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Macron sobe o tom contra Putin ao não descartar envio de tropas ocidentais à Ucrânia

Em declarações após uma reunião de apoio a Kiev em Paris, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse na segunda-feira (26) que não se deve descartar o envio de tropas ocidentais à Ucrânia para conter o avanço da Rússia. Macron anunciou a criação de uma coalizão para enviar "mísseis e bombas de médio e longo alcance" à Ucrânia, insistindo que "a derrota da Rússia é indispensável para a segurança e estabilidade na Europa". 

Macron anuncia coalizão para enviar munições a Kiev e não descarta mobilizar tropas.
Macron anuncia coalizão para enviar munições a Kiev e não descarta mobilizar tropas. AP - Gonzalo Fuentes
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"Atualmente, não há consenso para enviar tropas terrestres de forma oficial, assumida e endossada. Mas dinamicamente, nada deve ser descartado. Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não possa vencer esta guerra", disse o chefe de Estado francês. Sem revelar detalhes sobre a posição da França neste cenário hipotético, Macron afirmou que assumia essa "ambiguidade estratégica". Ele ainda insistiu que os aliados da Ucrânia não estavam "em guerra contra o povo russo", mas que, "simplesmente", não querem "deixá-los ganhar na Ucrânia".

O chanceler alemão, Olaf Scholz, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, o ministro britânico das Relações Exteriores, David Cameron, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, bem como os líderes dos países escandinavos, bálticos e da Polônia participaram das discussões no Palácio do Eliseu. Os Estados Unidos foram representados pelo secretário de Estado para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, Jim O'Brien, e o Canadá pelo ministro da Defesa, Bill Blair.

As declarações de Macron tiveram forte repercussão. O Kremlin alertou que a presença de soldados ocidentais na Ucrânia desencadearia um conflito "inevitável" entre a Rússia e a aliança atlântica. O porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, Dmitri Peskov, afirmou que essa possibilidade "não é do interesse dos aliados ocidentais".

De volta a Berlim, o chanceler alemão comentou que "o debate no Palácio do Eliseu foi muito bom, mas não haverá soldados europeus ou de outros países da OTAN na Ucrânia, como ficou acertado desde o início" do conflito. 

'Loucura'

O líder do partido de extrema esquerda LFI (A França Insubmissa), Jean-Luc Mélenchon, disse no X que entrar em “guerra contra a Rússia seria uma loucura”. Mélenchon considerou “irresponsáveis” as declarações do chefe de Estado francês.

“Enviar tropas à Ucrânia nos tornaria cobeligerantes (…) Esta escalada verbal belicosa de uma potência nuclear contra outra grande potência nuclear já é um ato irresponsável”, protestou o ex-candidato às eleições presidenciais. “É chegada a hora de negociar a paz na Ucrânia com cláusulas de segurança mútua”, adicionou Mélenchon, apontado como um político tolerante em relação ao russo Vladimir Putin.

“Emmanuel Macron atua como chefe de guerra, mas é da vida dos nossos filhos que ele fala com tanto descuido”, disse a líder de extrema direita Marine Le Pen.

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, denunciou uma “leveza preocupante" no discurso presidencial: “Apoiar a resistência ucraniana, sim. Entrar em guerra com a Rússia e arrastar o continente. Loucura”.

De acordo com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que tem sido cogitado para dirigir a OTAN e esteve na reunião, a questão do envio de tropas não fez parte da ordem do dia do encontro no Palácio do Eliseu. 

Risco de vitória russa acelera reação dos europeus

Os líderes ocidentais reconhecem o risco de uma possível vitória da Rússia no conflito em 2024, no momento em que o Exército de Kiev está ficando sem armas. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participou da reunião por videoconferência e lamentou que seu país recebeu apenas "30% de 1 milhão de obuses que a União Europeia 'prometeu' à Ucrânia".

Macron explicou que “muitos países europeus e não europeus que têm munições disponíveis” têm sido “abordados” para suprir a carência atual de munições. 

De acordo com o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, cerca de quinze países afirmaram estar prontos para aderir a uma iniciativa de Praga para que a UE compre munições fora da Europa para melhor apoiar o esforço de guerra ucraniano. “Esta é uma mensagem muito forte enviada à Rússia”, disse o tcheco.

A França participará dessa iniciativa, enquanto a Holanda, segundo o primeiro-ministro holandês, fará uma contribuição de “mais de 100 milhões de euros” ao plano tcheco.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, reafirmou, por sua vez, que a Alemanha não pode entregar mísseis Taurus de longo alcance à Ucrânia. “É uma arma de muito longo alcance, e o que é feito em termos de direcionamento e apoio aos alvos por parte dos britânicos e franceses não pode ser feito na Alemanha”, declarou Scholz, recusando que o país assuma o risco de se encontrar “de certa forma, envolvido na guerra”.

Os ministros da Defesa e das Relações Exteriores da França irão se reunir nos próximos dias com os colegas europeus presentes à reunião para definir os detalhes operacionais da iniciativa de Praga. 

Na manhã desta terça-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, reiterou que “não se pode excluir nada numa guerra” que está acontecendo “no coração da Europa”, incluindo o envio de tropas terrestres, como Macron mencionou.

Rússia considera França 'país inimigo'

O vice-presidente da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, Piotr Tolstoi, um político próximo de Putin, já tinha considerado as relações entre Paris e Moscou bastante deterioradas após um ano de guerra na Ucrânia. Em uma entrevista ao canal francês BFMTV, em janeiro de 2023, Tolstoi declarou: “É claro que a França é um inimigo para nós”.

Do ponto de vista do russo, as razões eram múltiplas. "A França tem travado uma guerra econômica contra o meu país há oito anos, e a França fornece materiais militares aos ucranianos. A França, assim como a Alemanha e outros países europeus, participam na guerra, do lado ucraniano, de forma militar", disse o vice-presidente da Duma naquela ocasião.

Recentemente, o agravamento dos ciberataques russos a empresas e instituições governamentais francesas, e a intensificação das campanhas de desinformação russas destinadas a criar um clima de animosidade na população francesa contra os dirigentes do país levaram Macron a abandonar a ideia de qualquer concessão a Putin.

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