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Leão e Palma de Ouro para filmes dirigidos por mulheres francesas mostram que indústria mudou

A imprensa francesa jubila nesta segunda-feira (13) com o Leão de Ouro conquistado pela cineasta Audrey Diwan, sábado (11), no Festival de Veneza, com o filme “L’Événement" ("O Evento", em português), um drama contundente sobre o aborto ilegal na década de 1960. Ela repetiu o sucesso de Julia Ducournau, Palma de Ouro em Cannes, em julho, com o longa "Titane" ("Titânio"). 

Fotomontagem com Audrey Diwan (à direita) que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e Julia Ducournau, Palma de Ouro em Cannes.
Fotomontagem com Audrey Diwan (à direita) que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e Julia Ducournau, Palma de Ouro em Cannes. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas/AP
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Duas mulheres, ambas francesas, recompensadas com o prêmio principal dos dois mais importantes festivais de cinema do mundo, em um intervalo de dois meses. No caso da franco-libanesa Audrey Diwan, este é apenas o seu segundo filme, e a consagração ainda aconteceu "debaixo do nariz" da neozeolandesa Jane Campion e do espanhol Pedro Almodovar, destaca o jornal Le Parisien.

Adaptado de um relato autobiográfico publicado em 2000 por Annie Ernaux, que acompanhou cada etapa do roteiro, o filme "L’Événement" narra o drama de um aborto clandestino que a escritora enfrentou quando era estudante, em 1963, muito tempo antes da legalização da prática na França, que só ocorreu em 1975.

A jovem atriz Anamaria Vartolomei encarna a protagonista, que corre contra o tempo após a descoberta da gravidez até encontrar a "fazedora de anjos" que aceitará praticar o aborto. Esse papel é interpretado com intensidade e precisão por Anna Mougladis, afirma o Libération, que tem algumas reservas em relação à leveza de outras passagens do filme. 

Diwan considera que a força de seu longa-metragem também reside nas cenas de desejo, de prazer sexual e de liberdade das mulheres, que eram totalmente reprimidas na época. Ela procurou não datar os acontecimentos, por acreditar que o tema ainda é extremamente atual, talvez menos na França do que em outras regiões do mundo. "É um direito tão frágil até hoje; não podemos considerar como algo adquirido", adverte a cineasta. Na exibição em Veneza, alguns homens saíram da sala durante a cena do aborto clandestino, filmado de forma crua.

Em entrevista ao site de notícias France Info, Diwan comenta o espaço conquistado pelas mulheres no cinema. "Tenho a sensação de que os tempos estão mudando, que a indústria cinematográfica tende a confiar nas mulheres, e é no início dessa história que ocorre a mudança. Quando deixamos as mulheres, que são mais numerosas, dirigir filmes, é provável que também se destaquem do outro lado do espectro", diz a franco-libanesa.

Ela conta que receber o Leão de Ouro das mãos do sul-coreano Bong Joon Ho, diretor de "Parasita", a deixou "maravilhada". Ela tentou controlar a emoção diante das câmeras, mas confessa não ter resistido nos bastidores. "Chorei quando Jane Campion (diretora de "O Piano"), uma cineasta tão importante, passou seu braço pelos meus ombros num abraço", revela. Antes de se tornar cineasta, Diwan estudou jornalismo e ciências políticas e trabalhou no mercado editorial.  

Cinema pós-comercial

Segundo o Libération, a recompensa tem significado num país (Itália) em que o acesso ao aborto é legal, desde 1978, mas continua sendo quase impossível pela pressão da Igreja Católica. "Juntamente com a última Palma de Ouro em Cannes de "Titane", ela aponta ainda outra coisa: a consolidação e o triunfo de um certo cinema francês que poderíamos designar de pós-comercial, cumprindo as condições de autoria, onde o explícito e o frontal reinam, tanto nos sentimentos quanto nos corpos", escreve o jornal. 

Em Cannes, “Titane” provocou polêmica pelos casos de mal-estar e crises nervosas que causou no público durante as projeções. O filme narra a história de Alexia, vivida por Agathe Rousselle, uma jovem dançarina que tem um implante de titânio instalado no crânio após um acidente de carro. O implante cria impulsos assassinos na jovem, que vai cruzar o caminho de um pai à procura do filho desaparecido dez anos antes.

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