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Clubes argentinos são duramente penalizados por racismo contra brasileiros nos estádios

A Conmebol sancionou o River Plate pelas atitudes racistas contra os torcedores do Fluminense, mas também os clubes Gimnasia y Esgrima e Huracán. Em maio, o Racing já tinha sido multado por agressões racistas contra torcedores e jogadores do Flamengo. Os próprios clubes argentinos e o Ministério da Justiça de Buenos Aires têm procurado identificar os torcedores racistas. Os brasileiros são os principais alvos do racismo nos estádios argentinos. 

Juiz de futebol retira cobertura da bola com a inscrição "Basta de racismo" antes de uma partida da Copa Libertadores em 08/06/2023.
Juiz de futebol retira cobertura da bola com a inscrição "Basta de racismo" antes de uma partida da Copa Libertadores em 08/06/2023. AFP - ALEXANDRE LOUREIRO
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Marcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

No dia 7 de junho passado, quando Fluminense e River Plate se enfrentaram em Buenos Aires pela quinta rodada da Copa Libertadores da América, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) exibia no estádio Monumental do River uma campanha contra o racismo.

“Chega! Sem mais racismo no futebol”, lia-se numa faixa. Ao mesmo tempo, a bola do jogo foi coberta com a frase “Chega de racismo”.

Nos dias prévios à partida, o próprio River Plate advertiu que sancionaria os torcedores que fossem identificados com cantigas ou gestos racistas, ou xenófobos.

“O Clube solicita a todos os simpatizantes que evitem essa conduta que prejudica economicamente a Instituição. O Clube aplicará sanções a todos aqueles que não cumprirem com esta normativa”, publicou o River.

Os esforços foram em vão. A Unidade Disciplinar da Conmebol acaba de sancionar o Clube Atlético River Plate com uma pesada multa, com a interdição parcial de um setor da arquibancada e com a obrigatoriedade de uma campanha contra o racismo, como consequência das palavras e dos gestos racistas de torcedores do clube argentino contra a torcida do Fluminense.

No próximo jogo do River Plate como mandante em Buenos Aires pelas oitavas de final da Libertadores, o setor da arquibancada denominado “Centenario Alta”, com capacidade para seis mil torcedores, deverá ficar pela metade, excluindo três mil entradas. O espaço vazio deverá ser ocupado por uma faixa, cujas dimensões e desenho deverão ser estabelecidas pela Conmebol, com o seguinte lema: “Chega de racismo”.

“O fechamento parcial da arquibancada excetua o setor destinado à torcida visitante. O clube informará à Conmebol, pelo menos sete dias antes da sua próxima partida, o plano operacional para a execução dessa medida. A reincidência poderá levar a um novo fechamento parcial ou total do estádio”, advertiu a Conmebol.

Além disso, no telão do estádio deverá haver uma imagem contra o racismo a ser definida pela Conmebol, bem como uma campanha contra o racismo, previamente aprovada pela Conmebol, nas redes sociais do River Plate durante os três dias anteriores ao jogo.

A punição também inclui uma multa de US$ 100 mil que poderá passar a US$ 400 mil se os torcedores do clube reincidirem no reprovável comportamento.

“O montante da multa será debitado automaticamente do montante a ser recebido pelo clube pelos direitos televisivos ou de patrocínio”, avisou a Conmebol.

Outros clubes argentinos sancionados por racismo

Além do River, o clube argentino Gimnasia y Esgrima de La Plata também sofreu a multa de US$ 100 mil devido ao comportamento racista dos seus torcedores contra os jogadores do Independiente de Santa Fe, durante a partida do dia 23 de maio pela Copa Sul-americana.

Depois do jogo, o atacante colombiano Hugo Rodallega desabafou ainda no estádio: “Não melhoramos como humanidade. É um desastre o que acontece no mundo inteiro. Esse assunto de racismo cansa. Que te chamem de macaco e negro... É uma falta de respeito. Dá tristeza”.

Outro clube argentino, o Huracán, também terá de pagar US$ 100 mil por atitudes racistas contra o Emelec, do Equador, no dia 25 de maio.

