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Helsinque 1952: Jogos Olímpicos de Verão em meio à Guerra Fria

De 19 de julho a 3 de agosto de 1952, a capital finlandesa Helsinque sediou a 15ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão da Era Moderna. O maior evento esportivo do mundo após a Segunda Guerra Mundial aconteceu em plena Guerra Fria, marcando o início da rivalidade Leste-Oeste. 

A delegação dos Estados Unidos desfila pelo Estádio Olímpico durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão em Helsinque, Finlândia, em 19 de julho de 1952. (imagem AP)
A delegação dos Estados Unidos desfila pelo Estádio Olímpico durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão em Helsinque, Finlândia, em 19 de julho de 1952. (imagem AP) AP - Anonymous
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A capital da Finlândia foi escolhida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para organizar os Jogos Olímpicos de Verão de 1940, que deveriam ter acontecido em Tóquio, mas acabaram, finalmente, sendo cancelados devido à Segunda Guerra Mundial. 

Após o fim do conflito, o COI decidiu, em 1946, relançar o movimento olímpico moderno, começando com a organização dos 14º Jogos Olímpicos de Verão em 1948 em Londres, Inglaterra. No rescaldo da guerra, a Grã-Bretanha, como o resto da Europa, estava exaurida e em um período de austeridade.  

O atleta finlandês Paavo Nurmi acende a pira olímpica no Estádio de Helsinque durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Verão, em 19 de julho de 1952. (AP Photo)
O atleta finlandês Paavo Nurmi acende a pira olímpica no Estádio de Helsinque durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Verão, em 19 de julho de 1952. (AP Photo) AP - OLYMPIC POOL

Com a cidade de Londres em reconstrução, a edição de 1948 ficou conhecida como a mais simples dos Jogos Olímpicos (JO). As infraestruturas, os locais de competição, bem como a vila dos atletas eram básicos. No total, mais de 4.000 atletas de 59 delegações participaram de 136 provas, em 17 esportes.  

Como os países que provocaram a guerra mundial, os derrotados Japão e Alemanha não foram convidados, enquanto a União Soviética foi convidada, mas acabou sendo boicotada. 

JO Helsinki 1952 em dois blocos  

Quatro anos mais tarde, 4.955 atletas representando 69 países e regiões estiveram presentes nos Jogos Olímpicos de Helsinque. Além do retorno do Japão e da Alemanha, 13 países e territórios participaram pela primeira vez, incluindo a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), Israel, um Estado recém-criado reconhecido pelas Nações Unidas em 1948, e o Vietnã, país em plena tormenta política. 

No espírito de que o evento esportivo olímpico deve ser uma grande celebração da humanidade em tempos de paz, a Finlândia, o país anfitrião, convidou o maior número possível de delegações. Foi assim que a delegação russa, sob a bandeira da URSS, voltou aos Jogos após 40 anos de ausência. Desde a Revolução Bolchevique de outubro de 1917, a URSS considerava os Jogos Olímpicos como uma prática burguesa e capitalista, o que levou à retirada do país deste evento. 

     

Atletas russos (de branco) desfilam durante a cerimônia de abertura dos 15º Jogos Olímpicos de Verão em Helsinque, em 19 de julho de 1952, no Estádio Olímpico de Helsinque. Foto: AFP
Atletas russos (de branco) desfilam durante a cerimônia de abertura dos 15º Jogos Olímpicos de Verão em Helsinque, em 19 de julho de 1952, no Estádio Olímpico de Helsinque. Foto: AFP AP

Em 1952, com o início da Guerra Fria, o mundo foi dividido em dois blocos: o ocidental liderado pelos Estados Unidos e seus aliados, e o bloco oriental, com a União Soviética e seus países satélites. Ambos os lados embarcavam em uma terrível corrida armamentista e tanto o Ocidente como o Oriente procuravam por todos os meios mostrar a sua supremacia em campos extremamente diversos: científico, cultural, militar, espacial, mas também esportivo. 

Em entrevista à RFI, o historiador do esporte e do movimento olímpico, Thierry Terret, afirma: “As apostas políticas eram imensas”. Portanto, os estádios de Helsinki de 1952 se tornaram o lugar para demonstrar o poder de ambos os mundos. E em plena Guerra Fria, “os dois blocos podiam se comparar, mas com vantagem para os americanos”. 

