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Guerra na Ucrânia: imprensa francesa pede prudência no uso do termo "genocídio"

Os principais jornais franceses desta quarta-feira (6) continuam repercutindo as atrocidades na cidade de Bucha, na Ucrânia, que comoveram o mundo. O jornal Libération exige mais atenção na utilização do termo "genocídio" e evoca a necessidade de uma investigação dos fatos para estabelecer os responsáveis pelas mortes na periferia de Kiev.

Restos mortais de civis são enterrados em Bucha, na periferia de Kiev, 4 de abril de 2022.
Restos mortais de civis são enterrados em Bucha, na periferia de Kiev, 4 de abril de 2022. AP - Rodrigo Abd
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"Repetido e banalizado, o termo genocídio acaba por suscitar uma confusão lamentável, perdendo sua pertinência e seu caráter excepcional", afirma o jornalista Arnaud Vaulerin, chefe-adjunto da editoria Mundo do Libération. Na coluna, ele afirma não ter a intenção de minimizar os massacres que ocorrem na Ucrânia, mas acredita que a utilização excessiva do termo, cada vez que atos de violência são registrados, acaba diminuindo a relevância de outras denominações, como crimes de guerra e crimes contra a humanidade. 

Vaulerin critica o fato de a imprensa e até líderes ocidentais estarem classificando as violências na Ucrânia, desde o início da invasão, de genocídio. O termo, definido em uma Assembleia da ONU em 1946, aponta "a recusa do direito à existência de populações inteiras" e, diz Libé, para ser determinado precisa antes ser investigado. O jornalista lembra que muitos nacionalistas sérvios que, nos anos 1990 assassinaram e estupraram civis, cercaram Sarajevo, deportaram a população e não foram jamais condenados por esse crime. 

Condenação de Putin

Já o jornal Le Figaro entrevistou um especialista sobre os poderes do Tribunal Penal Internacional (TPI) em uma possível condenação do presidente russo, Vladimir Putin. Didier Rebut, professor de Direito Penal na Universidade Paris 2 Assas, afirma que apenas um longo trabalho de pesquisa poderá determinar qual a natureza das atrocidades de Bucha. O especialista explica que o massacre de civis por forças de ocupação, "como parece ter ocorrido na periferia de Kiev", é considerado como um crime de guerra e constitui uma infração grave à Convenção de Genebra. 

No entanto, Rebut é pessimista sobre as consequências que uma condenação no TPI pode ter para a Rússia. Segundo ele, mesmo após um longo processo que pode durar anos, um mandado de prisão contra Putin não teria nenhum efeito porque o próprio presidente russo não reconhece a legimitidade desta que é a maior instância da justiça internacional.

Lavagem cerebral na Rússia

Já o jornal La Croix trata da abordagem das violências em Bucha pelas mídias russas. Segundo o diário, as imagens chocantes das atrocidades não deixaram de ser exibidas na Rússia, mas sob a retórica de que elas não passam de uma encenação do governo ucraniano. Na TV, os programas atiçam o ódio da população contra a Ucrânia, apresentada como "nazista".

As vítimas de Bucha ganharam uma narrativa conspiracionista. Em um talk-show político do canal Rossiya 1, o apresentador afirma que moradores "atores" interpretaram o papel de cadáveres nos vídeos e fotos que rodaram o mundo. "Mais de um mês após o início da invasão russa, a guerra na Ucrânia se transforma, através do prisma das mídias russas, em um verdadeiro conflito de civilizações", conclui. 

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