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Para Celso Amorim, expansão do Brics reflete “realidade do mundo”

O assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, antecipou nesta manhã (22) que o Brics – bloco formado pelas cinco potências emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – deve ser ampliado. A negociação é a mais delicada da 15ª Cúpula do Brics, que acontece em Joanesburgo.

O assessor especial da presidência, Celso Amorim.
O assessor especial da presidência, Celso Amorim. © Fábio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
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“É uma realidade no mundo, faz parte de uma nova organização da ordem mundial que não pode ser ignorada”, respondeu Amorim, ao ser questionado sobre o tema quando chegava para reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com lideranças do partido ANC (Congresso Nacional Africano), a sigla do líder antiapartheid Nelson Mandela.  

O assessor especial, que tem participado ativamente das negociações sobre o assunto nas reuniões preparatórias para a cúpula, ressaltou que o Brasil é um dos membros fundadores do bloco de emergentes e que o Brics se transformou em “uma afirmação global, (...) uma nova força no mundo”.

“O mundo não pode mais ser mais ditado pelo G7. Aliás, o Obama já tinha dito isso, quando disse que o G20 tinha substituído o G7”, relembrou. “Eu acho que essa reunião dos Brics, com grande interesse de um enorme número de países em desenvolvimento, demonstra que o mundo é mais complexo do que isso”, explicou.

Brasil acuado diante da China

Os comentários evidenciam que Brasília deverá concordar com o ingresso de novos sócios, algo que até então era visto com receio pela diplomacia brasileira, por fragilizar o poder do próprio país dentro do bloco. A definição dos critérios para a abertura deve ser o foco das conversas na noite desta terça-feira entre os presidentes e chefes de Governo dos países do Brics – além de Lula, o sul-africano Cyril Ramaphosa, o chinês Xi Jinping, o indiano Narendra Modi e o russo Vladimir Putin.

A China, maior defensora da expansão, vê o projeto como uma forma de consolidar uma aliança antagônica às organizações lideradas pelos ocidentais. Pelo menos 22 países são oficialmente candidatos a ingressar no grupo – desde potências emergentes como a Turquia e Indonésia, até países em grave crise econômica, como a Argentina, ou regimes não democráticos, como Irã, Arábia Saudita e Cuba.

O anfitrião da cúpula, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, deixou claro no domingo (20) que seu país apoia a proposta encabeçada pela China. “Uma versão alargada [do Brics] poderá representar um grupo mais diverso de nações, que têm diferentes sistemas políticos e compartilham um desejo comum de estabelecer uma ordem mundial mais equilibrada”, argumentou, em discurso em cadeia nacional de televisão.

O alinhamento ficou evidente depois que Ramaphosa convidou o presidente chinês, Xi Jinping, para realizar uma visita oficial de três dias ao país, nos mesmos dias em que acontece o encontro do Brics. Assim, Xi foi recebido pelo próprio Ramaphosa na descida do avião em Joanesburgo, um privilégio que os demais líderes não tiveram. Pequim é a principal parceira comercial de Pretória e, nos últimos anos, a África do Sul tem sido um dos principais destinos de investimentos chineses no continente africano.

A Rússia, isolada no mundo desde a guerra contra a Ucrânia e alvo de sanções ocidentais, também é favorável ao projeto de abertura do Brics. O grupo tem mais de 20 anos de história: foi criado em 2001 e passou ter uma atuação ativa na crise financeira de 2008.

Negociações sobre o Conselho de Segurança da ONU 

Ao lado do Brasil, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, resiste ao plano de expansão encabeçado pela China, vista como uma rival regional. Mas após dias de intensas negociações prévias sobre o tema, Nova Délhi pode estar disposta a ceder mediante definições claras dos critérios para o ingresso de novos membros no Brics – um aspecto que o presidente Lula também ressaltou em uma entrevista concedida para o jornal sul-africano Sunday Times, no domingo (20).

Nestas mesmas negociações, Brasília tem insistido para que, em troca de um acordo, Pequim aceite apoiar a proposta brasileira de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, ao qual Lula tem pleiteado um assento permanente. A demanda é antiga de Lula e encontra eco junto à África do Sul e à Índia, que defendem maior representatividade das instituições internacionais multilaterais.

Esta noite, os líderes se debruçarão cara a cara sobre o tema em uma reunião seguida de um jantar nos arredores de Joanesburgo. O presidente russo, Vladimir Putin, será o único a não poder comparecer presencialmente na cúpula, da qual participará por videoconferência. Alvo de uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional, do qual Pretória é signatária, ele poderia ser detido se fizesse a viagem. 

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