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Governo francês pode sofrer paralisia após aprovação da reforma da Previdência

A imprensa francesa avalia o futuro do mandato do presidente Emmanuel Macron após a votação apertada que endossou a reforma da Previdência. A primeira-ministra Élisabeth Borne se manteve no cargo, com a rejeição das duas moções de censura votadas na segunda-feira (20) na Assembleia de Deputados. "Mas a que preço?", questiona o jornal Libération em seu editorial nesta terça-feira (21).

Imprensa francesa discute o futuro do mandato do presidente Emmanuel Macron depois da votação apertada que manteve a reforma da Previdência.
Imprensa francesa discute o futuro do mandato do presidente Emmanuel Macron depois da votação apertada que manteve a reforma da Previdência. AP - Lewis Joly
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A batalha social está longe de terminar. As ruas estão pegando fogo, reporta o Libération, e os sindicatos de trabalhadores, que até agora conseguiram manter os protestos numa atmosfera pacífica, podem perder o controle sobre os manifestantes. Os opositores às medidas se sentem desprezados pelo governo e cada vez mais convencidos que só recorrendo à violência há uma chance do presidente recuar.

"A reforma das aposentadorias foi adotada, mas é impossível para Emmanuel Macron e Élisabeth Borne, que salvou sua pele por um fio – apenas nove votos –, ficarem felizes com isso", escreve o jornal progressista.

Le Monde afirma em chamada de capa que um movimento de opositores, que inclui o secretário-geral da CFDT, central sindical reformista contrária à elevação da idade da aposentadoria para 64 anos, está pedindo a Macron que não promulgue o projeto de lei.

A promulgação da reforma aguarda a avaliação do Conselho Constitucional, solicitado a se pronunciar sobre a legalidade do texto tanto pela primeira-ministra quanto por partidos de oposição. Ainda não há data para a publicação deste parecer.

Le Monde relata as dificuldades do governo, que tem 42 ministros e secretários de Estado, a maioria sem o menor carisma para defender a política do presidente da República, agora pressionado por uma revolta popular que pode escapar de controle.

Mercados reagiram sem entusiasmo

O diário econômico Les Echos mostra que os mercados reagiram sem entusiasmo à aprovação do texto por meio do artigo constitucional 49.3, que evitou a votação dos deputados. Durante a tramitação do projeto, Macron alegou que aumentar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos era essencial para garantir a sustentabilidade da dívida pública francesa, próxima de € 3 trilhões.

Porém, as manobras para abreviar a tramitação do projeto, denunciadas como antidemocráticas e contrárias à vontade da maioria da população, mostram que o governo dificilmente conseguirá costurar alianças na Assembleia para aprovar novas leis. Os investidores temem uma paralisia do país. 

Todos os jornais notam que os principais apoiadores do governo no Parlamento eram os 62 deputados da direita republicana, da legenda LR, mas 19 deles votaram pela queda do governo. Depois de enfraquecer a direita, socialistas, ecologistas e ter duas enormes bancadas de deputados de extrema direita e extrema esquerda na Assembleia, com quem o governo poderá contar? Esta é a grande interrogação.

Les Echos reporta que 250 parlamentares de oposição apresentaram um projeto de lei propondo a realização de um referendo de iniciativa compartilhada (RIP, na sigla em francês) visando a invalidação da reforma.

Esse mecanismo prevê nove meses de consulta popular, quando os franceses terão de responder se a idade mínima de aposentadoria pode ou não ultrapassar os 62 anos. Se 4,8 milhões de franceses, cerca de 10% dos eleitores, votarem pelo limite de 62 anos, o Parlamento deve acolher o resultado e votar a resolução num prazo de seis meses; caso os deputados não se manifestem, caberá ao chefe de Estado submeter a medida a um plebiscito.

Esperar a poeira baixar

Por enquanto, Macron sinalizou que vai esperar a poeira baixar sem fazer grandes mudanças. Ele não pretende dissolver o Parlamento e convocar novas eleições legislativas, como alguns analistas apontaram como a única saída para conter o descontentamento popular. Também não pretende convocar um plebiscito sobre a reforma. A substituição da primeira-ministra é a hipótese mais provável, mas não agora.

A duras penas, os franceses compreenderam que Macron detesta agir sob pressão. Nesta quarta-feira (22), ele dará uma entrevista a dois canais de TV às 13h no horário de Paris. Só então deve ficar mais clara a estratégia do presidente francês.

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