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Franceses endossam recurso à violência como arma de luta contra intransigência de Macron

A espiral de violência que toma conta dos protestos na França desde a aprovação "por decreto" da reforma previdenciária, que elevou a idade de aposentadoria para 64 anos associada a 43 anos de contribuições, já é considerada tão ou mais grave do que se viu durante o movimento dos coletes amarelos (2018-19). Pesquisas têm demonstrado que a maioria dos franceses julga legítimo o recurso à violência diante de um chefe de Estado que se recusa a instaurar um diálogo democrático com a população.

Policiais e manifestantes se enfrentaram durante proptesto ocorrido na noite de terça-feira, 21 de março de 2023, na praça da Repú0blica, em Paris.
Policiais e manifestantes se enfrentaram durante proptesto ocorrido na noite de terça-feira, 21 de março de 2023, na praça da Repú0blica, em Paris. © AP - Christophe Ena
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Em apenas cinco dias, 94 policiais ficaram feridos nas operações de dispersão de manifestações noturnas, a maioria delas espontâneas, formadas sem a convocação de centrais sindicais e grupos organizados. Agentes da polícia têm sido atingidos, mas também são acusados de usar uma força desproporcional contra manifestantes pacíficos.

Reportagens de TV e vídeos postados nas redes sociais mostram policiais batendo nos participantes de maneira aleatória, usando a intimidação como método de dissuasão. Em cinco dias, 855 manifestantes foram presos e alguns edifícios estatais sofreram tentativas de incêndio. Mas juízes e advogados apontaram arbitrariedades nessas detenções, pois a maioria das pessoas foram liberadas sem indiciamento.

Policiais feridos em confrontos com manifestantes nos últimos dias disseram ao ministro do Interior, Gérald Darmanin, que está cada vez mais difícil proteger a capital francesa de incêndios e depredações. O jornal Le Parisien acompanhou um encontro entre o ministro e agentes de um batalhão do 17.º distrito da capital na noite de terça-feira (21). 

As brigadas de repressão a atos violêntos (BRAV), e particularmente um grupo de policiais que circulam de motocicleta para dispersar com mais rapidez os protestos, têm sido atingidos por objetos lançados por opositores revoltados com a crise social e política. Um agente relatou ao ministro que um colega sofreu uma leve queimadura nos pulmões, depois de inalar o vapor de um coquetel molotov misturado com perfume. O policial que o acompanhava nessa patrulha sofre de um zumbido persistente nos ouvidos devido à detonação do explosivo caseiro.

Segundo policiais, a mobilização contra a reforma endureceu e está nitidamente mais violenta desde quinta-feira, 16 de março, quando o governo decidiu dispensar o voto dos deputados e adotar o projeto de lei baseado numa prerrogativa constitucional (artigo 49.3).

Capitão da polícia leva pedrada no maxilar

Na medida em que Macron se mantém inflexível, os mais exaltados consideram que o recurso à violência contra os representantes do Estado é uma arma legítima de combate à violência política do governo.

Uma pesquisa do escritório de consultoria Elabe para o canal BFMTV mostra que apenas 8% dos franceses ficaram satisfeitos com a forma como o governo conduziu a reforma; 68% continuam contra as medidas. Segundo o pesquisador Jerôme Fourquet, do IFOP, o ressentimento dos franceses com a atitude de menosprezo do presidente faz com que a maioria dos opositores à reforma endosse o recurso à violência para serem ouvidos.

Nessa queda de braço, policiais têm sido alvo de agressões de rara intensidade. Na noite de sexta-feira, um dos chefes operacionais das BRAV levou uma pedrada no rosto, na praça da Concórdia. Com 27 anos de atuação na polícia e 14 no patrulhamento de rua, este policial disse ao ministro do Interior que nunca tinha sido atacado com esta virulência.

Segundo o registro da reunião feito pelo Le Parisien, o oficial de polícia não acredita que a pedrada tenha sido direcionada particularmente contra ele. Mas como tinha levantado a viseira de seu capacete por alguns instantes, acabou sendo atingido no maxilar e perdeu dois dentes.

A hostilidade de uma parcela dos franceses com a polícia é resultado do histórico de abusos documentados por especialistas nas estratégias e métodos empregados pela corporação. Esta situação ficou patente durante o movimento dos coletes amarelos. 

Atualmente, diante do desprezo demonstrado pelo presidente Emmanuel Macron às críticas feitas contra seu projeto de reforma, muitos franceses dizem que a violência é a única arma de que dispõem para enfrentar um líder que consideram cada vez mais autoritário, desconectado do jogo democrático e dos anseios da população.

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