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O Mundo Agora

Iraque mostra que ser presidente dos Estados Unidos é “verdadeiro pesadelo”

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Não dá para entender como alguém possa querer ser presidente dos Estados Unidos. É um verdadeiro pesadelo ser o chefe da maior potência mundial. Não somente ele tem que tomar decisões fundamentais praticamente a cada instante, mas qualquer que seja a decisão ele será aplaudido por poucos e odiado por muitos. Barack Obama deve estar pensando em tudo isso quando ele olha para a situação no Iraque e no Oriente Médio.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que as ameaças de militantes inspirados na al-Qaida no território do Iraque podem se alastrar.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que as ameaças de militantes inspirados na al-Qaida no território do Iraque podem se alastrar. REUTERS/Kevin Lamarque
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Presidente eleito para trazer de volta para casa as tropas americanas, ele agora é acusado de “banana” por não ter peito para intervir militarmente a fim de impedir a implosão geral da região inteira. E a verdade é que por mais cauteloso que ele seja, não dá para ficar em cima do muro quando um grupo islâmico sunita ainda mais sanguinário e radical do que a Al Qaeda está simplesmente conquistando boa parte do Leste da Síria e do norte do Iraque. O agora famoso Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Da’esh em árabe), está até ameaçando Bagdá.

O Iraque – aliás, a Síria também –, para todos os efeitos, está em vias de desaparecimento como estado nacional. As fronteiras entre os dois países vizinhos foram apagadas pelos militantes islâmicos. A velha ordem regional definida depois da Primeira Guerra Mundial em 1919 está simplesmente se desintegrando.

Os dirigentes da região autônoma curda no Iraque, aproveitaram a ofensiva do Da’esh para conquistar a cidade de Kirkuk, a “Jerusalém curda” que controla imensas reservas de petróleo. Pela primeira vez na história os curdos estão construindo um Estado nacional de verdade. E para não ter problemas com o poderoso vizinho turco, angustiado com a grande minoria curda interna, o governo do Curdistão assina contratos comerciais com Âncara e vem encorajando a população curda na Turquia a votar a favor do primeiro-ministro Erdogan.

Estado terrorista

Esse rico pedaço do Iraque não vai aceitar receber ordens de Bagdá. Na Síria, depois de uma eleição presidencial fajuta, o presidente Bachar Al-Assad só controla, mais ou menos, uma pequena faixa litoral e interna que vai de Lattaquié a Damasco. Todo o resto está em mãos rebeldes.

Pior ainda, o Da’esh agora está tomando conta não só da parte oriental do país mas também de todas as regiões sunitas iraquianas, tentando criar um grande estado terrorista, que aliás já está ameaçando as fronteiras da Jordânia vizinha. Quanto ao centro e o sul do Iraque, onde vive a maioria xiita, eles também estão se dividindo entre os partidários do primeiro-ministro autoritário Nuri Al-Maliki e o líder mais radical Moqtada Sadr que comanda poderosas milícias armadas.

Na verdade, a incapacidade dos Estados Unidos e dos europeus em ajudar a resistência síria não-extremista, junto com o cinismo de Vladimir Putin e do Irã xiita que apoiam o regime de al-Assad, abriram uma auto-estrada política para os grupos sunitas mais malucos. E agora não tem jeito: a guerra civil síria passou a fronteira e o Iraque vai afundar na sua própria guerra civil.

Impasse

Obama, é claro, não está com a mínima vontade de por o dedo nessa cumbuca. Mas também não pode deixar a região inteira explodir com a constituição de uma Estado terrorista que pode ameaçar a Europa, a África e os Estados Unidos e ao lado do qual a Al-Qaeda parece um bando de pacíficos democratas. Então o que fazer?

Por enquanto, Washington está mandando uns 300 “conselheiros” militares para tentar impedir a queda de Bagdá, mas também está insistindo para que Maliki constitua um governo de unidade nacional em vez de continuar humilhando e excluindo os líderes e populações sunitas que agora estão se bandeando para o Da’esh. O paradoxo é que os americanos precisam do Irã para pressionar o governo de Maliki e que os iranianos precisam dos americanos para enfrentar os sunitas radicais. Mas os grandes países sunitas da região, principalmente a Arábia Saudita, inimiga figadal do Irã xiita, não acha nenhuma graça nesse novo flerte entre Washington com Teerã.

E a ofensiva do Da’esh, que recebeu alguma ajuda de ricos sauditas, também serve para enfraquecer o regime pró-iraniano de Bagdá e jogar um pouco de areia nessa nova aproximação entre iranianos e americanos. Como é que a Casa Branca vai conseguir segurar todas essas pontas, aliados e pseudo-aliados, sem se meter de novo num lamaçal militar médio-oriental? Ninguém sabe, mas para o chefe da única super-potência é “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

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