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Ucranianos devem se preparar para inverno com falta de luz, água e aquecimento, alerta Kiev

As Forças Armadas da Rússia confirmaram nesta terça-feira (18) ter atingido a infraestrutura energética da Ucrânia, em novos bombardeios que causaram cortes de eletricidade e água em várias cidades do país, inclusive na capital Kiev. "Todos os alvos foram atingidos", declarou o Ministério da Defesa russo, em comunicado semelhante ao publicado na véspera. Um assessor da presidência ucraniana alertou a população a se preparar para passar o inverno com falta de energia, água e aquecimento.

Os bombeiros carregam o corpo de uma pessoa morta depois que um drone atingiu um prédio em Kiev, Ucrânia, na segunda-feira, 17 de outubro de 2022.
Os bombeiros carregam o corpo de uma pessoa morta depois que um drone atingiu um prédio em Kiev, Ucrânia, na segunda-feira, 17 de outubro de 2022. AP - Yevhenii Zavhorodnii
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Os novos bombardeios russos mataram ao menos duas pessoas em Kiev e um homem de 55 anos em Mykolayev, cidade no sul da Ucrânia. 

"As Forças Armadas russas continuaram a atacar com armas aéreas e marítimas de alta precisão e de longo alcance os sistemas de comando militar e energia da Ucrânia", afirmou o Ministério da Defesa russo em seu relatório diário. O informe é praticamente idêntico ao divulgado ontem, após bombardeios que deixaram nove mortos na Ucrânia.

O Exército russo ainda afirma que reconquistou nesta terça-feira o vilarejo de Gorobivka, na região de Kharkiv (nordeste), que havia perdido para as forças ucranianas na contraofensiva iniciada por Kiev em setembro.   

Com a aproximação do inverno, "desde 10 de outubro, 30% das centrais elétricas ucranianas foram destruídas, causando apagões maciços em todo o país", denunciou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em mensagem no Twitter. Ele ainda reiterou sua recusa em negociar um cessar-fogo com o presidente russo, Vladimir Putin. 

A operadora ucraniana DTEK registrou "interrupções" no abastecimento de energia elétrica em uma área importante de Kiev. "Os engenheiros estão fazendo todos os esforços necessários para restabelecer a energia", afirmou a DTEK no Facebook. O prefeito da capital, Vitali Klitschko, pediu aos residentes que economizassem água e eletricidade. Ao menos 4 mil localidades sofrem com os apagões desde 7 de outubro, e 1.162 cidades ou vilarejos se encontram sem corrente elétrica em todo o país.

Em entrevista à TV, Kyrylo Tymoshenko, assessor da presidência ucraniana, considerou a situação "crítica" em todo o país, "porque nossas regiões são dependentes umas das outras". Ele afirmou que a população deve se preparar para a falta de energia, água e aquecimento, diante dos estragos causados pelos recentes bombardeios russos. 

Já na segunda-feira (17), os ataques de Moscou tinham matado pelo menos nove pessoas, cinco delas em Kiev, e provocado cortes de energia em três regiões da Ucrânia. A atual ofensiva russa aérea se soma aos bombardeios de 10 de outubro, que também destruíram infraestruturas elétricas e deixaram 19 mortos e 105 feridos. Os aliados ocidentais prometeram mais sistemas de defesa aérea, alguns dos quais já foram entregues à Ucrânia. 

O operador ucraniano Energoatom também acusou o Exército russo nesta terça-feira de "sequestrar" dois executivos da usina nuclear de Zaporíjia (sul), a maior da Europa, ocupada por tropas de Moscou desde março. O complexo tem sofrido bombardeios frequentes e cortes de energia desde a invasão russa em 24 de fevereiro, o que suscita o temor de um desastre nuclear.

Drones iranianos

O Estado-Maior da Ucrânia fez um balanço das operações dos dois lados em conflito.

"Nas últimas 24 horas, o inimigo lançou dez ataques de mísseis e 58 ataques aéreos, além de efetuar até 60 disparos com lança-foguetes múltiplos", resumiu o comando militar de Kiev na manhã de terça-feira. "A Rússia enviou 43 aviões drones do modelo "Shahed-136", de fabricação iraniana", prossegue o informe, "dos quais 38 foram abatidos por soldados ucranianos".

Kiev reivindicou a autoria de "22 ataques" realizados por sua força aérea na segunda-feira, mostrando mais uma vez que a Rússia não havia conseguido estabelecer sua supremacia aérea.