Para além das competições puramente esportivas, a polarização Leste-Oeste impõe, também, novos desafios aos organizadores, especialmente quanto ao problema das vilas olímpicas para os atletas.

O historiador Thierry Terret contextualiza: “A questão da Vila Olímpica foi um desafio para os organizadores finlandeses. Esta inovação dos Jogos de Paris de 1924 pretendia ser uma espécie de símbolo da paz e de união entre atletas de todas as origens", explica. "Em 1952, a URSS recusou este símbolo e exigiu que seus atletas tivessem uma vila separada, que seriam as instalações da futura Helsinki University of Technology”, destaca. “As delegações de cinco países satélites acompanharam os soviéticos e um estandarte representando Stalin foi erguido no lugar da bandeira olímpica. Estávamos definitivamente no meio da Guerra Fria”, conclui.

Thierry Terret, historien du sport et de l’Olympisme
Thierry Terret, historien du sport et de l’Olympisme © Captura de tela

Primeira participação do Vietnã, em grande turbulência política  

Enquanto as Olimpíadas de Helsinque de 1952 ocorreram em um contexto de confronto geopolítico significativo, a primeira participação olímpica do Vietnã também refletiu uma situação política muito turbulenta no país. 

O fim da Segunda Guerra Mundial e a rendição do Japão, que ocupava a Indochina Francesa desde 1940, permitiram ao Việt Minh, frente nacionalista liderada pelo Partido Comunista de Ho Chi Minh, proclamar a independência em 2 de setembro de 1945, criando a República Democrática do Vietnã. Porém, o retorno dos franceses ao Vietnã levaria à segunda guerra da Indochina. No final de 1946, o governo de Ho Chi Minh se retirava para Viet Bac, região montanhosa do norte do país para combater os franceses até a vitória total, com a batalha de Dien Bien Phu, em 1954. 

No Sul, até 1954, os franceses aceitaram a criação de um Estado do Vietnã na União Francesa, instituição que substituiu o império colonial, que reunia a França continental, os departamentos ultramarinos e territórios ocupados não independentes. 

Esta foto tirada em 22 de abril de 1954 mostra soldados vietnamitas atacando posições francesas no aeroporto de Muong Thanh, no campo de batalha de Dien Bien Phu.
Esta foto tirada em 22 de abril de 1954 mostra soldados vietnamitas atacando posições francesas no aeroporto de Muong Thanh, no campo de batalha de Dien Bien Phu. AFP / VNA FILES

É nesse contexto que, em 1952, o Estado do Vietnã enviou a primeira delegação de atletas aos Jogos Olímpicos de Helsinque. Para isso, em novembro de 1951, foi criado o Comitê Olímpico Nacional do Vietnã, rapidamente reconhecido pelo COI. 

Pela primeira vez, a bandeira amarela com três faixas vermelhas do Estado do Vietnã foi hasteada ao lado das bandeiras de outros 68 países em uma Olimpíada. 

Os 8 atletas da delegação vietnamita participaram de 7 competições em 5 modalidades esportivas: atletismo, boxe, esgrima (espada), natação (100m e 400m livre) e ciclismo. Eles competiram na arena olímpica demonstrando o orgulho nacional. 

Nas Olimpíadas seguintes, em 1956 em Melbourne (Austrália), 1960 em Roma (Itália), 1964 em Tóquio (Japão), 1968 no México e 1972 em Munique (Alemanha Ocidental), os atletas vietnamitas, cada vez mais numerosos, participaram sob a bandeira da República do Vietnã (do Sul). 

Durante esse período, o governo comunista do Vietnã do Norte não pôde participar de atividades esportivas dentro do movimento olímpico. Cinco anos após a reunificação do país, em 1980, o COI reconheceu oficialmente o Comitê Olímpico Nacional do Vietnã como membro do Movimento Olímpico Mundial e os atletas vietnamitas tiveram o direito de participar dos Jogos Olímpicos, bem como de eventos esportivos na região.

A reinserção do esporte vietnamita nas competições internacionais começou com a participação nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, a antiga União Soviética, mais uma vez repleta de questões políticas. 

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