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França: violência marca protesto de profissionais de saúde por alta de salários

"Mascarados, mas não amordaçados" gritavam os milhares de profissionais de saúde que se manifestaram nesta terça-feira (16) em toda a França. Após três meses de crises sanitária, médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem saíram às ruas para exigir que o governo cumpra suas promessas para o setor que teve suas deficiências evidenciadas pela pandemia do coronavírus. A passeata parisiense foi encerrada com confrontos entre manifestantes e a polícia.

A manifestação dos profissionais da saúde reuniu milhares de médicos e enfermeiros na Esplanada dos Inválidos, em Paris.
A manifestação dos profissionais da saúde reuniu milhares de médicos e enfermeiros na Esplanada dos Inválidos, em Paris. AP - Thibault Camus
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A mobilização foi importante. Cerca de 220 passeatas estavam previstas nesta jornada de ação nacional, organizada por uma dezena de sindicatos. Em Bordeaux, o protesto contou com a presença de ao menos 4.000 pessoas. Em Marselha, eles eram cerca de 3.500 e mesmo em cidades menores a participação foi significativa.

A manifestação mais importante ocorreu em Paris, mas foi encerrada, na Esplanda dos Inválidos, com confrontos. A polícia lançou bombas de gás lacrimogênio contra os manifestantes. Entre 200 a 250 ativistas black blocs se infiltraram no protesto e incendiaram lixeiras. Um carro foi tombado e usado como escudo de proteção pelos manifestantes. Ao menos 24 pessoas foram detidas, informou a polícia.

"Os profissionais de saúde não são responsáveis pela violência. Isso é escandaloso. Nos roubaram nossa manifestação. Os black blocs querem manipular o protesto", denunciou Patrick Pelloux, presidente da Associação dos Médicos Urgentistas da França, em entrevista à BFMTV.

Forte mobilização desde início da crise

Os profissionais de saúde franceses estão fortemente mobilizados desde o início da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. Eles dizem que chegou a hora de "acabar com os aplausos e de começar a se manifestar". Desde o início da epidemia na França, em março, os franceses iam às janelas aplaudir os médicos e enfermeiros que estavam na linha de frente lutando contra a Covid-19. Os manifestantes querem aproveitar esse apoio da população para pressionar o governo e conquistar uma revalorização dos salários da categoria. Eles foram chamados de "heróis de jaleco branco" pelo presidente Emmanuel Macron.

Diante das várias deficiências evidenciadas pela crise – salários baixos, falta de material e investimentos –, o governo iniciou um grande debate chamado de "Ségur da Saúde" para reestruturar o setor. As discussões ainda não foram concluídas. Mas os primeiros gestos de reconhecimento prometidos pelo Executivo não convenceram. "Não queremos medalhas ou um bônus. Queremos um salário à altura da importância de nossa profissão para a sociedade", afirma Clara Grémont, auxiliar de enfermagem que participou da manifestação em Montpellier, no sul da França.e

Lacunas do sistema de saúde

"A crise do coronavírus mostrou as lacunas do nosso sistema, mas não tínhamos escolha e fomos capazes de reagir", explica Charlotte Dumont, enfermeira de Bordeaux. Para ela, o problema de fundo é que "os hospitais públicos franceses passaram a ser administrados como uma empresa".  

Antes da epidemia, os serviços de pronto-socorro e outros setores hospitalares fizeram greve durante um ano para denunciar a baixa remuneração e a escassez de profissionais, que não querem mais trabalhar no sistema público devido aos baixos salários. Os manifestantes constatam que as reivindicações não mudaram desde então. "Esperamos uma revalorização dos salários e uma requalificação. Esperamos também a abertura de novos leitos e a contratação de mais pessoal", lembra o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, que participou da passeata parisiense.

Todas essas reinvindicações estão sendo abordadas no "Ségur da Saúde" que deve ser encerrado no início de julho, com o anúncio de um "vasto plano de investimentos e de revalorização" nos hospitais e casas de repouso, prometido pelo presidente francês. "É imperativo que as respostas estejam à altura das expectativas", alerta o secretário-geral da central sindical Força Operária, Yves Veyrier, que também desfilou em Paris.

Para o líder do partido de esquerda radical A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que participou do protesto em Marselha, onde foi eleito deputado, o debate nacional sobre o sistema de saúde é estéril. "Para que serve um 'Ségur da Saúde'? Até parece que não sabemos do que o hosptial público precisa", lançou.

Coincidência? O governo publicou no último final de semana os decretos sobre os bônus excepcionais de € 1.000 a € 1.500 para os trabalhadores de casas de repouso, e um aumento de 50% das horas extras feitas nos hospitais durante a crise. O pagamento será realizado em setembro.

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