Para familiares, profissionais da saúde vítimas da covid-19 foram abandonados pelo Estado
Familiares de médicos generalistas vítimas da covid-19 testemunham no jornal Libération desta terça-feira (14) sobre o abandono destes profissionais que tiveram que atender doentes sem material de proteção no começo da pandemia, na França.
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Entre os entrevistados está Hakima Djemoui, assistente hospitalar no bairro popular de Champigny-sur-Marne, na região parisiense, que perdeu o marido, o médico generalista Ali Djemoui, em abril. Assim como vários outros cidadãos franceses, ela decidiu denunciar o Estado nos tribunais por "omissão" e, em seu caso, também por "homicídio culposo". "Eu quero que respeitem o sacrifício de meu marido, que reconheçam o abandono dos médicos liberais e os erros políticos."
Durante os primeiros dias da crise sanitária, o casal manteve o consultório aberto e continuou atendendo pacientes. Mas devido à escassez de material de proteção, eles contavam com apenas 18 máscaras por semana, que também eram distribuídas aos doentes mais frágeis.
Djemoui foi convidada para assistir a homenagem aos profissionais de saúde, durante as comemorações do 14 de julho, realizadas este ano na Praça da Concorde, em Paris, na tribuna presidencial. Ela diz que pretende aproveitar a ocasião para falar com o presidente sobre a "responsabilidade" dele nessa crise.
Contaminações entre profissionais de saúde
A taxa de contaminação global entre profissionais da saúde na França foi de 2,3%, chegando a 3,7% na região parisiense. Estes números provisórios são mais elevados que o índice de infeção na população em geral, que teria sido de 0,25%.
Segundo Libération, as categorias mais contaminadas pela doença na França são enfermeiras, (29% dos infectados), e auxiliares médicos e cuidadores (24%). Com relação à mortalidade no setor público de saúde, 16 profissionais morreram, entre eles, 5 médicos, 4 auxiliares e cuidadores e uma pessoa cuja profissão não foi revelada, além de 6 outros trabalhadores que desenvolviam funções no setor hospitalar.
Mas o jornal lembra que apenas um estudo serológico dos profissionais de saúde poderia revelar o verdadeiro número de contaminados. Estudos desse tipo estão sendo realizados com o pessoal de um hospital de Estrasburgo, no leste da França, uma das regiões mais atingidas do país.
Segundo as primeiras observações do estudo, a proporção de profissionais contaminados poderia não ser superior a da população em geral, estimada em 11% pelo Instituto Pasteur apenas na região leste da França. De acordo com a diretora do Instituto de Virologia dos Hospitais Universitários de Estrasburgo, Samira Fafi-Kremer, que idealizou o estudo, os profissionais "se protegem razoavelmente bem nos hospitais e uma grande parte das contaminações parece acontecer fora dos estabelecimentos, no dia-a-dia", afirma Kremer. Alguns serviços que tratam casos de covid-19 não informaram nenhuma contaminação.
Para os profissionais liberais de saúde, a situação é diferente. Segundo uma pesquisa da Rádio France com profissionais do SOS Médicos, que atendem emergências nas casas dos pacientes, 16% dos 1.300 trabalhadores, foram contaminados, 20% dos casos em Paris. A Ordem Nacional dos Médicos estima que 2,8% dos generalistas foram infectados.
Protestos
Seis organizações médicas e sindicatos convocaram uma manifestação nesta terça-feira em Paris contra para protestar contra a reforma da área da Saúde proposta pelo presidente, que tinha o objetivo de revalorizar os profissionais da saúde.
Mas após sete semanas de negociações, os acordos salariais e os investimentos previstos de € 7,5 bilhões foram julgados insuficientes por representantes das categorias.
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