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Reportagem

Com ou sem Blatter, Fifa precisa ser reformada

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A prisão de sete cartolas da Fifa a apenas dois dias da votação para eleger o próximo presidente da entidade coloca a reforma da Federação Internacional de Futebol no topo das prioridades. A exigência de mais transparência e de uma mudança no sistema de votação são os pontos vistos como mais urgentes.

Sepp Blatter está no comando da Fifa há 17 anos.
Sepp Blatter está no comando da Fifa há 17 anos. REUTERS/Arnd Wiegmann
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Na configuração atual, cada país-membro tem direito a um voto. A reeleição de Joseph Blatter para um quinto mandato à frente da entidade só foi possível com o apoio dos países africanos e asiáticos, que mantiveram a escolha pelo dirigente, apesar dos escândalos de corrupção.

O jornalista e escritor português Luis Aguilar, autor de Jogada Ilegal, afirma que é fácil comprar os votos dos países mais pobres. “Muitas das federações, cerca de 100, não são ricas e dependem muito do dinheiro que vem da Fifa para conseguirem concluir os seus projetos. No dia seguinte à apresentação das candidaturas para essas eleições, o Blatter contra-atacou, anunciando que doaria US$ 300 mil a cada uma das 209 federações, um dinheiro que, oficialmente, era para ajudas de custo para os jogos de qualificação do Mundial de 2018. O timing escolhido diz tudo”, explica.

Aguilar considera que os países onde há uma tradição mais antiga de futebol devem ter mais peso na escolha do presidente da Fifa. “As 209 federações não podem ter todas direito a um voto, porque há federações que nem sequer têm campeonatos de futebol. Esses países não têm nada, e ainda assim, têm o mesmo poder de voto daqueles que alimentam a indústria do futebol, ou seja, os países da Uefa e da Conmembol, na América do Sul”, afirma. “Não quer dizer que os outros não possam ter votos. É evidente que sim – não defendo um modelo ditatorial. Mas os votos dos membros mais antigos poderiam ter mais peso do que os mais recentes, por exemplo.”

Permanência de Blatter é “péssimo sinal”

O economista Christophe Lepetit, do Centro de Direito e Economia do Esporte, na França, avalia que a reeleição de Blatter na presidência envia um “péssimo” sinal não só para os torcedores, como para os patrocinadores que investem neste mercado. “Está claro que hoje há uma necessidade de reforma de muitas coisas na Fifa, colocando o foco na transparência total no processo de votação e nos procedimentos de atribuição dos contratos de marketing e de direitos de transmissões. Espero que, mesmo se Blater continuar no cargo por mais quatro anos, as coisas mudem”, observa.

Corrupção no Brasil

No Brasil, Luiz Carlos Azenha é um dos autores de O Lado Sujo do Futebol, uma obra que expõe a corrupção do futebol brasileiro – um modelo que, segundo o jornalista, foi exportado para a Fifa. “O que aconteceu no Brasil foi que o João Avelange e o Ricardo Teixeira, que era genro dele, montaram uma blindagem em torno da CBF no Brasil. De um lado, eles afirmam que se trata de uma entidade de direito privado, de outro montaram uma bancada parlamentar, parcialmente financiada por eles, e se blindaram na Justiça, especialmente no Rio de Janeiro”, destaca. “Com isso, eles dominaram o futebol brasileiro e exportaram esse método para o mundo, com o Avelange na Fifa. Essa filosofia, de transformar o futebol em grande negócio internacional, permanece com o Blatter.”

Mais do que reformar o sistema de votação, para Azenha a urgência é resgatar os valores do futebol, que, na opinião do autor, se transformou em um negócio que visa o lucro. Ele está pessimista sobre as mudanças na instituição se Blatter continuar no comando.

“Isso é terrível porque embora o Blatter tenha feito um discurso dizendo que é uma minoria dos cartolas que estão envolvidos em corrupção, ele próprio é produto dessa mesma turma que está presa. Eles foram forjados com uma mesma ideia de que o futebol é um ente comercial que deve ser apropriado por um grupo, quase como uma monarquia, que usa o futebol especialmente para o enriquecimento pessoal”, lamenta o jornalista brasileiro.

Passado

Christophe Lepetit lembra que o Comitê Olímpico Internacional (COI) também já foi confrontado a uma situação-limite como a que a Fifa vive hoje. Foi na época da escolha de Salt Lake City como sede das Olimpíadas de Inverno de 2002. “O COI também foi obrigado a se reformar profundamente, principalmente porque sofreu muita pressão dos patrocinadores, depois de uma série de escândalos. Acho que a Fifa está diante de um verdadeiro parque de obras, mas estou convencido de que as coisas podem melhorar, à condição de os problemas serem enfrentados”, ressalta o economista francês. 

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