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Calor não dá trégua na Itália e governo tenta proteger trabalhadores de estresse térmico

O verão transformou a Itália numa espécie de trópicos europeus. O calor não dá trégua e faz vítimas fatais. O governo italiano corre contra o tempo para criar medidas que protejam os trabalhadores do chamado estresse térmico. Nesta semana, dois homens morreram por causas ligadas ao trabalho em condições extremas de calor, respectivamente em um canteiro de obras, e outro dentro de uma loja. 

As temperaturas extremas na Itália causaram a morte de duas pessoas em canteiros de obras na Itália durante a última onda de calor. Aqui, uma farmácia em Roma mostra a temperatura de 46°C em 18 de julho de 2023.
As temperaturas extremas na Itália causaram a morte de duas pessoas em canteiros de obras na Itália durante a última onda de calor. Aqui, uma farmácia em Roma mostra a temperatura de 46°C em 18 de julho de 2023. © Domenico Stinellis / AP
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Guilherme Aquino, correspondente da RFI em Milão

O governo italiano abre nesta quinta-feira (20) uma mesa redonda com os sindicatos e associações de patrões para discutir a suspensão de algumas atividades, em função do excesso de calor. O encontro vai ser na sede do ministério do Trabalho e das Políticas Sociais, em Roma.

Na pauta estão a análise das normas atuais e “avaliação de eventuais novas iniciativas orgânicas”, segundo nota oficial. “Seguimos com atenção a evolução das condições climáticas na Itália e seus relativos impactos em contextos do trabalho e de produção: a saúde e a segurança nos locais de trabalho são prioritárias”, declarou a ministra do Trabalho, Marina Calderone.

Desde 2017, o Instituto Nacional de Previdência Social italiano reconhece o estresse térmico como um potencial risco de acidente de trabalho. O objetivo do encontro é melhorar e atualizar uma norma existente, ou seja, a suspensão parcialmente remunerada de atividades sem proteção contra o sol, em dias de inferno na Terra. Atualmente, é o patrão quem decide interromper ou não a atividade, por exemplo.

Risco de acidente aumenta com temperaturas elevadas

Os sindicatos italianos querem maior poder para os trabalhadores e que o governo, mais ágil, seja o árbitro desta partida contra a insalubridade provocada pelas altas temperaturas. “Quando as temperaturas superam os 30 graus Celsius, o risco de incidentes no trabalho aumenta de 5 a 7% e, quando as temperaturas superam os 38 graus, os incidentes tornam-se entre 10 a 15% mais prováveis”, afirma, em nota, Pier Paolo Bomardieri, o secretário geral da Uil (Unione Italina del Lavor), Sindicato Italiano do Trabalho.

A pauta prevê também a criação de um código de cores, a exemplo das triagens nos hospitais. Verde para dias normais, amarelo para alerta e vermelho para interrupção obrigatória, em função do boletim meteorológico emitido por fontes oficiais, como a Aeronáutica. A suspensão pode obrigar ainda à criação de um banco de horas a ser usado em momentos, incluindo horários, mais amenos.

Segundo o Eurofund, a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, uma agência da UE, 23% de todos os trabalhadores estão expostos a uma temperature elevada pelo menos por um quarto do tempo. Este número sobe para 36% na agricultura e na indústria e 38% na construção civil.

Verão quente

Atualmente, o país está coberto por um manto de calor, com as temperaturas na casa dos 40 graus. Os hospitais registram um aumento de 20% nos atendimentos ao pronto-socorro. Idosos e jovens chegam com dores de cabeça e dificuldades respiratórias. No campo do trabalho, a insolação é um dos principais males de quem presta serviços na rua.

Normalmente, nesta época do ano, as prefeituras realizam trabalhos de manutenção dos pavimentos de asfalto. Uma cena comum em Milão é passar por operários que se desfazem em gotas de suor ou buscando abrigo na árvore mais próxima. Os comerciantes dentro das lojas equipadas com ar condicionado oferecem água para matar a sede.

Daqui em diante, os municípios, em suas licitações públicas, deverão contemplar, por exemplo, mais uma variável: em eventuais atrasos, sem cobrança de multas, a causa das altas temperaturas.

Sauna, ao ar livre

As temperaturas estão tão altas que o zero térmico chegou, há três dias , aos 4.560 metros de altitude, quase o topo do Monte Branco, na França, e do Monte Rosa, aqui na Itália, as duas maiores montanhas dos Alpes, na Europa. Com isso, a neve abaixo desta altura derrete e as geleiras se retraem mais rapidamente.

A Itália virou uma sauna ao ar livre, seca no sul e úmida no norte do país. O italiano sua a camisa de dia e o pijama de noite.  Agitado por natureza, o quadro mental evolui para o nervosismo fácil. E ainda faltam dois meses para o fim do verão no Hemisfério Norte.

Os apagões na última semana de junho, começo da estação, serviram de alerta para os distribuidores de energia, que correram ao reparo antes que a situação fugisse ao contrôle.

Tem sido assim, desde a chegada de Caronte, o anticiclone africano. A previsão para este fim de semana é de uma temperatura mais amena, uma trégua para o italiano se recompor um pouco. Mas ainda vai ser “troppo tropicale” para o clima mediterrâneo, ou seja, tropical demais.

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