Negociadores da COP 21 acompanharão entusiasmo dos líderes políticos?
As disparidades entre a promessa política e as possibilidades reais do acordo sobre o clima que pode derivar da COP 21 estampam as capas dos principais jornais franceses desta terça-feira. Le Figaro traz um título cujas reticências permitem presumir o grau da desconfiança - "Clima: as melhores intenções do mundo..."
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Para o diário conservador, os mais de 150 chefes de Estado e governo que abriram ontem a conferência do clima de Paris podem fazer belos discursos e mesmo encontrar um acordo ambicioso, mas caberá à iniciativa privada a verdadeira tomada de consciência sobre a necessidade de reorientar a atividade econômica em direção a um crescimento ecorresponsável.
"Os tratados e leis permitem agir coletivamente, de forma que os esforços consentidos aqui não sejam arruinados pela negligência tolerada em outros lugares", avalia Le Figaro em editorial. "Mas se os Estados possuem o freio, o motor pertence à iniciativa privada. Assim como a revolução industrial acelerou a poluição do planeta, a solução virá, sem dúvida da inovação tecnológica".
Bilionários pelo clima
Por isso, o jornal acredita que a iniciativa anunciada ontem por Bill Gates de criar um fundo de investimento com outros 25 bilionários para desenvolver tecnologia limpa de baixo custo traz mais esperança do que "as palavras de 10 mil tecnocratas". O diário econômico Les Echos também destaca a ideia do fundador da Microsoft de que os países em desenvolvimento estão preparados para a transição ecológica, desde que recebam o apoio dos ricos.
Os vários bilhões de dólares reunidos no fundo por gente como o pai do Facebook, Mark Zuckerberg, e o da Amazon, Jeff Bezos, servirão para financiar start-ups que buscam maneiras de reduzir as emissões de CO2 nos mais diversos setores para mudar um certo preconceito empresarial de que a ecologia não é lucrativa. O presidente Barack Obama, que estava ao lado de Gates durante o anúncio da iniciativa, lembrou que em alguns estados americanos, as energias limpas já são mais rentáveis que os hidrocarburetos.
Mas o premiê indiano Narendra Modi, também participante da mesa, lembrou que a transição não pode ser regulada só pelas leis do mercado e que possibilitar a transição é um compromisso global. E é aí que mora o problema, como observa o Libération: as populações do sul querem sair da miséria e as do norte não querem empobrecer. Se, em tese, a maior parte dos esforços deveria caber aos ricos, na prática, "os consumidores de gasolina e eletricidade são eleitores. Vai ser preciso convencê-los de que abandonar as energias fósseis tem um custo".
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