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"Caminhamos por seis horas no calor": turistas contam como fugiram de incêndios na Grécia

Bombeiros continuam a combater incêndios florestais em diversos pontos da Grécia. Mais de 32 mil pessoas foram socorridas em Rodes, no sudeste do Mar Egeu, desde o último sábado (22). Na noite de domingo, quase 2.500 indivíduos foram retirados do norte de Corfu, no oeste do país. As chamas continuam a se espalhar devido aos fortes ventos e às temperaturas extremas. 

Turistas são retirados de áreas ameaçadas pelo fogo em Rodes. Imagem de 22 de julho de 2023.
Turistas são retirados de áreas ameaçadas pelo fogo em Rodes. Imagem de 22 de julho de 2023. AFP - STRINGER
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Com informações de Joël Bronner, enviado especial da RFI a Rodes,e Daniella Franco, da RFI Brasil

Na ilha de Rodes, próxima do litoral turco, os bombeiros combatem as chamas há uma semana. Os fortes ventos, de cerca de 50 km/h ajudaram a espalhar o fogo, resultando em imagens dantescas no último fim de semana.

"Combatemos as chamas em três frentes diferentes. A situação é muito difícil e ficará ainda mais complicada. Colocamos Rodes em alerta vermelho nas próximas 24 horas", afirma Ioannis Artopoios, porta-voz dos bombeiros gregos.

A Grécia registrava nesta segunda uma ligeira queda na temperatura antes de uma nova onda de calor a partir de terça-feira (25), segundo o serviço meteorológico nacional. Na quarta-feira, a temperatura alcançará 44º C e são previstas "tempestades no centro e oeste do país, antes de uma queda de 6º C a 8º C".

Mais de 300 bombeiros

Quase 300 homens, entre eles, membros de uma brigada especializada, auxiliados por cerca de 30 bombeiros e quatro tanques eslovacos lutam contra as chamas em Rodes. A França, a Turquia e a Croácia também enviaram aviões-tanque à ilha.

"Neste momento, uma dezena de aviões e três helicópteros sobrevoam Rodes. Infelizmente, as condições meteorológicas são realmente ruins e estamos com dificuldades de controlar a situação", reitera Artopoios. 

Desde o fim de semana, as chamas se aproximam das áreas habitadas, resultando em milhares de evacuações preventivas. Parte delas ocorrem pelo mar, com a ajuda da guarda costeira. Estádios, escolas e centros de conferências acolhem os desabrigados.

"É a maior operação de retirada de pessoas já efetuada na Grécia", indicou outra porta-voz dos bombeiros do país, Konstantia Dimoglidou. Segundo ela, tudo ocorre de maneira eficiente. "Os turistas seguem as nossas orientações", sublinha.

 Incêndios seguem fora de controle na ilha de Rodes, na Grécia.
Incêndios seguem fora de controle na ilha de Rodes, na Grécia. AFP - SPYROS BAKALIS

Turistas traumatizados acampam no aeroporto

No aeroporto internacional de Rodes, os relatos não são nada serenos. Transformado em acampamento improvisado, com trabalhadores sazonais deitados em toalhas de praia no chão e turistas com traje de banho dormindo em bancos. Aguardando por voos de volta a seus países de origem, viajantes contam como as férias se transformaram em pesadelo.

O turista alemão Daniel-Cladin Schimdt, de 42 anos, está em Rodes com a esposa e o filho de 9 anos. Na noite de sábado, quando o alarme do hotel em que estavam tocou, eles foram levados para a praia. Até o momento, a família não conseguiu encontrar uma forma de deixar a ilha. "Estamos exaustos e traumatizados", diz.

A turista britânica Kelly Squirrel foi retirada às pressas de seu quarto de hotel. "Caminhamos por cerca de seis horas no calor", explicou ao chegar ao aeroporto.

Outro turista britânico, Kevin Sales, descreve uma situação "terrível". "Tivemos que emprestar roupas a uma mulher que não tinha nada para vestir", relatou.

