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França: jovem morre por bala perdida em Marselha e governo alerta para aumento da violência

Uma jovem de 24 anos morreu nesta terça-feira (12) após ter sido atingida por uma bala perdida, em sua casa, em Marselha, no sul da França. A violência na cidade - onde mais de 40 pessoas morreram desde janeiro deste ano - preocupa o governo francês. 

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, foi a Marselha para inaugurar uma nova sede da Unidade de elite da polícia (RAIS), em 12 de setembro de 2023.
O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, foi a Marselha para inaugurar uma nova sede da Unidade de elite da polícia (RAIS), em 12 de setembro de 2023. © AFP - NICOLAS TUCAT
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O tiro era proveniente, de acordo com a polícia, da rajada de uma metralhadora kalachnikov usada durante um acerto de contas entre grupos rivais em um ponto de venda de drogas. Uma investigação será aberta por assassinato e tentativa de assassinato em grupo organizado e formação de quadrilha. 

A jovem se encontrava em estado de morte cerebral desde a noite de domingo (9) quando foi atingida na cabeça, em seu apartamento, no terceiro andar de um edifício no bairro de Saint-Thys, região sudeste de Marselha. 

"A morte desta jovem nos comove", reagiu o ministro do Interior francês Gérald Darmanin, em visita nesta terça-feira à Marselha. "Sem dúvida, trata-se de uma vítima colateral de um acerto de contas ou de conquista ou reconquista de um ponto de drogas em um bairro que não é o mais violento da cidade", acrescentou o ministro.

De acordo com o Ministério Público de Marselha, 43 pessoas morreram e 109 ficaram feridas pela violência ligada ao narcotráfico na cidade francesa desde o começo de 2023. Um recorde que preocupa o governo francês a poucos dias da visita do papa Francisco, que estará na cidade nos dias 22 e 23 de setembro.

Grande número de grupos

O ministério do Interior fez uma cartografia do crime organizado que mostrou que existem mais de 100 pontos de tráfico em Marselha, a maioria nas chamadas "cités", bairros empobrecidos, maioritariamente de habitações sociais.

"Na França não há uma organização extensa que controla, como um monopólio, o tráfico de drogas. Existe um grande número de grupos que travam uma batalha feroz entre si", disse em entrevista à RFI Michel Gandilhon, autor do livro Drugstore : drogues illicites et trafics en France (Drugstore: drogas ilegais e tráficos na França, em tradução livre).  

"Sabemos que a maioria dos chefes não vive mais nas cités, mas se instalaram na Espanha, que se transformou em um mercado muito importante da resina de canabis produzida no Marrocos, ou estão na Argélia, em Dubai", diz.

De acordo com o autor, o tráfico de resina de cannabis se instalou nas cités no início dos anos 1980. Os grupos de tráfico foram se profissionalizando a medida que a extensão do mercado de drogas e a demanda aumentavam. "Os grupos se profissionalizaram, se sofisticaram e agora se caracterizam por uma divisão do trabalho. Reúnem ao mesmo tempo os chefes, que eu chamo de "burguesia do tráfico", fora do território, e depois vários outros pequenos trabalhadores encontrados nas cités, que são recrutados como olheiros, traficantes, preparadores, isso é, toda uma cadeia econômica que foi criada e que gera atualmente em todo o território francês milhões de euros". 

Cocaína e aumento da extensão do tráfico

Gandilhon explica que a resina de cannabis continua no centro do comércio, mas há aproximadamente 10 anos esses grupos acrescentaram ao tráfico a cocaína, cujo mercado se desenvolve muito na França. Acredita-se que o faturamento com esta droga dobrou entre 2010 e 2017. "É uma substância muito interessante para os traficantes porque permite de obter lucros maiores que com a resina de cannabis, cuja concorrência é grande para os pontos de venda", diz o autor.

Este poderia ser o motivo principal dos acertos de contas entre grupos. "Mas existem também lógicas de vingança, isso é, os grupos se vingam um do outro", afirma. 

Em 2010, um acerto de contas por vingança entre dois grupos que disputavam o tráfico em um bairro de Marselha deixou quase 20 mortos. 

Apesar de serem fenômenos conhecidos, o que chama a atenção nos casos de violência, além da intensidade e do número de mortos, é que os crimes começam a atingir novos pontos da cidade. 

Gandilhon diz que o fenômeno não está restrito apenas a Marselha, mas outras cidades de médio porte são cada vez mais palco da violência. 

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