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Governo francês promete investimentos bilionários nos hospitais após crise do coronavírus

O governo francês lançou nesta segunda-feira (25) sete semanas de debates para buscar soluções contra a decadência do sistema hospitalar da França, evidenciada na crise do coronavírus. Diante de 300 participantes reunidos em videoconferência, o primeiro-ministro Édouard Philippe confirmou que o Estado vai investir "maciçamente" no setor, mas não revelou o montante dos investimentos.

Le Premier ministre lors de l'ouverture du «Ségur de la santé», le 25 mai 2020.
Le Premier ministre lors de l'ouverture du «Ségur de la santé», le 25 mai 2020. Michel Euler/Pool via REUTERS
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O premiê julga necessário acelerar os projetos propostos para tornar a dinamizar o setor hospitalar francês e promete apoiar os estabelecimentos na busca por soluções contra sua enorme dívida. Em 2019, o governo havia anunciado um primeiro "plano" que previa a exoneração de um terço da dívida dos hospitais públicos, isto é, um alívio de € 10 bilhões, além de investimentos de € 150 milhões por ano.

"Temos que ir além desta promessa", estimou hoje Édouard Philippe ao abrir o debate chamado de "Ségur da Saúde", em uma alusão ao endereço do ministério da Saúde (avenida Ségur, em Paris). "Lançaremos um vasto plano de ajuda ao investimento que completará a exoneração da dívida", garantiu o chefe do governo.

O primeiro-ministro não revelou o montante do pacote, mas detalhou que uma parte dele deve ser dedicada a projetos locais, para "acelerar a cooperação entre as cidades, os hospitais e os serviços médicos e sociais, assim como a colaboração entre o público e o privado". Ele salientou que o objetivo não é a construção de novos estabelecimentos, mas orientar e acabar com o endividamento que chega a € 30 bilhões.

Iniciativa de Macron

A conferência sobre a saúde foi uma iniciativa do presidente Emmanuel Macron. A pandemia do coronavírus revelou hospitais públicos franceses, que já foram considerados os melhores do mundo, em péssimo estado. Além da falta de material de proteção, como máscaras e blusas, e de medicamentos, a crise evidenciou a diminuição de leitos, principalmente em UTIs, e a pauperização dos profissionais de saúde. Os salários das enfermeiras francesas são os mais baixos entre os países europeus da OCDE.

Em 25 de março, Macron havia prometido durante uma visita a um hospital de Mulhouse, uma das regiões francesas mais atingidas pela epidemia, um "importante plano de investimentos" para o setor após a crise do coronavírus. De acordo com o ministro da Saúde, Olivier Véran, o projeto visa tanto os hospitais quanto as casas de repouso (Ehpad). Véran havia antecipado um plano de ajuda de € 13 bilhões.

Reivindicações salariais

Os profissionais da saúde franceses reivindicam aumentos salariais. Em uma mensagem compartilhada nas redes sociais, eles perguntam: "se ficar sem dinheiro, posso pagar com aplausos?". A pergunta remete aos aplausos diários que recebem dos franceses às 20h, em agradecimento aos esforços na luta contra a Covid-19.

O governo havida decidido pagar a cada profissional do setor um bônus excepcional que varia de € 500 a € 1.500, além de conceder também uma medalha. Esse anúncio foi recebido com muitas críticas. Durante uma visita de Macron ao hospital parisiense Pitié Salpétrière, em 15 de maio, um grupo de enfermeiras disse ao presidente que os profissionais da saúde não querem nem medalha nem bônus, mas aumentos salariais e mais recursos para o setor.

"Antes da crise da Covid-19, já estávamos desesperados", lançou uma enfermeira ao chefe de Estado. "Foi necessário essa crise para que o governo se desse conta que os hospitais estão sofrendo. Somo as vergonha da Europa. Precisamos de material", denunciou outra profissional.

Na ocasião, o presidente reconheceu que o "plano hospital", lançado por seu governo em 2019 para reformar o sistema de Saúde francês, era insuficiente para melhorar a qualidade do atendimento médico e as condições de trabalho nos estabelecimentos públicos do país.

Lógica de rentabilidade

A lógica de rentabilidade, aplicada pelos governos desde a presidência Sarkozy em 2007, e a política de austeridade deixaram a rede hospitalar empobrecida. O ex-presidente socialista, François Hollande (2012-2017), reconheceu hoje sua "responsabilidade" nessa crise dos hospitais, incluindo a não renovação de estoques de máscaras. Mas sobre as 35 horas de trabalho mensais, apontadas por muitos como um dos fatores da degradação das condições de trabalho, Hollande pediu que esta conquista social não seja suprimida.

O diretor da rede de hospitais de Paris, APHP, Martin Hirsch, estima que seria necessário aumentar os salários dos paramédicos entre 15% e 20%.  Além do aumento salarial, um manifesto de um coletivo de trabalhadores do setor, publicando neste domingo (24), pede negociações sobre os planos de evolução de carreira, mais leitos, além do fim das desigualdades territoriais e sociais de acesso à saúde. O texto também reivindica a volta da produção na França de medicamentos essenciais.

O "Ségur da Saúde", que reúne 300 representantes do setor, acontece até o mês de julho.

Com informações de agências e de Raphael Morán.

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