As nigerianas Audrey, de 19 anos, e Marylin, de 20, trabalham em um hotel em Lindos, um dos principais destinos turísticos em Rodes. "Sabíamos que tinha fogo, mas as chamas pareciam distantes. De repente, tudo mudou", diz Audrey. "Nenhum plano para a retirada das pessoas foi colocado em prática", completa Marylin, que descreve uma situação "desesperadora", com turistas e funcionários em pânico sem saber o que fazer. 

Mensagem de alerta nos celulares

Em Corfu, quase 2.466 pessoas foram retiradas do norte da ilha desde a noite de domingo. Segundo o porta-voz do corpo de bombeiros, Ioannis Artopoios, as autoridades mandaram uma mensagem de alerta aos celulares dos habitantes e visitantes em várias localidades para que abandonassem "por precaução suas residências".  

O incêndio, declarado no domingo, continua avançando. Nesta segunda, "62 bombeiros apoiados por dois helicópteros e dois aviões" combatem as chamas. 

A Grécia está "em guerra contra (...) os incêndios", afirmou nesta segunda-feira o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, diante do Parlamento do país. "Ainda teremos três dias difíceis" advertiu, referindo-se às altas temperaturas. 

População exausta com a falta de medidas

A população grega, que se acostumou a enfrentar imensos incêndios, agravados nos últimos anos pelo aumento das temperaturas, não esconde sua insatisfação com o governo de Mitsotakis, que assumiu há pouco menos de um mês, e com o governo anterior.

A tradutora grega Ioanna Garoufalia conta que mesmo que o país seja palco todos os anos de tragédias, as autoridades não estabeleceram medidas preventivas para evitar as chamas. Segundo ela, desde o incêndio em Mati, no leste de Atenas, que deixou mais de 100 mortos em 2018, os planos se baseiam na retirada dos moradores. 

"Claro que é muito importante não ter vítimas em um incêndio. Mas só isso não resolve, porque o fogo queima as casas, queima a natureza, mata os animais", observa. Além disso, segundo Ioanna, os recursos são poucos, com escassez de bombeiros e materiais de combate a chamas. 

Em entrevista à RFI, ela conta que, temendo novas tragédias, a própria população investe em iniciativas por conta própria. O pai de Ioanna, por exemplo, faz parte de um mutirão de voluntários que vigiam áreas montanhosas na região da Beócia, no norte de Atenas, durante o verão. 

Apesar de a capital grega ser frequentemente ameaçada pelas chamas --na semana passada focos estavam a algumas dezenas de quilômetros de Atenas-- a tradutora reconhece não ter nenhuma instrução sobre como reagir em caso de incêndio. "É uma verdade, não temos educação para isso. Se acontecesse comigo, eu iria agir mais por instinto, mas eu não iria saber o que fazer", diz.

Nervos à flor da pele

A greco-brasileira Marianna Karabourniotis Sotti vive na França, mas viaja frequentemente à Grécia para visitar familiares. Ela desembarcou em Atenas na semana passada, quando os bombeiros lutavam contra dois focos perto da capital, Dervenochoria e Kouvaras. 

"A gente via a fumaça, a cidade ficou escura, então estávamos com os nervos à flor da pele. As pessoas têm medo, então, evitam ir a parques, estar em regiões com muita vegetação e ventos. O calor está presente, tudo está seco, então tem uma propensão a incêndio. E se o fogo começa, o vento espalha as chamas muito rápido e aí fica impossível eliminar o foco", afirma.

Marianna relata que, além do estresse do povo grego com o perigo iminente, existe também o sentimento de abandono por parte das autoridades. "Há a sensação aqui de que todos os anos é a mesma coisa, todos os anos há grandes incêndios e as medidas preventivas são mínimas. Então a população sente essa revolta pela falta de cuidado. Não dá pra entender como não tem prevenção. Todos os anos recebemos ajuda de muitos países, mas sempre é pra apagar o fogo e nunca para prevenir", afirma. 

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