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Camboja

Eleitores do Camboja boicotam legislativas para denunciar abuso de poder do governo

No total, oito milhões de eleitores cambojanos foram convocados a irem às urnas neste domingo (29) e renovar o parlamento do país. Mas muitos se recusaram a participar da votação, denunciando o pleito como uma farsa destinada a prolongar os 33 anos no poder do primeiro-ministro Hun Sen.

Eleitora cambojana mostra dedo colorido, após deixar impressão digital exigida aos eleitores neste domingo (29).
Eleitora cambojana mostra dedo colorido, após deixar impressão digital exigida aos eleitores neste domingo (29). REUTERS/Samrang Pring
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Com informações da correspondente da RFI em Phnom Penh, Juliette Buchez 

A votação se encerrou e as apurações já começaram no Camboja. Os primeiros resultados devem ser anunciados na noite deste domingo. A previsão, no entanto, é que a abstenção seja a grande vencedora, já que a oposição convocou a população a boicotar a votação.

O motivo é que o pleito tem o principal objetivo de renovar o mandato do premiê Hun Sen, de 65 anos. O homem forte do Partido do Povo Cambojano (CPP) está há 33 anos no poder. 

No total, 19 pequenos partidos - entre eles, novas formações acusadas de ajudar a legitimar a votação -, competiram contra o partido de Hun Sen. A principal força da oposição, o Partido para a Salvação Nacional do Camboja (CNRP) foi dissolvido no final de 2017 por decisão judicial e seu líder, Kem Sokha, está desde então na prisão. 

Além de eliminar seu principal concorrente, Hun Sen também reprimiu a mídia independente e tentou convencer os eleitores que a oposição agia ilegalmente. "Tomamos ações legais para eliminar os traidores que tentaram derrubar o governo", disse recentemente o premiê à uma multidão de simpatizantes.

Tanto Washington como Bruxelas retiraram seu apoio à organização dessas eleições, ressaltando a falta de credibilidade do pleito. Já defensores dos direitos humanos e a oposição as descreveram como um sério revés para o processo democrático no Camboja.

Todas as atenções voltadas para a participação

Com um resultado já conhecido de antemão, o foco se concentra na taxa de participação. Na manhã deste domingo, as ruas da capital Phnom Penh estavam mais vazias do que o normal. Os eleitores que decidiram ir votar não demonstravam entusiasmo.

Contrariamente às últimas eleições, em 2013, tudo foi feito para incentivar os cambojanos a votarem. A maioria das empresas chegou a dispensar os funcionários para que eles participassem do pleito. 

Do exílio, a oposição fez campanha para que a população boicotasse a eleição, recomendação seguida por muitos. Vários abstencionistas cambojanos temem, no entanto, ser vítimas de represálias e ter até mesmo problemas no futuro para renovar ou obter documentos, por exemplo. 

Antes mesmo da apuração, o partido de Hun Sen previa uma grande vitória. Mas entre os eleitores decepcionados e o apelo pelo boicote, a taxa de participação deve atrair todos os holofotes. 

Seis eleições 

O Camboja já realizou seis eleições desde 1993, depois que o país emergiu de várias décadas de guerra civil.

Hun Sen se apresentou como o salvador da pátria após os estragos do regime do Khmer Vermelho, embora tenha sido membro deste grupo ultramaoísta (1975-1979), que matou um quarto da população do país.

Mas a indignação com a corrupção generalizada entre a população jovem, com aspirações de modernidade e pouca memória dos horrores praticados pelo Khmer, colocou em risco a longevidade do CPP nas eleições anteriores.

Os votos dos jovens ajudaram a oposição a obter mais de 44% dos votos nas eleições de 2013 e uma porcentagem similar nas eleições locais do ano passado. Diante deste novo cenário, a Suprema Corte do Camboja dissolveu o partido opositor em novembro de 2017 e abriu o caminho para a clara vitória de Hun Sen neste domingo.

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