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Empresa francesa pode ter fornecido tecnologia estratégica para China e Rússia, revela jornal

Quatro pessoas - dois chineses e dois franceses, foram indiciados em março pela Justiça francesa, suspeitos de revelar segredos industriais à Rússia e à China. Em plena guerra entre russos e ucranianos, os dois países podem ter utilizado a tecnologia estratégica francesa de semicondutores para equipar suas Forças Armadas. O caso até então confidencial foi revelado apenas nesta quarta-feira (26) pelo jornal francês Le Parisien

Os dois países podem ter utilizado a tecnologia estratégica francesa de semicondutores para equipar suas Forças Armadas
Os dois países podem ter utilizado a tecnologia estratégica francesa de semicondutores para equipar suas Forças Armadas © AFP
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O processo judicial envolve a empresa Ommic, situada na região parisiense, que fabrica microchips usados em praticamente todos os objetos conectados, para as indústrias de telecomunicação e espacial. 

Os detalhes da fabricação desta tecnologia inovadora é um segredo que deveria ser mantido a sete chaves, e por isso ela é alvo de uma regulamentação específica. Usada em satélites, por exemplo, ela também é necessária em radares, sistemas de mísseis teleguiados ou caças.

Segundo a Justiça francesa, em 2018, o empresário chinês Ruodan Z. se tornou presidente da Ommic, após comprar 94% das cotas da empresa através de um fundo de investimento francês. Ele mora na China e está sendo procurado pela Justiça.

Em março de 2023, uma operação da polícia judiciária, realizada em caráter urgente, levou à prisão de nove funcionários franceses da Ommic. Entre les, Marc R., diretor-geral da empresa e um dos franceses indiciados em 24 de março. 

Braço direito de Ruodan Z, ele foi detido e ficou sob custódia, mas obteve a liberdade provisória, assim como os outros acusados. O executivo francês pode pegar uma pena de até 15 anos de prisão e pagar uma multa de até € 225 mil por "revelar a uma potência estrangeira documentos ou arquivos que atingem os interesses fundamentais da França."

O inquérito revelou como Marc R. "utilizou meios que possibilitaram a entrega de microchips potentes e informações sobre tecnologias sensíveis à China e à Rússia", a pedido do presidente da Ommic. 

"A verdade sobre esse caso não pode se basear em uma investigação complexa, que ainda está no início, nem em declarações fora de contexto", alegou o advogado de Marc R., Alexandre Silva. Ele denunciou a midiatização do processo, que ganhou, segundo ele, "mais importância do que deveria."

Tecnologia GaN

O caso se concentra no uso do nitreto de gálio, ou tecnologia GaN, um material semicondutor que permite a fabricação de componentes eletrônicos menores, mais potentes, rápidos e resistentes. Ele vem substituindo o silício na fabricação de transístores, dispositivos usados em chips de computador ou circuitos eletrônicos.

A tecnologia GaN é estratégica para a defesa e a soberania nacional, já que, há cinco anos, é a base dos equipamentos militares, sendo usada, por exemplo, para interceptar a comunicação e interferir na trajetória de mísseis.

De acordo com o Le Parisien, a Ommic realizou operações financeiras e logísticas "complexas", passando pela China, para "transferir material proibido para Moscou" e contornar o embargo comercial que atinge o país desde a invasão da Crimeia, em 2014. Os equipamentos, ressalta o Le Parisien, podem ter sido usados pelas Forças Armadas russas e chinesas.

Identificação adulterada

Em março, o serviço secreto francês prendeu outras cinco pessoas ligadas ao mesmo caso, que já vinha sendo investigado desde 2021. Na época, a polícia alfandegária confiscou 844 microchips fabricados pela empresa francesa que seriam exportados para a China. O problema é que a identificação do material foi adulterada nas fichas de controle, para evitar suspeitas.

Em 2022, um inquérito preliminar aberto pela Divisão Antiterrorista da França e o Escritório Central para a Repressão da Delinquência Financeira revelou suspeitas de que a empresa tenha realizado contrabando, utilizando dados falsificados de rastreamento para encaminhar os materiais, que exigem autorizações de exportação específicas. 

Além disso, não estão claras as condições em que foram feitas as negociações das ações da empresa, que permitiram à França a retomada de seu controle, antes da venda à companhia americana Macom.

Em um contexto de tensões internacionais, o caso ilustra a batalha industrial entre as potências, que acontece nos bastidores. "O risco de espionagem industrial é uma realidade", declarou nesta quinta-feira à rádio francesa Sud Radio Roland Lescure, ministro francês da Indústria. "A guerra econômica existe e a França tem meios de vencê-la"

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