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Jornal francês destaca seca histórica no rio Negro, que "castiga as populações ribeirinhas"

O jornal Le Monde desta terça-feira (24) traz uma reportagem sobre a seca histórica no rio Negro, na Amazônia, que "deixa a vida em suspenso", diz o diário. Esse, que é um dos principais afluentes do rio Amazonas, atingiu seu nível mais baixo em 121 anos.

Um menino caminha por uma área seca do rio Negro perto de Manaus, no estado do Amazonas, Brasil, 16 de outubro de 2023.
Um menino caminha por uma área seca do rio Negro perto de Manaus, no estado do Amazonas, Brasil, 16 de outubro de 2023. AP - Edmar Barros
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A repórter Anne-Dominique Correa foi enviada pelo Le Monde a Manaus onde, segundo ela, a seca do rio Negro "resultou surgimento a uma longa praia de areia amarela onde se acumula lixo deixado pelo recuo das águas" no porto da capital amazonense. Em entrevista ao diário, o marinheiro Dhion Clyve explica que a baixa do nível das águas é tamanha que os navios chegam a colidir contra pedras ou tem a passagem obstruída pela lama.

A situação no local se degrada desde o mês de junho quando o fenômeno El Niño provocou uma diminuição das chuvas e o aquecimento do norte do oceano Atlântico. Segundo o meteorologista Renato Senna, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o nível do rio Negro chegou a um nível "alarmante" baixando 10 centímetros por dia, em média.

Le Monde alerta que o governo do Amazonas colocou 59 municípios em estado de emergência e cerca de 633 mil pessoas são afetadas pela seca. Segundo a prefeitura de Manaus, 54 comunidades ribeirinhas estão isoladas. O nível das águas é tão baixo que moradores são obrigados a descer das embarcações e fazer o trajeto entre algumas localidades a pé, caminhando na lama. 

A situação suscita grandes problemas à região, como dificuldades do transporte de mercadorias, na ida das crianças às escolas, à pesca e ao trânsito de viajantes; em algumas localidades 70% da renda vem do turismo. "No final de setembro, milhares de peixes e botos foram encontrados mortos nas margens do rio Tefé, a 520 quilômetros de Manaus, provavelmente devido ao aumento de temperatura das águas", diz a reportagem. 

Incêndios florestais

O problema da seca é agravado pelos incêndios florestais. Segundo a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, as queimadas, que tiveram um aumento de 154%  em relação ao ano passado, são de origem criminosa. "Agricultores incendeiam terras para desmatar e criar áreas de criação de animais ou plantar novas culturas", ressalta a matéria, lembrando que no início de outubro Manaus foi classificada como uma das capitais mais tóxicas do mundo, segundo o ranking da World Air Quality Index. 

Diante da emergência, o governo do Amazonas iniciou há poucos dias duas operações de dragagem nos rios Solimões e Madeira. A defesa civil também mobilizou cerca de três mil funcionários para distribuir alimentos a cerca de seis mil famílias afetadas pela seca. 

Le Monde questiona quanto tempo a Amazônia conseguirá aguentar. Desde meados de outubro, chuvas, ainda que escassas, voltaram à região, ajudando bombeiros a controlar os incêndios florestais e contribuindo para limpar o ar. No entanto, as precipitações não resultaram em nenhuma melhora da seca e "todos os dias, o nível do rio Negro continua a diminuir", conclui o jornal. 

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