Berlinale estreia formato online inédito; Brasil compete com longa sobre yanomamis
Nada de tapete vermelho nem do glamour das tradicionais estrelas. Coerente com as exigências da pandemia, mas também de seu perfil inovador e rebelde, a edição 2021 do Festival Internacional de Cinema de Berlim - a Berlinale - abre suas portas nesta segunda-feira (1°) em formato híbrido, com uma edição compacta em março fechada para o mercado, e um breve evento presencial em junho. Único longa brasileiro na competição oficial, “A Última Floresta”, de Luiz Bolognesi, retraça a mitologia yanomami para denunciar garimpos ilegais, com roteiro coassinado pelo xamã e ativista Davi Kopenawa.
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Quinze filmes em competição, mas sem grandes estrelas, tapete vermelho ou salas escuras: a Berlinale, o primeiro festival de cinema europeu do ano, estreia online nesta segunda-feira (1°), símbolo de um setor cultural prejudicado pela pandemia.
Na mostra competitiva Panorama, o Brasil vem representado nesta edição 2021 pelo belo longa-metragem “A Última Floresta”, de Luiz Bolognesi, diretor brasileiro que levou o Prêmio Especial do Júri em Berlim, em 2018, pelo “Ex-Pajé”. O filme “A Última Floresta”, que mistura a linguagem documental à encenação "hors pair" da cosmogonia yanomami por atores índios, recupera mitos da tradição indígena numa aventura pela floresta Amazônica, entre resgate da memória oral e ativismo contemporâneo. O longa denuncia a invasão dos garimpos ilegais, tragicamente ligados à história do povo yanomami.
Outra produção brasileira, "Os Últimos Dias de Gilda", de Gustavo Pizzi, concorre na mostra parelela com "uma reflexão sobre a liberdade, o papel da mulher na sociedade, a autoaceitação e a perigosa aliança entre religião e poder público". Adaptação do monólogo teatral homônimo de Rodrigo de Roure, a série foi criada e dirigida por Gustavo Pizzi e co-escrita com Karine Teles.
A seleção da Berlinale tradicionalmente dá lugar de destaque ao chamado "cinema de autor" e aos "primeiros filmes". E, normalmente, tende a ignorar os blockbusters do cinema norte-americano ou as grandes produções do box office.
Doze diretores e seis diretoras concorrem ao prestigioso Urso de Ouro, que deverá ser atribuído na sexta-feira (5), no final deste festival, num formato reduzido de 5 dias em vez dos 10 tradicionais. O júri, composto este ano por seis diretores premiados pela Berlinale, excepcionalmente não tem presidente em 2021.
Também, pela primeira vez, o festival deve atribuir um prêmio de interpretação “sem-gênero” (gender neutral), no lugar dos tradicionais prêmios de melhor ator e melhor atriz, uma verdadeira singularidade entre os grandes festivais mundiais de cinema.
Devido à pandemia, esta 71ª edição será então realizada em duas etapas neste formato híbrido, sendo as exibições abertas ao público adiadas de 9 a 20 de junho.
Filmados durante a pandemia
As produções foram realizadas total ou parcialmente durante a pandemia, disse o diretor artístico da Berlinale, Carlo Chatrian. “Embora apenas alguns filmes mostrem diretamente o novo mundo em que vivemos, todos eles carregam a incerteza destes tempos”, disse ele, “uma sensação de pavor está presente em todos os lugares”.
Criada em 1951, a Berlinale foi no ano passado o último grande festival europeu a poder ser realizado antes dos fechamentos de salas. A programação dos festivais europeus, desde então, foi virada de cabeça para baixo. Cannes, que costuma acontecer em maio, não pode ser realizado no ano passado e a edição de 2021 já foi adiada para julho.
Mas dada a situação sanitária, o festival pode ter que esperar até o outono, quando a programação já está apertada, com os festivais de San Sebastian e o Festival de Cinema de Veneza.
Assim como a Berlinale, outros festivais optaram pelo streaming, por falta de algo melhor: o festival de Gérardmer, o maior da Europa dedicado a filmes de gênero, fez a mesma escolha em janeiro, assim como o Sundance, um dos maiores festivais de cinema independente do Estados Unidos.
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