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Morte de Nahel: meninas não estão na linha de frente dos protestos, mas filmam e divulgam atos nas redes sociais

Uma semana após o início dos protestos devido à morte do jovem Nahel pela polícia, a França faz um balanço das violências nesta quarta-feira (5). O jornal francês Le Parisien conversou com meninas que participaram das manifestações em várias cidades francesas. Elas ainda são minoria, mas têm o papel de registrar e divulgar os atos nas redes sociais.

Policial aborda garotas em uma rua de Paris durante protesto do último 2 de julho, após a morte do adolescente Nahel.
Policial aborda garotas em uma rua de Paris durante protesto do último 2 de julho, após a morte do adolescente Nahel. AFP - CHARLY TRIBALLEAU
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"Onde estão as meninas?", pergunta o jornal Le Parisien no título de uma reportagem especial, que se debruça sobre a participação das garotas nos atos. Segundo o texto, elas não são maioria, nem estão na linha de frente dos distúrbios. No entanto, nos vídeos divulgados na internet, são elas que estão atrás das câmeras, narrando e incentivando os rapazes.

De acordo com a polícia, elas são majoritariamente ausentes das violências diretas contra as forças de ordem. Mas entram em ação durante os saques de lojas, roubando produtos como roupas, maquiagens e aparelhos celulares.

Nas delegacias, elas dizem não ser as responsáveis por quebrar vitrines, mas alegam "seguir o movimento", afirma o jornal Le Parisien. "São adolescentes, escolarizadas, que nunca tiveram problemas antes com a Justiça", diz a advogada Domitille Risbourg ao diário. 

O sociólogo francês Fabien Truong, especialista na questão, afirma ao jornal Le Parisien que a baixa representação de garotas nos protestos não deve ser minimizada. "Elas parecem estar na segunda linha nos distúrbios, mais observando do que agindo", analisa. 

Segundo ele, a visibilidade das garotas nas violências urbanas vem aumentando desde 2005, quando a França foi palco de uma revolta após a morte de dois adolescentes perseguidos pela polícia. Incitadas pela curiosidade e o oportunismo, elas se dizem: "diante de tudo isso, por que não participar também?", avalia.

Abandono das periferias

O jornal Libération traz uma reportagem especial realizada junto a jovens que participaram das manifestações. "Na raiz dos distúrbios" é a manchete do diário que compila depoimentos demonstrando uma revolta contra a polícia francesa e o sentimento de abandono das populações das periferias. Um deles diz à reportagem: "É preciso que a gente queime tudo para que falem sobre nós. É normal isso?".

Segundo o Ministério do Interior, a média da idade dos jovens detidos entre 27 de junho e 2 de julho é 17 anos. Alguns deles têm 12 e 13 anos. Cerca de 60% não tinham nenhuma passagem pela polícia. 

Para os pesquisadores que estudam a questão, o perfil dos participantes dos atos é variado, entre os jovens que saíram às ruas em solidariedade a Nahel, morto pela polícia em 27 de junho, e aqueles que sentem uma profunda frustração por estarem à margem da sociedade. Quaisquer que sejam suas motivações, segundo Thierno Diallo, coordenador da associação Capables, em Montreuil, na periferia de Paris, o principal objetivo é sentir no controle da situação. "Ao se sentirem esmagados por todo um sistema, eles se dizem: 'agora somos nós que temos o poder'", afirma, ao jornal Libération

Balanço dos prejuízos

"A França trata as feridas e faz as contas" é manchete do jornal Le Figaro, que contabiliza os prejuízos de uma semana de manifestações violentas. Segundo um balanço realizado pelo diário, os danos materiais podem ultrapassar € 1 bilhão, "um valor superior aos estragos após os distúrbios de 2005 e a crise dos coletes amarelos", diz.

Até o momento, o país registrou cerca de 5.800 declarações de degradações, que devem aumentar nos próximos dias, indica Le Figaro. Uma das cidades mais atingidas pelas violências, Marselha, teve cerca de 400 comércios vandalizados, com um prejuízo de € 100 milhões aos comerciantes. Quase seis mil carros foram queimados. Da parte do Estado, o montante a ser desembolsado também será alto. Cerca de 1.100 prédios públicos e mais de 240 escolas foram alvo de incêndios. 

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