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Linha Direta

Escassez na Venezuela provoca saques e protestos

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Com um panorama de crise nunca visto, a Venezuela pode vive um momento crítico O país enfrenta situações de saques diante de uma escassez generalizada. Falta quase tudo, exceto angústia e incerteza.

Cena de saques a supermercado na cidade San Felix, na Venezuela, em 31 de julho de 2015.
Cena de saques a supermercado na cidade San Felix, na Venezuela, em 31 de julho de 2015. REUTERS/Wilmer Gonzalez
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Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas

Nesta terça-feira (11), durante o programa semanal “Em Contato com Maduro”, o presidente Nicolás Maduro afirmou ter provas da participação dos Estados Unidos e do partido venezuelano Primeiro Justiça nos atos de pilhagem na cidade de San Félix, no interior do país. De acordo com Maduro, os atos de vandalismo fazem parte do “Plano Abutre” (Plan Buitre) que tem a finalidade de desestabilizar a Venezuela. Segundo o presidente, um dos orquestradores fugiu para a Colômbia, acusação que volta a crispar as relações da Venezuela com o vizinho, com quem vive às rusgas, e com os Estados Unidos, país com o qual ensaia uma reaproximação após anos de divergências. Maduro afirmou que vai mostrar as provas dos supostos criminosos do saque em San Félix para o canal diplomático que tem com o governo norte-americano. Por sua vez, Washington desmentiu qualquer participação em distúrbios aqui. De acordo com moradores de San Félix, os preços abusivos do transporte público e a angústia da população em conseguir alimentos escassos motivaram os atos de vandalismo.

Cotidiano difícil

A população anda tensa aqui no país. Há um forte descontentamento com toda esta situação de negação, seja porque não há produtos, seja pelos preços que estão altíssimos, seja pelo agravamento da criminalidade no país. Tudo isso vem se refletindo no comportamento do venezuelano, antes brincalhão, mas agora com uma tendência à agressividade. Aqui ninguém sabe como será o dia de amanhã, todos vivem em suspense. O caso de San Félix não foi algo isolado. Desde o início do ano até agora já aconteceram 56 saques e 76 tentativas de pilhagem em todo o país, de acordo com o Observatório Venezuelano de Conflito Social. Para o ex-candidato presidencial Henrique Capriles Radonsky “a Venezuela está se aproximando de uma situação insustentável”. Diante de um quadro tão sombrio, não é raro ouvir por aqui o conselho para estocar alimentos não perecíveis.

Ações do governo

Em junho deste ano, o ministro da Alimentação Carlos Osório garantiu que em dois meses seria estabilizado o sortimento de produtos de primeira necessidade, o que até agora não aconteceu. Por este motivo a organização Transparência Venezuela acusa funcionários do Estado venezuelano de “não aceitar a responsabilidade e as conseqüências de suas decisões em matéria de políticas públicas, acentuando tudo a níveis críticos no último ano e com pouca ou nenhum esperança de resolução a curto prazo”. Esta semana o presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello, fez um chamado para que fossem retirados das filas todos os “bachaqueros”, como são chamados os revendedores de alimentos e de produtos básicos. No entanto, aqui em Caracas, na entrada de Petare, a maior favela da América do Sul, é possível ver nas barraquinhas de “bachaqueros” produtos que há muito tempo não são vistos nos supermercados, porém, com um preço bastante superior ao determinado pelo governo.

Futuro incerto

De acordo com a análise “Venezuela: um desastre evitável”, apresentado pela organização Internacional Crisis Group, a “crise ameaça se transformar em uma tragédia” na Venezuela porque para a “maioria dos venezuelanos hoje é impossível obter um mínimo de alimentos ou garantir a saúde. Entre os agravantes da situação do país estão a falta de remédios e de produtos hospitalares, a queda da produção, a pobreza e a fome, somados à falta de diálogo entre governo e oposição, a erosão da democracia, a queda dos preços do petróleo no mercado internacional”.

Para alguns analistas o país está à beira de uma crise humanitária. De acordo com a Câmara Farmacêutica da Venezuela, a falta de medicamentos tem levado pacientes em estado crítico a utilizar remédios para animais. Além disso, o Caracaço, o levante popular de 1989 que causou a morte de centenas de pessoas sobretudo em Caracas, ainda é bastante nítido na memória dos venezuelanos.

 

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