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Suíça/ economia

Salário de R$ 9 mil sem trabalhar? Suíços rejeitam proposta inédita

Os suíços rejeitaram por ampla maioria a criação de uma renda básica para todos os cidadãos, inclusive os desempregados, em um referendo realizado neste domingo (5). O projeto, único no mundo, provocou intensos debates no país, que preza o valor do trabalho.

Suíços são consultados regularmente em referendos, sobre as propostas mais diversas.
Suíços são consultados regularmente em referendos, sobre as propostas mais diversas. REUTERS/Ruben Sprich
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Ao final da apuração, 76,9% dos eleitores rejeitaram a proposta. A maioria dos suíços vota por correspondência, o que levou as seções eleitorais a ficarem abertas por apenas duas horas.

A iniciativa popular "por uma Renda de Base Incondicional" (RBI) pretendia pagar uma remuneração ou salário a todos os suíços ou estrangeiros que moram no país há pelo menos cinco anos, com ou sem trabalho. A iniciativa sugeria um pagamento mensal de 2.500 francos suíços (€ 2.260 ou R$ 9.065) para os adultos – um valor considerado baixo para o caro padrão de vida na Suíça – somados de mais 625 francos (€ 565 euros ou R$ 2.266) para cada menor de idade.

A rejeição da proposta, apresentada por um grupo sem vínculos partidários, não surpreende em um país que, em 2012, se recusou a aumentar o período anual de férias remuneradas de quatro para seis semanas, por temer a perda de competitividade. "Os suíços votaram de forma realista", afirmou ao canal RTS Andreas Ladner, professor da Universidade de Lausanne.

Financiamento é o problema

O projeto exigiria uma fonte de financiamento adicional de quase 25 bilhões de francos por ano, o que significaria um aumento de impostos ou a criação de novas taxas. Tanto o governo como quase todos os partidos políticos consideravam a ideia utópica e excessivamente onerosa para os cofres públicos. A proposta é única no planeta.

"É um sonho que existe há tempos, mas que se tornou indispensável devido ao desemprego provocado pela crescente automatização", explicou à AFP um dos líderes da iniciativa, Ralph Kundig.

Depois da votação, Kundig se declarou "muito feliz" com o resultado. Um em cada cinco eleitores votou a favor da RBI, o que ele considera um avanço.

"É um sonho antigo, um pouco marxista. São muitos sentimentos bons irrefutáveis, mas sem nenhuma reflexão econômica", observou o diretor do Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários de Genebra, Chrles Wyplosz, que comentou à AFP que, se a relação entre a remuneração e o trabalho acabar, "as pessoas farão menos".

O ministro suíço do Interior, Alain Berset, que tem doutorado em Economia, havia chamado o projeto de "algo utópico". A seu lado, o governo, o Parlamento e os partidos políticos, exceto os Verdes e a extrema-esquerda, eram contrários à ideia.

Um novo mundo trabalhista

Para os Verdes, a RBI garantiria um "mínimo vital", uma vantagem para os empregados, que poderão resistir melhor à pressão do mercado de trabalho e rejeitar condições trabalhistas deploráveis.

O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, não chegou a se posicionar, mas reconheceu que a transformação no longo prazo do mundo trabalhista levará as sociedades a "encontrar meios de distribuição de receitas nacionais que não estejam diretamente relacionados ao trabalho ou ao salário".

Consultados no referendo sobre outros temas, 66% dos eleitores suíços aprovaram uma reforma para acelerar os procedimentos de um pedido de asilo e 61% a autorização do diagnóstico genético pré-implantacional (DGP), em tratamentos de infertilidade.

Com informações AFP
 

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