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Guerra na Ucrânia abala relação entre a Igreja Ortodoxa de Kiev e Moscou

O conflito armado abala a Igreja Ortodoxa, dominante na Ucrânia. No país, a religião é formada por correntes religiosas, divididas entre o respeito ao patriarca de Kiev e ao de Moscou, tradicionalmente próximo do Kremlin. Mas com a guerra, os religiosos pró-Moscou vacilam.

A Catedral São Volodymyr de Kiev, sede da Igreja Ortodoxa da Ucrânia.
A Catedral São Volodymyr de Kiev, sede da Igreja Ortodoxa da Ucrânia. Dezidor/wikimedia.org
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Com informações do correspondente da RFI em Kiev, Stéphane Siohan

Tradicionalmente, a Igreja Ortodoxa ucraniana é dominada pela corrente que segue a jurisdição do patriarcado russo. Antes da guerra, ela adotava tanto as posições políticas do patriarca de Moscou quanto as do Kremlin. Com essa postura, se opunha à evolução da sociedade ucraniana e da outra corrente da Igreja Ortodoxa do país, que se emancipou da tutela russa em 2019.

Mas, após o início ataque da Rússia contra o território ucraniano há dez dias, os religiosos fiéis a Moscou estão em estado de choque. No Mosteiro de Laures de Petchersk, sede do patriarcado russo na Ucrânia, o porta-voz da igreja, Nikolaï Danilevitch, não consegue esconder sua irritação. “Nossa Igreja tomou uma posição categórica contra essa guerra, que condenamos sem reserva”, disse, informando que o “metropolita (arcebispo) Onuphre pediu a Putin para acabar com o conflito sangrento e com a agressão”.

Segundo o porta-voz, o primaz da Igreja ucraniana ligou no primeiro dia do conflito para o patriarca Kirill de Moscou pedindo que ele interviesse junto ao presidente russo pela paz. “Essa é uma guerra, uma invasão, e devemos defender nosso país e nossa pátria”, completou Nikolaï Danilevitch.

“Esta invasão é um ato de traição”

No entanto, foi o próprio patriarca Kirill que abençoou os soldados russos antes do início da ofensiva e declarou abertamente apoiar a ação militar do Kremlin. Para o porta-voz da Igreja ucraniana, esse apoio mostra que o clero de Moscou participou das mentiras das autoridades russas, que esconderam suas verdadeiras intenções na Ucrânia.

“Sim, mentir é pecado e as autoridades russas mentiram”, ressalta. “Muitas pessoas acreditaram nas autoridades russas, que disseram que não haveria guerra, que não estavam planejando nada. É por isso que essa invasão é um ato de traição, que acabou com nossa confiança", pontuou.

O abalo pode ser irremediável e essa guerra pode ter grandes consequências religiosas. A corrente ucraniana do Patriarcado de Moscou pode se afastar da matriz para se aproximar do Patriarcado de Kiev, que se tornou a Igreja Nacional Ucraniana.

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