"Não temos essas informações", rebateu o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, quando foi questionado por um jornalista sobre o uso de drones iranianos. "A tecnologia russa está sendo utilizada, com nomes russos", acrescentou o porta-voz.

Ontem, o governo da Ucrânia pediu à União Europeia que impusesse mais sanções ao Irã, alegando que "o Irã é responsável pela morte de ucranianos". Mas o governo iraniano voltou a negar participação no conflito. "O Irã não exportou armas para nenhuma das partes beligerantes", disse Nasser Kanani, porta-voz diplomático da República Islâmica.

Washington ameaça impor sanções a empresas ou estados que colaboram com o programa de drones do Irã, após os ataques de segunda-feira na Ucrânia.   

"Aterrorizar e matar"

Os russos "continuam a fazer o que fazem de melhor – aterrorizar e matar civis", declarou o presidente Volodymyr Zelensky. "Em Mykolayev, o inimigo destruiu um prédio de apartamentos com mísseis C-300. Uma pessoa foi morta", afirmou o líder ucraniano. Segundo autoridades locais, a vítima era um homem de 55 anos encontrado nos escombros de um prédio atingido por um bombardeio noturno.

Em Dnipro, "os russos atingiram uma infraestrutura elétrica (...) com dois mísseis". Há um incêndio e sérios danos", disse o chefe da administração militar regional, Valentyn Reznichenko, referindo-se aos cortes de energia e água em toda a região.

Em Kharkiv, "o inimigo disparou oito mísseis provenientes da cidade russa de Belgorod", segundo o governador regional de Kharkiv, Oleg Synegoubov, que não relatou nenhuma baixa.

Outros bombardeios atingiram a cidade de Jytomyr, a oeste de Kiev. Na segunda-feira, ataques russos já tinham atingido a capital, as proximidades de Kharkiv e Soumy (nordeste), Donetsk (leste), Dnipropetrovsk (centro-este), Kherson e Mykolayev (sul).

"Alta precisão"  

O Exército russo, que enviará até 9.000 soldados e cerca de 170 tanques para Belarus, um aliado de Moscou que faz fronteira com a Ucrânia, disse na segunda-feira que havia atingido todos os seus alvos com "armas de alta precisão". A declaração provocou uma reação de Washington. 

Os russos "estão atacando a infraestrutura crítica (...) coisas que as pessoas precisam em sua vida cotidiana, que não são alvos militares", disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken. "Este é um sinal de desespero por parte da Rússia", afirmou Blinken.

O Exército russo tem enfrentado perdas territoriais significativas, desde a contraofensiva ucraniana iniciada em setembro. Tropas russas se retiraram de áreas do norte, leste e sul da Ucrânia. A única região onde Moscou ainda avança é uma área ao redor da cidade de Bakhmut, no leste, que soldados russos tentam tirar dos ucranianos desde o verão. 

Entretanto, apesar deste contexto em que nenhuma das partes está disposta a fazer concessões, 108 mulheres, na maioria militares, foram libertadas em uma nova troca de prisioneiros com a Rússia, informou a presidência ucraniana. 

Troca de prisioneiros

A Rússia afirma, por sua vez, que o Exército ucraniano bombardeou duas aldeias na região fronteiriça de Kursk, Tiotkino e Popovo-Lejatchi, causando cortes de energia. Na região de Belgorod, que também faz fronteira com a Ucrânia, o fogo ucraniano atingiu uma estação ferroviária, causando danos e ferindo uma pessoa, segundo o governador Vyacheslav Beglov. 

Não muito distante dessa área, a queda de um caça-bombardeiro supersônico russo, na segunda-feira, causou a morte de 13 pessoas e deixou 19 feridos. O incidente aconteceu em Yeysk, cidade de 90 mil habitantes no sudoeste da Rússia, situada em frente à ucraniana Mariupol, que foi devastada por um cerco das forças de Moscou no início do conflito. O aparelho caiu sobre um prédio residencial que abrigava 600 pessoas, deflagrando um incêndio de grandes proporções. Entre os mortos havia três crianças, de acordo com os socorristas, que concluíram as operações nos escombros do edifício.

A Rússia abriu uma investigação para apurar as causas da queda do avião e privilegia a hipótese de uma "falha técnica".

Com informações da AFP

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