Acessar o conteúdo principal
Arte/Paris

Ataque contra obra "Tree", em forma de sex toy, pode ter motivação política

A polícia francesa ainda não tem suspeitos para o crime de vandalismo ocorrido no último sábado (18) contra a obra de arte Tree (Árvore), do artista americano Paul McCarthy, mas diversas manifestações demonstram que o trabalho irritou particularmente grupos de extrema direita. A enorme árvore de Natal inflável foi instalada na tradicional Place Vendôme e causou polêmica por apresentar o formato exato de um brinquedo sexual.

A obra de Paul McCarthy, antes de ser destruída, ao lado da coluna celebrando Napoleão.
A obra de Paul McCarthy, antes de ser destruída, ao lado da coluna celebrando Napoleão. Reuters/Charles Platiau
Publicidade

Observando fatos precedentes e posteriores ao ato de vandalismo – que colocou abaixo a obra fálica da Place Vendôme –, é possível montar um quebra-cabeça que levanta suspeita sobre grupos de extrema direita.

Primeira pista: um incidente pouco notado pela imprensa francesa ocorrido logo na abertura da instalação. Enquanto a estrutura de 24 metros de altura era erigida, um indivíduo se aproximou do artista, bateu em seu rosto e gritou “isso não é francês! Isso não tem nada a ver com este lugar!”, antes de sair correndo. A ação se aproxima do conteúdo nacionalista que costuma caracterizar os discursos de extrema direita.

Paul McCarthy e os próprios organizadores do Foire Internationale d'Art Contemporain, grande evento de arte de Paris no qual se inseria a obra, não desconfiaram que o atentado pudesse ser o prenúncio de algo maior, que viria a ocorrer na noite de sábado: o corte completo do fornecimento de ar da escultura.

"Paris humilhada!"

Segunda pista: as manifestações indignadas contra a obra espalhadas pela internet logo após a instalação de Tree – a maior parte delas proveniente de grupos de extrema direita ou de políticos de direita. O Pritemps Français, conhecido por reunir militantes católicos de direita, foi um dos primeiros a se indignar, com uma mensagem no Twitter: “Um plug anal gigante de 24 metros de altura acaba de ser instalado na Place Vendôme! A praça foi desfigurada! Paris foi humilhada!” postou o grupo. Logo depois do ataque, ainda na noite do sábado, novo twitte, dessa vez irônico: “Oups... O pinheiro de Natal da Place Vandôme explodiu? “.

A terceira e última pista é que não faltam precedentes para este tipo de ação: em 2011, por exemplo, a fotografia Piss Christ, de Andres Serrano, que representava Jesus Cristo e foi considerada blasfêmia por grupos católicos e de extrema direita, foi destruída a golpes de martelo em Avignon.

Obra é “crise da civilização”, diz crítico

Em artigo desta segunda-feira (20), o jornal de esquerda Libération questiona como grupos católicos tradicionais podem saber o que é um plug anal, “um objeto não tão conhecido da maioria das pessoas e que serve notadamente para preparar a sodomia”. O Libération pondera, no entanto, que o plug anal está presente até mesmo na obra de Molière, em sua comédia l’Ecole des Femmes, de 1662.

Já o Le Figaro, jornal de centro-direita, perguntou, em título garrafal: “Para que serve o pinheiro de Natal feio da Place Vendôme?”. O diário entrevistou o professor de arte Jean-Louis Harouel, autor do livro La grande Falsification, L'art Contemporain, para quem o trabalho de McCarthy não passa de uma “palhaçada”. Ao longo da entrevista, o especialista se recusou até mesmo a citar o nome do artista americano, preferindo chamá-lo de “o senhor que poluiu a Place Vendôme”. Segundo Harouel, a perda de sentido da arte “é sintomático de uma crise profunda da sociedade e da civilização”.

O episódio foi apenas a primeira polêmica da tradicional Fiac, a Feira de Arte Contemporânea de Paris, que será aberta na próxima quinta-feira (23).

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.