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França

Paris é a nova Calais, diz jornal francês sobre acampamentos de migrantes

O jornal Aujourd'hui en France desta sexta-feira (27) traz uma reportagem especial sobre a chegada à capital francesa de mais de 500 migrantes por semana. "Paris, a nova Calais", é a manchete de capa do diário, em referência à cidade do norte do país que teve seu acampamento de migrantes desmantelado em 2016.

A polícia francesa efetua operações frequentes de expulsão de migrantes, mas rapidamente eles voltam à zona norte de Paris, onde ficam vários organismos oficiais e ONGs que trabalham com a imigração.
A polícia francesa efetua operações frequentes de expulsão de migrantes, mas rapidamente eles voltam à zona norte de Paris, onde ficam vários organismos oficiais e ONGs que trabalham com a imigração. bertrand GUAY / AFP
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De acordo com o jornal, cerca de 3 mil migrantes estão instalados em barracas no norte da capital francesa. Eles vivem em condições extremamente precárias e insalubres, em acampamentos improvisados em terrenos desocupados, nas calçadas ou embaixo de viadutos.

A situação degradante dessas pessoas é retratada pelo Aujourd'hui en France apenas alguns dias após a aprovação pela Assembleia Nacional do projeto de lei Asilo e Imigração, que prevê endurecer ainda mais as condições de acolhimento na França.

O diário lembra que, desde 2015, 30 acampamentos de migrantes foram desmantelados em Paris, formados principalmente por homens africanos. Cerca de 60% deles são provenientes da Eritreia ou do Sudão. Já nos arredores do Canal Saint Martin, no 10° distrito da capital, a maioria dos moradores é de nacionalidade afegã.

"Minha vida não tem mais nenhum valor", conta um migrante

Aujourd'hui en France entrevistou migrantes do acampamento Millénaire, no 19° distrito de Paris. Ao jornal, eles relatam um cotidiano insalubre, de violências, medo e incertezas, após terem feito a travessia marítima para a Europa. Todos relatam a impossibilidade de voltar a seus países de origem, devido à pobreza extrema ou às perseguições políticas.

"Vivi tantas coisas que hoje tenho certeza que minha vida não tem mais nenhum valor", diz ao diário o queniano Inna, de 43 anos.  

Aujourd'hui en France também entrevistou a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que nesta sexta-feira realiza uma visita ao acampamento Millénaire. Ao jornal, ela pede um maior engajamento do Estado na crise dos migrantes e diz que a nova lei que o governo pretende adotar não vai resolver o problema.

"Sejamos lúcidos e vamos dizer a verdade aos franceses: a crise migratória que a Europa e a França atravessam será duradoura", ressalta a prefeita. Segundo ela, as prefeituras e associações fazem o que podem para ajudar os migrantes, distribuindo alimentos, água, instalando banheiros e mobilizando médicos. "Mas quem tem "as cartas na mão" é o Estado, recorda a prefeita, e "ele precisa ser responsabilizado pelo acolhimento dessas pessoas".

Problema insustentável para os moradores

Além disso, lembra o diário, a situação é também insustentável para os parisienses.

Aujourd'hui en France entrevistou Priscillia, uma mãe de família do 19° distrito. Ela conta que se revolta com o abandono dos migrantes pelas autoridades, mas também reclama do excesso de lixo, dos riscos sanitários, da tensão permanente e das brigas frequentes no acampamento em frente a seu prédio. Outro morador do bairro diz que o sofrimento dessas pessoas durante os meses do inverno era insuportável. Mesmo com os mutirões organizados pelos parisienses, a ajuda nunca era suficiente. "Nos sentimos impotentes", declara.

Novos dispositivos de acolhimento e hospedagem vêm sendo organizados, ressalta Aujourd'hui en France. Mas os esforços não estão à altura do problema. Segundo o jornal, o centro de acolhimento Porte de la Chapelle, no norte de Paris, registrou em 16 meses de existência a chegada de mais de 60 mil migrantes.

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