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Brasileiro integrou mesmo grupo da Resistência de casal homenageado no Panteão francês

A entrada do casal Missak e Mélinée Manouchian no Panteão francês, nesta quarta-feira (21) simboliza a homenagem da França a milhares de estrangeiros que se juntaram à Resistência. Entre esses resistentes de vários países, que lutaram contra a ocupação nazista, está o brasileiro Apolônio de Carvalho, conhecido como o “herói de três pátrias”.

Cartaz da exposição "Apolônio de Carvalho, a trajetória de um libertário", montada inicialmente em 2005 para o Ano do Brasil na França.
Cartaz da exposição "Apolônio de Carvalho, a trajetória de um libertário", montada inicialmente em 2005 para o Ano do Brasil na França. © Divulgação/Memorial da Resistência SP
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O armênio Missak Manouchian foi o mais famoso membro estrangeiro da Resistência na França. O poeta, sobrevivente do genocídio armênio perpetrado pelo Império Turco-Otomano entre 1915 e 1923, foi executado pelos alemães na França em 1944, aos 37 anos. Sua entrada no Panteão, ao lado da mulher, Mélinée, também combatente, homenageia toda a "resistência comunista e estrangeira", de acordo com o Palácio do Eliseu.

Missak e Mélinée Manouchian serão os primeiros combatentes da Resistência estrangeiros e comunistas a entrarem no Panteão, honra máxima na França. Essa homenagem ressalta “o papel fundamental dos resistentes comunistas que, fugindo do fascismo ou do nazismo, pegaram nas armas” para combater as forças alemãs que ocuparam a França durante a Segunda Guerra Mundial, observa o historiador francês Denis Peschanski, em entrevista ao Le Monde.

Herói de três pátrias

O casal Manouchian integrava uma das unidades comunistas dos FTP-MOI (Franco-atiradores e Partidários – Mão de Obra Imigrante, em tradução livre). Essas unidades eram formadas, em sua maioria, por judeus do leste europeu, republicanos espanhóis, italianos antifascistas, armênios e pelo menos um brasileiro, Apolônio de Carvalho.

Cartaz da exposição "Apolônio de Carvalho, a trajetória de um libertário".
Cartaz da exposição "Apolônio de Carvalho, a trajetória de um libertário". © Divulgação/Memorial da Resistência SP

Segundo Peschanski, as FTP-MOI reuniam "jovens entre 17 e 22 anos", nascidos em famílias muito politizadas, e uma geração mais velha, na faixa dos 30 anos. É deste segundo grupo, com experiência na clandestinidade ou da guerra na Espanha, que faz parte Apolônio de Carvalho.

O combatente brasileiro nasceu em Corumbá, em 1912. Nos anos 1930, ele foi expulso do Exército brasileiro e preso pelo governo Vargas por ter participado da Intentona Comunista. Ao ser libertado, foi voluntário nas Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola, combatendo o fascismo. Em 1939, atravessou a fronteira e integrou as forças da Resistência no sul da França. Em Marselha, ele conhece a jovem resistente francesa Renée, que será sua companheira por toda a vida.

Apolônio de Carvalho participou da libertação das cidades de Carmaux e Albi em 1944. O biógrafo dele na França, Alain Viguier, informa que o codinome do brasileiro na Resistência era “Edmond”. No final da guerra, em Paris, ele recebeu as condecorações francesas Legião de Honra e Cruz da Guerra e a medalha da Resistência. “Pela primeira vez, desfrutei da vitória de um povo”, descreveu o brasileiro em sua autobiografia “Vale a pena sonhar” (Rocco, 1997).

Apolônio voltou ao Brasil, onde continuou militando. Nos anos 1960, foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), lutou contra a Ditadura Militar, foi preso, torturado e exilado na França. Com a Anistia, foi um dos primeiros a retornar ao Brasil e participou da fundação do PT. O veterano combatente morreu em 2005 no Rio de Janeiro e entrou para a história como o “herói de três pátrias”.

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