu caso, é quase impossível chegar a esse ponto.

“Acho que é um projeto bastante utópico e pouco realista. Fazer compostagem em um restaurante pequeno, de 60 metros quadrados? Vai gerar moscas, vermes e outras inconveniências”, comenta Kam. “Acho que os clientes não gostariam de comer onde há moscas.”

Entretanto, quanto a esse temor, Julien Vidal é taxativo: as alternativas mais modernas de compostagem isolam totalmente o local. Moscas e mau cheiro, garante, fazem parte do passado: ninguém mais precisa ter aparência de “sujinho” para dar um passo à frente rumo a uma vida mais sustentável.

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