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Relatório da ONU aponta para valores que ligam bem-estar humano à situação do planeta

A humanidade deve deixar de considerar a natureza como fonte de lucro a curto prazo e se basear em "valores" que ligam o seu próprio bem-estar ao estado do nosso planeta, alerta a ONU em um relatório publicado segunda-feira (11). A mudança é apontada como necessária para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável e redução das desigualdades no mundo, ressaltam os especialistas em biodiversidade da ONU e do IPBES, em um documento dedicado a “valores e avaliação da natureza". 

Um grupo de 80 especialistas analisou mais de 13.000 estudos científicos sobre a destruição de ecossistemas, investigando as razões para as mudanças e os valores que poderiam promover a sustentabilidade. Os pesquisadores apontam que os homens são as principais causas da crise ambiental. Imagem ilustrativa.
Um grupo de 80 especialistas analisou mais de 13.000 estudos científicos sobre a destruição de ecossistemas, investigando as razões para as mudanças e os valores que poderiam promover a sustentabilidade. Os pesquisadores apontam que os homens são as principais causas da crise ambiental. Imagem ilustrativa. © Wikimedia Commons CC BY-SA 4.0 Christian Ferrer
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"A forma como abordamos o desenvolvimento econômico está no centro da crise da biodiversidade", resume Unai Pascual, economista ambiental da Universidade de Berna e co-presidente do grupo de trabalho do IPBES - Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos -, que adotou o relatório em uma reunião de 139 países. O texto “visa integrar diferentes tipos de valores nas decisões”, continua o especialista.

A publicação acontece três dias depois da divulgação de outro relatório do IPBES alertando que a superexploração de espécies selvagens ameaça o bem-estar de bilhões de seres humanos. Esses dois trabalhos alimentarão as discussões da COP15 biodiversidade, que acontece de 5 a 17 de dezembro, em Montreal, no Canadá. O evento deve estabelecer uma estrutura para proteger a natureza e seus recursos em nível global, até 2050.

Para este segundo relatório, 80 especialistas analisaram mais de 13.000 estudos científicos sobre a destruição de ecossistemas, investigando as razões para as mudanças e os valores que poderiam promover a sustentabilidade. Os pesquisadores apontam que os homens são as principais causas da crise ambiental, que está intimamente ligada às mudanças climáticas. Eles ainda ressaltam que o bem-estar futuro de nossas sociedades vai exigir uma natureza saudável e capaz de se regenerar.

Desde 1950, a expectativa média de vida da população quase dobrou, enquanto a riqueza per capita (em termos de PIB) aumentou cinco vezes. “A natureza é o que nos permite viver”, observou a chefe do programa ambiental da ONU, Inger Andersen. "Ela nos fornece alimentos, cuidados, matérias-primas, oxigênio, regulação climática e muito mais", destaca.

Limites planetários

Porém, a Terra tem limitações físicas e, segundo os cientistas, pelo menos seis dos nove "limites planetários" - limites que a humanidade não deve ultrapassar para preservar as condições favoráveis ​​em que conseguiu se desenvolver - já foram ultrapassados.

Dois relatórios anteriores da ONU em 2019 sobre mudanças climáticas e biodiversidade já haviam apontado que apenas uma profunda transformação da maneira como produzimos, distribuímos as riquezas e consumimos poderia ajudar a corrigir essa situação.

Uma tarefa quase impossível se a humanidade não mudar a maneira como vê e avalia a natureza, alertam os especialistas do IPBES, que define situações diferentes para essa relação.

Os seres humanos vivem "da" natureza ao se concentrarem na exploração de recursos para alimentar seu crescimento e estilo de vida. Viver "com" a natureza supõe considerá-la independente das necessidades humanas.

O objetivo declarado de colocar 30% das superfícies do mundo sob o status de área protegida inscreve-se nesta categoria em particular, juntando-se à primeira na medida em que permite, por exemplo, manter os estoques de peixes graças às zonas não pesqueiras.

Já para as comunidades indígenas, que vivem "na" natureza, o meio ambiente faz parte de sua identidade e cultura, uma união ainda mais reforçada para quem vive "como" a natureza.

Grandes projetos devem ser decididos levando em consideração todos esses "valores", e não apenas os custos-benefícios, de acordo com o relatório. “Acreditamos que este estudo sobre valores pode ajudar as negociações, politicamente falando”, acrescenta Unai Pascual. "Mas há a sensação preocupante de que não será nada fácil", admite.

 

(Com informações da AFP e da RFI)

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