O artigo 15.2 do Código Disciplinar da Conmebol, no qual se baseiam as sanções, estabelece que “qualquer associação membro ou clube cujos torcedores insultarem, ou atentarem contra a dignidade humana de outra pessoa, ou grupo de pessoas, através de qualquer meio, por motivos de cor de pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será sancionado com uma multa de, pelo menos, cem mil dólares americanos. No caso de reincidência, o infrator poderá ser sancionado com uma multa de quatrocentos mil dólares americanos”.

A Conmebol permite recurso contra as suas decisões no prazo de sete dias, mas cobra uma taxa de três mil dólares para o clube que pretender apelar.

Em maio passado, o clube argentino Racing já tinha sido multado em 100 mil dólares devido a insultos e ofensas racistas contra torcedores e jogadores do Flamengo.

Repúdio do Fluminense

Antes e durante o jogo entre Fluminense e River Plate, em Buenos Aires, pela Copa Libertadores da América, diversos torcedores argentinos imitavam macacos. Aconteceu ao longo do trajeto do ônibus do tricolor em direção ao estádio Monumental e contra a torcida pó de arroz localizada na mesma arquibancada “Centenario Alta”.

O Fluminense emitiu uma nota de repúdio no dia seguinte: “No jogo contra o River Plate, cenas lamentáveis de racismo se repetiram dentro e fora do estádio. Alguns desses atos foram gravados, publicados e estão disponíveis para que as autoridades possam identificar e punir os responsáveis. O Fluminense espera que medidas sejam tomadas para que o racismo seja combatido e enfim erradicado do ambiente esportivo”.

Ainda no estádio, o técnico do Fluminense, Fernando Diniz, disparou indignado: “Em relação aos casos de racismo, é lamentável. Não foi só aqui dentro do estádio. Nas ruas também de Buenos Aires. A Conmebol tem que tomar uma atitude com relação a isso. Acontece com muita gente. Não é um ou outro. São muitos. Estamos vivendo no mundo que é todo mundo irmão. Só serve quem tem linhagem europeia? Isso é uma vergonha para o país, para a cidade, para o clube”.

Os ataques contra torcedores brasileiros têm acontecido pelos países da região. Além de Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Nesta semana, foram registrados torcedores imitando macacos durante a partida do Atlético Mineiro contra o Libertad, em Assunção, Paraguai, pela Copa Libertadores. Também pela Libertadores, torcedores do Nacional do Uruguai contra os do Internacional, em Montevidéu.

Torcedores identificados e banidos dos estádios

O curioso desse comportamento é que esses torcedores racistas também sofrem racismo. Em maio de 2022, torcedores do Boca Juniors imitaram macacos contra os do Corinthians, mas os torcedores do Boca também são alvos de racismo por parte de cantos de outras torcidas que atacam a origem popular de imigrantes paraguaios e bolivianos que formam boa parte dos fanáticos do Boca.

Em abril de 2022, torcedores chilenos da Universidade Católica do Chile imitaram macacos para insultar os do Flamengo.

Em 29 de abril de 2022, o River Plate tinha sido multado em 30 mil dólares por gestos racistas dos seus torcedores durante o jogo do dia 13 contra o Fortaleza no estádio Monumental, pela Copa Libertadores. Um torcedor mostrou uma banana e depois lançou a casca contra a torcida do Fortaleza.

Identificado pelo River, o torcedor Gustavo Sebastián Gómez, um sócio do clube, foi suspenso por seis meses e teve de fazer um curso de conscientização no argentino Instituto contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI).

Também em 26 de abril do ano passado, o torcedor do Boca Juniors, Leandro Ponzo, foi preso em São Paulo, depois de fazer gestos racistas contra a torcida do Corinthians. Foi libertado depois de pagar uma multa.

Posteriormente, esses dois torcedores foram novamente penalizados pelo Ministério de Justiça e Segurança do Distrito Federal de Buenos Aires e proibidos de ir aos estádios por quatro anos, no caso do racista do River Plate, e por dois anos, no caso do racista do Boca

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