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Com jogo equilibrado, Flamengo “converte” muçulmanos e ganha respeito até dos ingleses

Apesar da derrota na final do Mundial de Clubes para o Liverpool, por 1 a 0, neste sábado (21), em Doha, no Catar, o Flamengo saiu de campo com diversos pontos positivos. Jogando de igual para igual contra o campeão europeu – o que há anos o campeão da Libertadores não conseguia fazer no torneio –, o Rubro-Negro mostrou a sua força e teve o desempenho reconhecido. A boa atuação do time brasileiro “converteu” a torcida de parte do público muçulmano no estádio e rendeu elogios até dos ingleses, que demonstraram respeito ao adversário e comemoraram bastante o título.

Maioria dos torcedores cataris preferiam o Liverpool - mas muitos se surpreenderam com a performance do Flamengo na final do Mundial.
Maioria dos torcedores cataris preferiam o Liverpool - mas muitos se surpreenderam com a performance do Flamengo na final do Mundial. Tiago Leme/ RFI
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Tiago Leme, especial para a RFI em Doha (Catar)

Depois de empate por 0 a 0 no tempo normal, o gol de Firmino na prorrogação deu a taça ao Liverpool, mas o equilíbrio do jogo também deu determinadas conquistas ao Flamengo. A reportagem da RFI Brasil acompanhou a final nas arquibancadas do estádio Internacional Khalifa, observou a reação dos fãs e conversou com pessoas de diversas nacionalidades. No início, praticamente todos os torcedores do Catar, país de religião islâmica, torciam pelo time da Inglaterra, que tem um campeonato mais forte e bastante divulgado no Oriente Médio. Além disso, o atacante egípcio Mohamed Salah é um ídolo na região, o que se deve muito ao fato de ele também ser muçulmano.

Cantando junto

No entanto, com a torcida flamenguista em imensa maioria em Doha, fazendo grande festa e a equipe demonstrando bom futebol em campo, inúmeros cataris passaram a apoiar os brasileiros durante a partida. Animados, os árabes inclusive tentavam cantar junto as músicas em português para incentivar Gabigol, Bruno Henrique e companhia.

“Nós gostamos muito do Salah aqui, ele é um cara que divulga bem ao mundo os princípios do islamismo. Eu gosto do Barcelona, então hoje estava neutro antes do jogo. Mas o Flamengo me surpreendeu, fez um jogo igual contra o campeão da Champions League e a torcida fez uma festa bonita na cidade”, disse Ahmed Salman, morador de Doha. “Acabei entrando no clima e apoiei o Flamengo. Vou começar a acompanhar mais o time e o futebol no Brasil. Eles poderiam ter ganhado a final se tivessem feito um gol no primeiro tempo.”

Do público total de 45.416 espectadores, a estimativa foi da presença de cerca de 15 mil rubro-negros, que cantaram alto no estádio. Em número bem menor nas arquibancadas, os torcedores do Liverpool praticamente não fizeram barulho durante a partida. Com o apito final, porém, a vibração da minoria foi efusiva e as músicas britânicas, como a tradicional “You’lll never walk alone”, finalmente puderam ser ouvidas.

Ingleses blasés

Após a conquista do título mundial inédito, um torcedor do Liverpool tentou explicar o motivo de os ingleses não valorizarem tanto a competição como os sul-americanos.

“Acho que isso acontece pelo fato de na Europa a gente jogar constantemente contra adversários muito fortes, como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e vários outros, e dentro da Inglaterra também. Para os times da América do Sul, a gente sabe que é uma oportunidade rara de enfrentar essas grandes equipes do mundo, então eles acabam dando uma importância enorme para este jogo”, afirmou Paul Wright, que viajou ao Catar em um grupo de 60 fanáticos pelos Reds e fez elogios ao Rubro-Negro. “Mas eu acho que daqui alguns anos o Mundial de Clubes vai ser mais valorizado na Europa, isso está mudando. Vou poder dizer que eu estava aqui no primeiro título mundial do Liverpool.”

Paul avalia que, apesar de ter jogado “muito bem”, o Flamengo “cansou fisicamente no final, por isso perdeu”. “E nós atualmente temos uma das melhores equipes de todos os tempos. Eu tinha pesquisado um pouco sobre o Flamengo antes, sei que foi campeão brasileiro com quase 20 pontos de vantagem sobre o segundo colocado. É um time que merece respeito”, conta o inglês.

Do outro lado, um torcedor Flamengo tentou resumir o sentimento após a derrota, fazendo questão de destacar a boa atuação da equipe comandada pelo técnico português Jorge Jesus.

“A torcida do Flamengo está orgulhosa do que viu aqui, veio um time brasileiro e jogou de igual para igual com o campeão da Europa. O Liverpool passa por cima de muito time grande na Europa. A gente veio aqui e fez um jogo equilibrado, com mais de 60% de posse de bola no primeiro tempo”, ressalta Vinícius Braga, que também esteve com amigos na final da Libertadores em Lima e depois viajou ao Catar.

“No segundo tempo eles impuseram o jogo deles, eles têm mais banco. Mas a festa foi linda, foi um lindo jogo também, alguém tem que ganhar, e eles acharam a bola deles na prorrogação”, disse.

Os elogios à postura flamenguista dentro de campo em Doha não se resumiram à torcida. Jogadores dos dois times fizeram análise parecida. Eleito o segundo melhor jogador do Mundial, atrás apenas de Salah, o atacante Bruno Henrique lembrou da excelente temporada de 2019 do clube carioca, que foi campeão do Estadual, do Brasileiro e da Libertadores.

“Não faltou nada, jogamos o que jogamos o ano inteiro, não faltou absolutamente nada. Jogamos de igual para igual com o campeão da Champions, quando muitos acharam que iria golear a gente”, afirmou o atacante rubro-negro.

Brasileiro marcou o gol da vitória

Autor do gol da vitória inglesa após receber passe de Mané e mostrar categoria dentro da área, o atacante brasileiro Roberto Firmino foi mais um que fez elogios ao Flamengo. Ele ainda garantiu que o Liverpool estava bastante motivado em busca no título.

“É uma sensação incrível. Ganhar mais um título, e é o Mundial também. Fruto do que fizemos na Champions, estávamos aqui para ganhar, queríamos ganhar muito. Não foi fácil jogar contra o Flamengo, equipe madura, vem fazendo boa temporada. Não foi fácil, estou muito feliz pela vitória”, analisou o camisa nove dos Reds.

Durante os 120 minutos de jogo, as duas equipes tiveram chances de balançar as redes, mas o Liverpool foi mais eficiente. Antes do gol de Firmino na prorrogação, o árbitro chegou a marcar um pênalti de Rafinha em Mané nos acréscimos do segundo tempo, mas a infração foi anulada depois de uma consulta ao VAR (árbitro de vídeo).

Em 2020, novamente no Catar, o Mundial de Clubes será disputado pela última vez neste formato. A partir de 2021, o torneio organizado pela Fifa vai aumentar de tamanho, terá nova fórmula e contará com a participação de 24 equipes. A primeira edição acontecerá na China, e Flamengo e Liverpool já estão classificados.

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