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Eleições em Portugal: a extrema direita do partido Chega proclama 'fim do bipartidarismo' no país

Os primeiros resultados das eleições legislativas antecipadas de Portugal começam a cair, mas os representantes do Chega, liderados pela figura carismática e do ex-comentarista esportivo André Ventura, um dos fundadores do partido de extrema direita, proclamam em rede de televisão nacional o “fim do bipartidarismo” em Portugal [numa menção entre o Partido Socialista - PS, de esquerda, e o Partido Social Democrática - PSD, líder da direita] e a ascensão da “nova direita” representada pelo Chega.

André Ventura, líder do partido de extrema direita Chega, em Portugal, vota em Lisboa no domingo, 10 de março de 2024, nas eleições gerais antecipadas.
André Ventura, líder do partido de extrema direita Chega, em Portugal, vota em Lisboa no domingo, 10 de março de 2024, nas eleições gerais antecipadas. © AP - Joao Henriques
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Márcia Bechara, enviada especial da RFI a Lisboa

André Ventura chegou a dizer a jornalistas em Lisboa que desejava começar a trabalhar com Luís Montenegro (PSD) ainda nesta noite de domingo (10), mas a Constituição portuguesa prevê um período legal de 20 dias para a formação de um novo governo, quando o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, devera convidar o vencedor destas legislativas para formar um novo governo. Ventura, líder do Chega, celebrou uma “noite histórica” para o partido, criado em 2019

As primeiras apurações das eleições legislativas de Portugal deste domingo mostram projeções de resultados de 29% a 33% para a coligação da direita tradicional da Aliança Democrática, de 24% a 29% para o Partido Socialista (depois de oito anos de maioria absoluta no poder) e de 19% a 21% para o partido de extrema direita Chega. 

“Os portugueses se manifestaram e disseram que querem um governo de dois partidos: da [coligação de direita, comandada pelo PSD) AD e do Chega”, afirmou Ventura, que considera “irresponsável” não aproveitar a “maioria” dada aos dois partidos de direita. O PSD, no entanto, afirmou publicamente durante os quatro meses de campanha política em Portugal que não governaria em nenhuma hipótese numa coligação com a extrema direita, num compromisso com seus eleitores.

No entanto, a direita portuguesa se encontra num impasse, uma vez que as projeções apontam para o fracasso de uma maioria absoluta neste pleito, o que significa que a coligação de direita não deve conseguir as 116 cadeiras necessárias no Parlamento para formar um novo governo. Se a direita tradicional do PSD se recusar a formar uma maioria de governo com o Chega, a alternativa será sentar à mesa com o Partido Socialista, que, nesse primeiro momento, prefere se colocar como “oposição”.

Ao mesmo tempo, se a consolidação do partido Chega chegar em Portugal acima do patamar dos 20%, a voz das urnas terá enviado uma mensagem simbolicamente forte aos partidos de esquerda do país, justamente nas vésperas das comemorações nacionais da Revolução dos Cravos, em 25 de abril, marco da luta portuguesa contra a ditadura fascista de Salazar.

Abstenção muito menor que em 2022

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna (MAI), até às 16:00 haviam votado cerca de 51,96% dos eleitores, uma porcentagem superior à das últimas legislativas, realizadas em 30 de janeiro de 2022, quando a afluência média às urnas à mesma hora era estimada em 45,66%.

Também a afluência às urnas dos eleitores portugueses às 16h deste domingo (10) já era superior ao total de votantes em 2022, que foi de 51,42%.

Consolidação da extrema direita em Portugal

Segundo o cientista político António Costa Pinto, da Universidade de Lisboa, o partido de Ventura “veio para ficar”.

"A democracia portuguesa teve nos seus primeiros 20 anos um desafio fundamentalmente à esquerda, porque tinha um Partido Comunista forte, seguido de um partido da nova esquerda, ou da esquerda radical, relativamente forte, o Bloco de Esquerda, e esse era o grande desafio para o principal partido de centro-esquerda, o Partido Socialista. Hoje, o desafio mudou e está à direita", diz o pesquisador da Universidade de Lisboa, especializado em fascismo.

Para ele, o partido português "Chega", criado em 2019, "vai efetivamente ser um desafio à direita". "Portugal vai finalmente entrar no campo das democracias europeias, onde a direita radical populista é um desafio".

O professor compara a nova realidade política portuguesa ao que "o partido espanhol Vox representa para o Partido Popular na Espanha, ou o que a sigla de Geert Wilders na Holanda significa para a centro-direita holandesa. Como nestes países, em Portugal a direita radical populista também parece ter chegado para ficar".

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