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Turquia/curdos

Violência chega à parte turística de Istambul

A Turquia foi palco de novos confrontos nesta quarta-feira (19) entre forças do governo e militantes do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão. Além da violência cotidiana, o país enfrenta uma crise política e se aproxima cada vez mais de novas eleições legislativas.

Local dos confrontos entre o Partido dos Trabalhadores do Kurdistão, o PKK, e as froças do governo de Recep Erdogan, em Istambul, em 18 de agosto de 2015.
Local dos confrontos entre o Partido dos Trabalhadores do Kurdistão, o PKK, e as froças do governo de Recep Erdogan, em Istambul, em 18 de agosto de 2015. REUTERS/Sertac Kayar
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Nesta quarta-feira, foram registrados disparos de arma de fogo e a explosão de uma bomba em frente ao palácio otomano de Dolmabahçe, sede do gabinete do primeiro-ministro. Esse ataque não deixou mortos ou feridos nem foi reivindicado. Mas, de acordo com a imprensa turca, duas pessoas foram presas e o tráfego foi interrompido nas principais avenidas ao redor do palácio, localizado perto da Torre Galata, do lado europeu da metrópole.

O ataque mais grave aconteceu no início do dia: oito soldados turcos morreram quando seu veículo foi atingido por explosivos no distrito de Pervari, na província de Siirt, no sudoeste do país. Esse atentado, foi o mais violento sofrido pelo exército turco desde que Ancara lançou sua "operação antiterrorista", foi atribuído ao PKK.

Operação anticurda

Essa operação que, em tese, deveria visar o PKK e o grupo Estado Islâmico, acabou servindo de desculpa para o presidente Recep Tayyip Erdogan lançar uma guerra total contra os curdos. O conflito entre turcos e autonomistas curdos, que já se arrasta por mais de 30 anos, estava calmo desde 2013, quando o líder curdo Abdullah Ocalan decretou um cessar-fogo. As duas partes estavam inclusive em processo de paz.

Mas as tensões se acirraram depois das últimas eleições legislativas, em que o Partido Democrático dos Povos (HDP) conseguiu cruzar a barreira dos 10% e elegeu 90 deputados, acabando com a maioria parlamentar do governista AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento). Sem maioria, Erdogan viu ruírem-se as condições para que ele passasse seu principal projeto: mudar a Constituição para outorgar plenos poderes ao presidente.

Mesmo sem alterar a Carta Magna, o chefe do Executivo tem dito que a Turquia já vive um presidencialismo "de facto". Na semana passada, ele voltou a fazer declarações neste sentido: "queiram vocês ou não, o regime turco mudou". Essa atitude de pouco respeito pela ordem democrática - Erdogan sugeriu a suspensão da imunidade dos deputados do HDP e acusou seu líder, Selahatin Demirtas, de terrorismo - acirrou as diferenças na Câmara.

Conivência com jihadistas

A militância denunciava sobretudo a conivência do presidente com o grupo Estado Islâmico. No final de julho, um atentado atribuído aos jihadistas - mas que não foi assumido formalmente por eles - matou 33 militantes pró-curdos que se preparavam na cidade turca de Suruç para partir em missão humanitária para Kobane, do outro lado da fronteira com a Síria.

As denúncias de colaboração com os jihadistas se converteram em ataques do PKK contra as forças de segurança. E deram a desculpa perfeita para o presidente lançar sua ofensiva contra os curdos. De lá para cá, os confrontos têm sido diários.

Incerteza política

No plano político, a convocação de novas eleições legislativas parece cada vez mais real, depois que o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, colocou seu cargo à disposição na terça-feira (18). Ele admitiu não ver possibilidade de formação um governo de coalizão com os partidos de oposição, os social-democratas (CHP, segunda força no parlamento) e o Partido Nacionalista (MHP, terceiro).

A perspectiva de um novo pleito cai como uma luva para Erdogan, que espera recuperar a maioria parlamentar no processo. Nesta quarta-feira, ele disse que o país deve, inevitavelmente, "consultar a vontade popular" para sair do impasse político.

Em um novo pleito, ele espera que os ataques diários do PKK derrubem a popularidade do abertamente pró-curdo HDP. Pela legislação turca, se o partido ficar abaixo da barreira de 10%, não tem o direito de eleger nenhum deputado. Este cenário devolveria a Erdogan a maioria com que ele governou entre 2003 e 2014, tempo em que foi primeiro-ministro.

Neste contexto de agitação geral, a moeda turca voltou a despencar em relação ao dólar e ao euro, alcançando novos recordes negativos. A libra (TL) era negociada a 2,93 TL por um dólar e 3,23 por um euro, em queda de cerca de 1,2%.

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