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Rússia aperta a repressão contra a imprensa livre

Um tribunal de Moscou condenou, nesta segunda-feira (5) o ex-jornalista russo Ivan Safronov, especialista em questões militares, a 22 anos de prisão por alta traição. No mesmo dia, a Justiça russa revogou a licença de distribuição da edição impressa do jornal Novaya Gazeta, pilar do jornalismo de investigação no país, em mais uma medida de repressão aos críticos do conflito na Ucrânia.

Ivan Safronov, ex-jornalista, foi acusado de traição estatal. Ele aparece atrás das grades em uma audiência em Moscou, Rússia, em 5 de setembro de 2022.
Ivan Safronov, ex-jornalista, foi acusado de traição estatal. Ele aparece atrás das grades em uma audiência em Moscou, Rússia, em 5 de setembro de 2022. via REUTERS - MOSCOW CITY COURT
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Preso desde 2020, Safronov, 32 anos, terá de cumprir pena em uma "colônia penal sob um regime severo", segundo a decisão do Tribunal da Cidade de Moscou. Na semana passada, a promotoria exigiu contra ele 24 anos de prisão.

A promotoria sustenta que Safronov "transmitiu informações a representantes de serviços de inteligência estrangeiros, sabendo que poderiam ser usadas por Estados membros da OTAN contra a segurança da Rússia".

O jornalista nega firmemente essas acusações. Ele havia trabalhado para dois diários nacionais russos, antes de se tornar, em maio de 2020, conselheiro do então diretor da agência espacial russa Roscosmos.

A pressão contra a mídia independente já crescia na Rússia, mas a ofensiva do Kremlin na Ucrânia, em fevereiro, marcou uma forte aceleração da interferência estatal. Dezenas de sites de mídia foram bloqueados e jornalistas fugiram do país em massa.

Nobel da Paz

O corte da licença da edição em papel do Novaya Gazeta é mais um capítulo dessa luta, já que o jornal era um símbolo da liberdade de imprensa. O tribunal de Basmanny, em Moscou, invalidou o certificado de registro da versão impressa do Novaya Gazeta, cujo editor-chefe, Dmitry Muratov, foi um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz em 2021, que dividiu com a jornalista filipina Maria Ressa.

"Hoje mataram o jornal. Roubaram 30 anos das vidas de seus funcionários. Privaram os seus leitores do direito à informação", denunciou a redação em um comunicado de imprensa, assegurando, no entanto, que a sua "liberdade" continuaria a existir.

A decisão ocorre poucos dias após o funeral de Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética (URSS) que morreu na terça-feira passada, aos 91 anos, e que foi cofundador do jornal.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou um "novo golpe" à independência da mídia russa.

De fato, a Novaya Gazeta, fundado em 1993, não circula desde o final de março. A administração havia suspendido a sua publicação online e impressa por medo de represálias a seus jornalistas que cobriam a ofensiva russa contra a Ucrânia. Mas alguns de seus repórteres lançaram um novo site do exterior, o Novaya Gazeta Europa.

Por quase 30 anos, este jornal concentrou-se na Rússia em todos os temas delicados: a corrupção das elites, os misteriosos soldados russos do grupo Wagner ou a repressão aos homossexuais na Chechênia.

Por esse compromisso com a busca dos fatos, o veículo paga um alto preço: seis de seus jornalistas ou colaboradores foram mortos desde a sua criação.

“Hoje, nossos colegas, que já haviam sido mortos por este governo porque estavam cumprindo seu dever profissional, foram mortos novamente”, destacou a redação do Novaya Gazeta, nesta segunda-feira.

(Com informações da AFP)

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