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Espionagem de líderes europeus é "grave" se for confirmada, diz secretário francês

A Agência de Segurança Nacional (NSA) americana teria tido acesso às mensagens e dados de diversos líderes europeus, inclusive da chanceler alemã Angela Merkel, entre 2012 e 2014, com a ajuda dos Serviços de Inteligência dinamarqueses. O caso, se confirmado, é algo "extremamente grave", declarou nesta segunda-feira (31) o secretário de Estado francês para Assuntos Europeus, Clément Baune.

A chanceler alemã Angela Merkel foi espionada pela NSA na época em que Obama estava no poder
A chanceler alemã Angela Merkel foi espionada pela NSA na época em que Obama estava no poder AP - Julian Stratenschulte
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A revelação foi feita neste domingo (30) por vários veículos de comunicação dinamarqueses e europeus. "Precisamos verificar se nossos sócios dinamarqueses da União Europeia cometeram erros ou falhas em sua cooperação com os serviços americanos", disse Baune. "E do lado americano, compreender se houve espionagem de autoridades políticas", acrescentou.

A TV pública dinamarquesa Danmarks Radio (DR) afirmou que a NSA se conectou a cabos de telecomunicações dinamarqueses para espionar altos funcionários de Alemanha, Suécia, Noruega e França. Para executar a tarefa, a agência teria aproveitado uma cooperação de vigilância que tinha com os serviços de inteligência militares dinamarqueses FE.

A investigação foi realizada em conjunto com a emissora sueca SVT, a norueguesa NRK, as alemãs NDR e WDR, os jornais alemão Suddeutsche Zeitung e o jornal francês Le Monde. A ministra dinamarquesa da Defesa, Trine Bramsen, nomeada em junho de 2019, foi informada sobre o caso em agosto de 2020, segundo a DR.

"A NSA já foi acusada várias vezes de fazer esse tipo de espionagem entre aliados", explica Philippe Hayez, professor da Faculdade francesa Sciences Po e co-autor do livro "Nouvelles leçons sur le renseignement" ou Novas Lições sobre os Serviços de Inteligência, em tradução livre. "O interesse é variado. Podem ser elementos de natureza diplomática, para verificar, por exemplo, o engajamento em relação aos compromissos assumidos em áreas diversas", disse em entrevista à RFI. "Podem ser propostas de negociação ligadas ao clima, à OTAN, ou de natureza econômica", detalha. "Neste caso específico, o problema é que há provavelmente uma cooperação. Parece que os serviços de inteligência dinamarqueses tinham conhecimento dessa intrusão americana", completa.

Ainda não sabe se a Dinamarca estava a par de que os Estados Unidos usaram seu sistema de vigilância para obter informações confidenciais de seus vizinhos. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha na época e atual presidente, Frank-Walter Steinmeier, e o líder da oposição, Peer Steinbruck, estão entre as pessoas espionadas. A NSA teve acesso a mensagens de texto, chamadas telefônicas e à atividade na Internet, inclusive as buscas, os chats e os serviços de mensagem instantânea, segundo o canal dinamarquês.

Revelação não surpreende alemães

De acordo com o correspondente da RFI em Berlim, Pascal Thibaud, Patrick Sensburg, não ficou surpreso com a revelação. O deputado do partido cristão-democrata havia presidido a comissão de investigação do Parlamento sobre os grampos telefônicos da NSA e diz que os serviços de inteligência não têm amigos, "apenas interesses para defender". Os responsáveis alemães que teriam sido alvo dos grampos afirmam que nunca estiveram a par das ações da agência americana. Esta não é primeira vez que membros do governo alemão são alvo de espionagem: as revelações feitas pelo ex-funcionário da NSA, Edward Snowden, em 2013, mostravam que Merkel já tinha tido seu telefone celular hackeado.

Snowden revelou a existência de um sistema de vigilância global das comunicações e da Internet provavelmente "sem a autorização do poder político americano", explicou o especialista francês. O presidente americano Barack Obama teria, desta forma, descoberto as práticas da NSA depois que elas já tinham ocorrido, acredita Philippe Hayez.

 A nova denúncia de espionagem consta de um relatório interno da FE com o nome de "Operação Dunhammer" que foi apresentado à direção do orgão em maio de 2015, segundo a TV pública dinamarquesa. A DR afirma ter confirmado a informação através de nove fontes que tinham acesso à informação sigilosa da FE, e garante que suas revelações foram confirmadas por outras fontes independentes. Em novembro de 2020, a RD já tinha informado que os Estados Unidos usaram cabos dinamarqueses para espionar as indústrias de defesa dinamarquesas e europeias de 2012 a 2015.

(RFI e AFP)

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