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Após greve de fome de ativistas, governo francês propõe acolhimento de migrantes em Calais

Sob pressão, o governo francês anunciou nesta terça-feira (2) que vai propor um local para hospedar os migrantes que são frequentemente retirados de acampamentos em Calais, no norte da França. Três ativistas de direitos humanos realizam, há 23 dias, uma greve de fome para chamar atenção à causa.

Policiais patrulham região perto de um acampamento de migrantes em Calais, no norte da França em 14 de outubro de 2021.
Policiais patrulham região perto de um acampamento de migrantes em Calais, no norte da França em 14 de outubro de 2021. AP - Christophe Ena
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"Vamos sugerir sistematicamente um acolhimento, que será na região de Pas-de-Calais, mas não em Calais", afirmou o chefe do Escritório Francês da Imigração e Integração, Didier Leschi, designado como mediador da crise. Ele reconheceu que os desmantelamentos dos acampamentos informais, realizados cotidianamente, ocorrem sem que haja uma solução para o abrigo destas pessoas. Por isso, segundo ele, o governo deve abrir "várias centenas de vagas" de alojamento.

Leschi foi enviado a Calais para uma missão de negociação depois que o padre francês Philippe Demeestère, de 72 anos, e dois militantes, Anaïs Vogel et Ludovic Holbein, iniciaram uma greve de fome há 23 dias para pedir o fim dos desmantelamentos durante o inverno no Hemisfério Norte. Apesar de estar disposto a apresentar soluções, "o governo teme que 'a Selva' volte a se formar em Calais", diz o chefe do Escritório Francês da Imigração e Integração. 

O mediador faz referência ao gigantesco acampamento na cidade que, no auge da crise imigratória na Europa, chegou a contar com cerca de 10 mil pessoas vivendo em condições humanitárias caóticas, na esperança de conseguir atravessar o Canal da Mancha e chegar ao Reino Unido. Em outubro de 2016 o local foi destruído, mas voltou a ser ocupado no início deste ano. Outros acampamentos informais se constituíram pela cidade e arredores.

"Quase 40 mil migrantes chegaram à região", afirma Leschi. "O Estado não pode deixar se organizar uma nova base de viagens clandestinas à Inglaterra. Além disso, as pessoas arriscam suas vidas na travessia", alega. 

Negociações não evoluem

Depois das tentativas de negociação, os ativistas em greve de fome alegam que as conversas com o mediador não trazem resultados. Outras associações de apoio aos migrantes em Calais denunciam a situação insalubre na qual continuam vivendo os migrantes e a falta de humanidade no tratamento deles. Durante os desmantelamentos, muitos são impedidos até mesmo a ter acesso a seus pertences.

"É preciso deixar que as pessoas recuperem seus bens pessoais antes das operações", propõe Leschi. Ele promete que nenhuma evacuação "surpresa" acontecerá no local e que as pessoas terão um período de 45 minutos para reunir seus pertences. Segundo ele, essas propostas poderão entrar em vigor a partir da próxima semana. 

No entanto, os militantes exigem também uma "moratória" nos esvaziamentos durante o inverno no Hemisfério Norte e prometem continuar a greve de fome caso não sejam ouvidos. Na tentativa de mobilizar as autoridades, o padre Philippe Demeestère enviou uma carta aberta ao jornal francês La Voix du Nord em que denuncia as ações desumanas das forças de ordem no acampamento. 

"Vocês sabem que estão realizando um trabalho sujo, não é?", pergunta o religioso. Demeestère também pede "resistência" por parte dos policiais que trabalham nos desmantelamentos para "não perpetuar ainda mais essa barbárie". 

(RFI com informações da AFP)

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