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Um pulo em Paris

Pandemia: Profissionais do turismo na França ainda não conseguem ver luz no fim do túnel

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A pandemia do coronavírus causa enorme impacto no setor do turismo na França. Há duas décadas, o país é o primeiro destino turístico no mundo, acolhendo 85 milhões de visitantes por ano, em média. As receitas do setor representam 7% do PIB francês. Mas, há um mês, os 220.000 bares, cafés, restaurantes e hotéis do país estão às moscas. Os profissionais da área ainda não conseguem ver luz no fim do túnel.

Imagem de café fechado no Passeio dos Ingleses, em Nice, na Riviera francesa.
Imagem de café fechado no Passeio dos Ingleses, em Nice, na Riviera francesa. REUTERS - ERIC GAILLARD
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O decreto do governo que ordenou o isolamento dos franceses desde 17 de março não atinge os hotéis. Mas a maioria dos estabelecimentos fechou as portas, porque as fronteiras internas e externas da União Europeia estão fechadas para não residentes. Internamente, os franceses estão proibidos de viajar. A queda brusca da atividade turística é desastrosa para um setor que gera dois milhões de empregos diretos e indiretos.

O pior é que não existe uma data prevista de reativação do turismo. Bares, cafés e restaurantes vão continuar fechados além do 11 de maio, quando as medidas de distanciamento social vão ser suspensas gradualmente. Três meses de confinamento devem gerar um prejuízo de 40 bilhões de euros às empresas do setor.

08:13

Pulo em Paris 17/04/2020

Férias de verão ameaçadas

O secretário de Estado dos Transportes já alertou várias vezes que os franceses não devem fazer reservas para os meses de junho, julho e agosto, o período da alta temporada, uma vez que não é possível saber com antecipação se a epidemia vai estar controlada. Para as famílias, tem sido inimaginável não poder viajar durante as férias escolares do verão. Em um ano normal, praticamente tudo para no mês de agosto na França. As operadoras de turismo continuam aceitando reservas, garantindo reembolso aos clientes se houver impedimento, mas o futuro é totalmente incerto.

A União Europeia também recomendou aos países do bloco a maior cautela, e estuda manter as fronteiras fechadas até 15 de maio. Um outro aspecto que causa incerteza é saber se a reabertura das fronteiras vai ser simultânea para todos os países. Muito provavelmente, não.

Os picos da epidemia estão ocorrendo em intervalos diferentes nas regiões do mundo. Países como o Brasil, por exemplo, que não adotaram regras uniformes e rígidas de distanciamento social, podem ter uma pandemia mais longa. Os europeus não vão querer correr o risco de um retorno do coronavírus ao bloco.

Policial adverte frequentadora da proibição de ir à praia.
Policial adverte frequentadora da proibição de ir à praia. REUTERS - ERIC GAILLARD

Impacto para brasileiros com empresas em Paris

O casal de brasileiros Jean e Grazi Schramme, proprietários da Elite Turismo, está preocupado com o retorno da clientela brasileira. A agência oferece serviços de transporte dos aeroportos e estações de trem parisienses para hotéis, e roteiros de viagem na França e na Europa. Jean conta que a crise sanitária passou por seu negócio como "um tsunami". "Desde 4, 5 de março, quando terminou a semana da moda, os clientes começaram a ir embora e as reservas de março, abril e maio foram canceladas", relata. 

A empresa, instalada há dez anos em Paris, recebia 8 mil passageiros por ano antes da crise sanitária, praticamente só brasileiros. Jean esperava um ano excepcional em 2020, fez investimentos, comprou carros novos, mas agora acredita que só irá retomar a atividade no fim de agosto, no melhor dos cenários. "Retomada, retomada mesmo, só em março de 2021", acredita.

A consultora de imagem e estilo Andrea Furco, da Passaporte Fashionista, empresa que oferece cursos, palestras e workshops de moda, em português, para brasileiros que visitam Paris reduziu bastante suas atividades desde o início de abril. As turmas do curso Tendências, Estilo e Mercado de Luxo, que inclui visitas aos ateliês de marcas da alta costura, foram adiadas para o segundo semestre.

"Tive de me reinventar", conta Andrea. Ela adaptou outros dois módulos para plataformas digitais. "Passo metade do dia ministrando cursos online e na outra metade me disponho a dar consultoria de mídia digital para quem precisa", diz. Em três anos de atividade em Paris, Andrea recebeu 350 alunos. "Os brasileiros são 99% do meu público", resume.

Dono de agência está satisfeito com medidas do governo francês

O governo francês adotou medidas fortes de apoio às empresas, envolvendo um pacote de 100 bilhões de euros. No caso da Elite Turismo, Jean Schramme colocou três colaboradores em desemprego temporário, conseguiu suspender o reembolso das prestações do financiamento dos carros recém-comprados por seis meses, e ainda aguarda obter mais facilidades dos organismos oficiais. Ele afirma estar "muito satisfeito" com as medidas anunciadas pelo ministro francês da Economia, Bruno Le Maire. "O Estado não vai conseguir agradar a todo mundo, mas tomou medidas sensacionais, uma ajuda massiva muito importante", estima o empresário.

As agências de viagens adotaram maciçamente o desemprego temporário, mecanismo pelo qual o Estado reembolsa 84% do salário líquido do assalariado para a empresa manter o vínculo empregatício. Mas o impacto da crise é tão violento que o ministro da Economia anunciou esta semana que cafés e restaurantes, que tiveram de fechar as portas de um dia para o outro, terão prioridade num plano específico, que será divulgado no dia 21 de abril.

O governo francês estuda cancelar a cobrança de encargos sociais desse tipo de negócio e adiar o recolhimento de impostos para quando a atividade for retomada, a fim de evitar falências em massa no setor. A atividade turística gera 170 bilhões de euros por ano às regiões francesas e é considerada fundamental para o país.

As autoridades também apostam que os franceses vão privilegiar o turismo interno no pós-pandemia, para ajudar a economia local e também pelo medo de se distanciar de casa, do sistema público hospitalar. O coronavírus está mexendo com os valores das pessoas. Existe uma onda de solidariedade maior.

Na quarentena, os franceses se acostumaram a consumir menos, a dar valor àquilo que está próximo – o comerciante do bairro, o hospital público da sua região. Os franceses sabem que têm um país muito bonito e boa gastronomia. É provável que eles queiram ajudar as cidades e regiões que dependem do turismo a perenizar esse patrimônio.

A expectativa é que só em 2022 as viagens internacionais devem se normalizar, mas em escala bem menor do que vinha ocorrendo, por causa da recessão global.

Policiais patrulham o Passeio dos Ingleses, na orla de Nice, que permanece proibido ao público.
Policiais patrulham o Passeio dos Ingleses, na orla de Nice, que permanece proibido ao público. REUTERS - ERIC GAILLARD

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