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Paris 2024: presença de membros das repressões síria e iraniana em Comitê Olímpico gera controvérsia

A presença de membros das forças de repressão dos regimes sírio e iraniano na capital francesa para participar dos preparativos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 lançou o debate sobre uma questão espinhosa: onde acaba o esporte e começa a geopolítica? O tema já começa a causar constrangimentos para os organizadores antes mesmo do início do evento.

Entrada da sede da organização dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, em Saint-Denis, no sábado, 13 de agosto de 2023.
Entrada da sede da organização dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, em Saint-Denis, no sábado, 13 de agosto de 2023. © Michel Euler / AP
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A foto de um homem moreno usando uma camiseta branca e um blazer, em Paris, posando diante da Torre Eiffel, gerou polêmica na Internet. Na capital francesa para participar das reuniões de preparação de Paris 2024, Omar Al-Aroub é um dos representantes do Comitê Paralímpico sírio. No entanto, o homem também foi reconhecido por internautas sírios como chefe adjunto dos batalhões Baas.

“Esta pessoa é o chefe adjunto da divisão de um grupo paramilitar que apoiou o Exército contra a população síria”, confirmou Thomas Pierret, diretor de pesquisa no Instituto de Estudos sobre o Mundo Árabe e Muçulmano (Iremam).

Segundo testemunhos próximos de Al-Aroub ouvidos pelo Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão, ele ordenou aos responsáveis de residências de estudantes que jogassem pela janela dos prédios todos os opositores do regime de Bashar Al-Assad.

“Os paramilitares se transformaram em verdadeiros pesos para o regime. Alguns criaram pequenos impérios mafiosos. Desde 2018, quando o regime realmente restabeleceu seu controle sobre uma grande parte do território, com o apoio da Rússia, houve um esforço para reduzir o poder dos paramilitares”, explica o especialista. “Alguns foram presos, outros se reorientaram para uma via civil e obtiveram alguns tipos de compensações, por exemplo, conseguindo um cargo de deputado ou, neste caso, funções no Comitê Olímpico sírio”, completa.

Repressão iraniana

Outro participante polêmico da reunião de preparação das Olimpíadas de Paris também foi identificado por defensores dos direitos humanos: Ghafour Kargari, militar e ex-comandante da Força Al-Qods, a elite dos Guardiões da Revolução do Irã. Atualmente ele ocupa o mesmo cargo que Al-Aroub, mas no Comitê iraniano. Sua presença no território francês levou duas ONGs do Irã a apresentarem queixa na Justiça francesa por tortura.

“Nós recorremos à Promotoria Nacional contra o terrorismo por crime contra a humanidade. Esperamos que a Justiça Francesa tome as medidas necessárias. Ele pôde voltar (para o Irã), mas acho que vai pensar duas vezes antes de voltar à França”, acredita o advogado das vítimas, Emmanuel Daoud.

“Não é imaginável que um homem que cometeu atos de terrorismo, ou que deu instruções para que fossem cometidos, e que faz parte dos instrumentos de repressão iraniana possa passear tranquilamente na França por ocasião da preparação dos Jogos Olímpicos de Paris”, disse o advogado. “Os Jogos Olímpicos são, como vocês sabem, tradicionalmente associados à paz e à segurança”, ressaltou.

O CIO não quer interferir

A presença dos dois homens na França sinaliza que talvez eles não sejam os únicos participantes controvertidos. “O Comitê Olímpico Internacional tenta fazer o menos possível de política e ingerência”, explica o analista em geopolítica do esporte, Kévin Veyssière. “Existem 206 comitês nacionais. Para evitar este tipo de situação, seria necessário a criação de uma política coletiva para que o Comitê Internacional Olímpico domine o tema. Mas não é o objetivo do COI”, diz.

O mesmo Comitê, no entanto, baniu os atletas russos e bielorrussos das competições em fevereiro de 2022, logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“É necessário voltar ao contexto da época”, relativiza Veyssière. “Existia o temor de uma possível Terceira Guerra Mundial. E o COI, como a maioria das organizações esportivas internacionais, é mais voltado para os problemas ocidentais. Finalmente, mais de um ano depois do começo do conflito, eles tentam voltar a uma posição mais apolítica. Há uma tentativa de reintegração de atletas russos e bielorrussos com condições drásticas”, diz.

O Ministério das Relações Exteriores francês declarou, no começo de setembro, que a França é apenas o país anfitrião e que “as delegações convidadas são designadas pelos Comitês Internacionais Olímpico e Paralímpico”.

Já o Comitê de Organização de Paris 2024 afirma que não pode interferir na composição dos comitês nacionais convidados pelos Comitês Internacionais Olímpicos e Paralímpicos. “Estamos falando de condições de entrada no território. Nós os convidamos a entrar em contato com as autoridades competentes”, acrescenta jogando novamente a responsabilidade para o Ministério de Relações Exteriores.  

A RFI entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores francês e o dos Esportes para saber que medidas seriam tomadas agora que as identidades dos dois homens foram reveladas e expostas na mídia, mas não obteve resposta.

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