Perseguição a Tite lembra caso de Saldanha durante a ditadura, diz L'Equipe
“Tite fica e boicote acaba", escreve o L'Équipe em sua edição desta terça-feira (8) ao analisar a decisão dos jogadores da Seleção Brasileira de disputar a Copa América. "Jair Bolsonaro queria a demissão do técnico, mas Tite foi salvo pelo escândalo atual na CBF", esclarece o principal jornal esportivo francês.
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O texto é assinado pelo correspondente do diário no Brasil, Eric Frosio. Ele começa a matéria dizendo que o “país do futuro”, como descreve a famosa frase do escritor austríaco Stefan Zweig, parece preferir o passado.
Nos últimos dias, o Brasil e seu futebol dão a impressão de ter voltado 50 anos no tempo, à época da ditadura militar, quando João Saldanha comandava com sua astuciosa tática do 4-2-4 uma das mais belas equipes da história. No entanto, considerado comunista, o ex-jornalista foi afastado pelo poder as vésperas da Copa do Mundo de 1970, que consagrou Pelé, Tostão e outros tricampeões.
História se repete
Hoje, a história se repete, “com Jair Bolsonaro no papel do general Médici e Tito no de Saldanha”. O correspondente do L'Equipe cita o jornalista brasileiro André Rizek para afirmar que o presidente de extrema direita, sem partido, fez do técnico de 60 anos o alvo principal de suas críticas. Bolsonaro havia pedido ao presidente da CBF, Rogério Caboclo, para afastar o treinador logo após o jogo desta terça-feira contra o Paraguai pelas eliminatórias da Copa do Mundo.
Para Bolsonaro, Tite e seus assessores são considerados opositores à sua política e à realização da Copa América no Brasil. O torneio caiu de paraquedas no país que continua a enterrar seus mortos e contabiliza mais de 470 mil óbitos desde o início da pandemia de Covid-19, ressalta o texto.
"Copa América da discórdia"
As ameaças de boicote veladas, feitas por Casemiro, convenceram o governo a eliminar o treinador e seus auxiliares. A ideia era substituir Tite por Renato Gaúcho, que iria comandar a Seleção Brasileira na "Copa América da discórdia". Mas o plano fracassou. O culpado foi Rogério Caboclo, acusado de assédio sexual por uma funcionária da CBF e afastado da entidade por 30 dias.
No meio desse escândalo, Tite conseguiu conservar uma postura de técnico íntegro e profissional. Ele conseguiu, principalmente, acumular bons resultados esportivos, avalia o correspondente.
Desde que assumiu o comando da seleção brasileira em 2016, a equipe soma 39 vitórias, dez empates e quatro derrotas. Uma eficácia de 80%. Esse sucesso de Tite é o segundo melhor balanço da história, atrás justamente do conquistado por João Saldanha, lembra a reportagem. O técnico brasileiro é também estimado e respeitado pelos jogadores da equipe, de Thiago Silva a Neymar.
Abaixo-assinado
O torneio começa no próximo domingo (13) com o duelo entre Brasil e Venezuela, em Brasília. No lugar do boicote, os jogadores brasileiros vão publicar um abaixo-assinado em protesto contra a organização da competição pela Conmebol e CBF nas atuais condições sanitárias.
Tite, “em paz com ele mesmo”, vai preparar a equipe para a vitória. E se ganhar, ao levantar o troféu no gramado do Maracanã, como em 2019, “sem dúvida o técnico brasileiro irá evitar o contato com o constrangedor Bolsonaro”, acredita L'Équipe.
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