Mesquita de Paris acusa escritor Michel Houellebecq de 'incitação ao ódio' a muçulmanos
O reitor da principal mesquita da França anuncia que levará o escritor francês à Justiça por suas declarações em entrevista ao filósofo Michel Onfray. No diálogo, Michel Houellebecq prevê "atos de resistência" como um ataque do "Bataclan ao contrário" e afirma que os franceses querem que os muçulmanos "parem de roubá-los e agredi-los" ou "deixem o país".
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A Grande Mesquita de Paris, principal sede do culto muçulmano na França, anunciou na quarta-feira (28) que abrirá um processo contra o escritor Michel Houellebecq como resultado de suas "declarações muito sérias sobre os muçulmanos da França".
No comunicado, o reitor da mesquita, Chems-Eddine Hafiz, denuncia as falas "brutais" do romancista que aparecem no diálogo que manteve com o filósofo Michel Onfray na edição especial da revista Front populaire, editada por Onfray.
𝐂𝐎𝐌𝐌𝐔𝐍𝐈𝐐𝐔𝐄 | La Grande Mosquée de Paris porte plainte contre Michel Houellebecq pour les propos très graves qu’il a tenu au sujet des musulmans de France dans une récente interview écrite : pic.twitter.com/JS4NwLM2R8
— Grande Mosquée de Paris (@mosqueedeparis) December 28, 2022
A declaração, assinada por Hafiz, cita um trecho:
"Quando territórios inteiros estiverem sob controle islâmico, acho que atos de resistência acontecerão. Haverá ataques e tiroteios em mesquitas, em cafés frequentados por muçulmanos, em suma, um Bataclan ao contrário", referindo-se ao ataque terrorista de 13 de novembro de 2015 contra a sala de concertos de Paris.
A Grande Mesquita descreveu os comentários de Houellebecq como "inaceitáveis" e afirmou que o escritor deu a entender que os muçulmanos "não são franceses de verdade".
Ele escreveu que os comentários constituem "uma incitação ao ódio contra os muçulmanos" e "um apelo para rejeitar e excluir o componente muçulmano como um todo".
Houellebecq ganhou o Prêmio Goncourt, a maior honraria literária da França, em 2010.
O escritor não é avesso à controvérsia. Seu romance de ficção de 2015, "Submission" (Submissão), sobre a ascensão ao poder de um presidente islâmico na França, foi aclamado, mas também despertou preocupação por fomentar o sentimento antimuçulmano.
Incitação à discriminação
A declaração cita uma decisão recente do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (CEDH), que manteve a condenação do ex-candidato presidencial francês de extrema-direita Eric Zemmour por “incitar discriminação e ódio religioso” por comentários direcionados à comunidade muçulmana da França.
“O tribunal considerou que a interferência no direito à liberdade de expressão do requerente era necessária em uma sociedade democrática para proteger os direitos de outras pessoas que estavam em jogo”, escreveu a CEDH em um comunicado em 20 de dezembro.
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