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Refugiado afegão que trabalhou para talibãs é preso na França

Cinco cidadãos retirados do Afeganistão e que chegaram à França recentemente são suspeitos de ter ligação com os talibãs. Eles são monitorados pelo Ministério do Interior e um deles, identificado como Nangialay S., 26 anos, foi detido nesta terça-feira (24). Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, a detenção ocorreu depois de o afegão "deixar o local onde era obrigado a permanecer", de acordo com o protocolo estabelecido pelas autoridades. 

Famílias afegãs que trabalharam para a embaixada da França em Cabul aguardam voo para deixar o Afeganistão no aeroporto Hamid Karzai, na capital afegã.
Famílias afegãs que trabalharam para a embaixada da França em Cabul aguardam voo para deixar o Afeganistão no aeroporto Hamid Karzai, na capital afegã. AFP - SAJJAD HUSSAIN
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Os cinco homens estão isolados em um hotel na região parisiense, sob controle policial, onde cumprem a quarentena sanitária. Nangialay S. desembarcou na França no último fim de semana. Ele deixou o Afeganistão em 18 de agosto, passando pelos Emirados Árabes Unidos antes de chegar a Paris. Interrogado pelo serviço de imigração francês em Abu Dhabi, ele indicou ter sido o responsável de um posto de controle dos talibãs em Cabul. O jovem pôde continuar a viagem porque alegou que sua vida estava em perigo por ter ajudado a retirar pessoas da embaixada francesa na capital afegã. 

De acordo com o ministro do Interior, não houve falha no controle de pessoas evacuadas do Afeganistão. "Tivemos mais de 1.000 afegãos e uma centena de franceses transportados de Cabul para Abu Dhabi em poucas horas. Todos foram rastreados quando chegaram nos Emirados Árabes Unidos", disse Darmanin.  

Uma fonte da área de segurança afirma que pessoas "com más intenções" podem estar infiltradas entre os refugiados. O temor é que a Europa volte a enfrentar uma nova chegada de extremistas islâmicos, como aconteceu em 2015, quando o grupo Estado Islâmico se aproveitou da onda migratória deflagrada pela guerra na Síria para o envio de terroristas ao solo europeu.

Segundo o jornal Le Parisien, Nangialay S. foi evacuado do Afeganistão junto com quatro familiares. Ele admitiu ter ligações com os talibãs, indicando às autoridades francesas ter sido nomeado como o responsável de um posto de controle em Cabul, onde trabalhava armado para o movimento fundamentalista islâmico. 

A reportagem aponta que no dia da evacuação das pessoas que se encontravam na embaixada da França em Cabul, o rapaz teria fornecido uma ajuda importante aos militares franceses para levar cerca de 200 pessoas até o aeroporto. Temendo represálias do novo regime Talibã, ele alegou que esse apoio poderia colocar sua vida em risco.

Críticas da oposição

A solidariedade do governo francês com os cidadãos que fogem do Afeganistão gera críticas por parte da oposição. Segundo a populista Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Reunião Nacional, "o dever de acolhimento da França passa a segundo plano quando a segurança dos franceses está ameaçada". 

Dois pré-candidatos de direita à eleição presidencial de 2022 também se manifestaram. Xavier Bertrand, do partido Os Republicanos, pediu ao Executivo que explicasse aos franceses o que impede expulsar "em absoluta urgência" os cinco afegãos sob vigilância da polícia. “A lei deve se adequar às necessidades de nossa segurança. Não o contrário", tuitou Bertrand. A rival Valérie Pécresse, presidente da região de Île-de-France, também instou no Twitter o governo a expulsar "sem demora" os cinco afegãos se for comprovado que eles pertencem ao movimento Talibã.

Reunião do G7 expõe discordâncias com estratégia americana

A questão da ajuda a cidadãos afegãos será discutida nesta terça-feira durante o encontro entre os líderes do G7, reunidos sob iniciativa do Reino Unido, para dar uma resposta coordenada à crise humanitária. O governo britânico quer debater possíveis sanções aos talibãs, em caso de infração dos direitos humanos ou se eles estiverem acolhendo grupos terroristas no Afeganistão.

Outra questão a ser discutida é a permanência das forças americanas no país além do prazo estipulado de 31 de agosto para a finalização das operações de evacuação. No entanto, um porta-voz dos talibãs já adiantou que a permissão para que isso ocorra está descartada, e o governo britânico admite que uma extensão desse prazo é pouco provável. 

A retirada de milhares de estrangeiros e afegãos que correm o risco de sofrer represálias dos talibãs após a retirada completa das tropas americanas, extremamente criticada por sua precipitação, tornou-se um quebra-cabeças. 

A Espanha alertou nesta terça-feira que não terá tempo hábil até o dia 31 para evacuar todos os cidadãos que gostaria, devido à situação "dramática" no solo afegão. "Haverá pessoas que ficarão no país por razões que não dependem da nossa vontade", disse a ministra espanhola da Defesa, Margarita Robles. 

Os talibãs criaram inúmeros pontos de controle nos acessos ao aeroporto de Cabul, sob administração temporária dos EUA até 31 de agosto, para dificultar a retirada dos estrangeiros e afegãos que desejam deixar o país, por discordarem da doutrina sectarista islâmica ou por terem trabalhado para os ocidentais durante os 20 anos de ocupação dos aliados ocidentais.  

Uma fonte diplomática francesa disse hoje que a ponte aérea estabelecida pela França, que transporta os refugiados retirados de Cabul para uma base militar em Abu Dhabi, será suspensa na noite de 26 de agosto, quinta-feira, caso os EUA confirmem a retirada completa de seus soldados no dia 31, como está previsto no acordo firmado por Washington com os talibãs. 

A França evacuou até o momento cerca de 2.000 pessoas do Afeganistão. O Ministério das Relações Exteriores diz que ainda falta repatriar 62 franceses e numerosos afegãos que pediram ajuda da embaixada francesa para deixar Cabul.

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