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"Se continuarmos com Bolsonaro, o Brasil não aguenta mais 4 anos", diz filha de Chico Mendes

A situação dos Direitos Humanos no Brasil piorou nos últimos quatro anos. É o que constata um estudo da Coalition Solidarité Brésil, entidade composta por 17 ONGs internacionais baseadas na França. Pelo terceiro ano consecutivo, o grupo aproveita a data da Independência do Brasil para lançar o estudo, que é um alerta sobre o cenário social, político e ambiental do país durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Estudo analisa o mandato de Bolsonaro e alerta para a situação dos Direitos Humanos e do meio ambiente no país.
Estudo analisa o mandato de Bolsonaro e alerta para a situação dos Direitos Humanos e do meio ambiente no país. © Tatiana Ávila
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Um dos pontos de destaque do Baromètre d’Alerte sur la Situation des Droits Humains au Brésil 2019 – 2022 (Barômetro de Alerta sobre a Situação dos Direitos Humanos no Brasil) é que, nestes últimos anos, a situação no país não foi impactada apenas pela pandemia de Covid-19, mas também pelo péssimo gerenciamento da crise sanitária pelo governo, bem como pelo mau uso das políticas públicas.

“Se continuarmos com Bolsonaro, acho que o Brasil não aguenta mais quatro anos”, afirmou a presidente do Comitê Chico Mendes e filha do ambientalista, Angela Mendes, que é também representante da Aliança dos Povos da Floresta.

“O cenário no país é muito preocupante do ponto de vista da violência, que aumentou significativamente. O assassinato de ativistas nunca parou, mas no atual governo esse problema se aprofundou, assim como a perda de direitos fundamentais, como o direito ao território e o direito à vida. O Brasil continua liderando as estatísticas de assassinato de ativistas e é um país que vive a realidade da violência e das negações de direitos”, acrescenta a filha de Chico Mendes.

Povos da floresta entre as maiores vítimas

Angela Mendes denuncia também a situação de calamidade em que vivem atualmente os povos da floresta. “Indígenas, extrativistas tradicionais, como coletores de castanha, látex e açaí, ribeirinhos e quilombolas estão hoje em uma situação muito difícil, de intensos ataques aos seus territórios, às suas vidas e às suas identidades. Não bastam os madeireiros, grileiros e fazendeiros invadirem suas terras, e as grandes mineradoras e os garimpeiros poluírem os rios e os alimentos, o Governo brasileiro atua no sentido de violentar os direitos dessas populações”.

Angela Mendes destaca o aumento da violência contra ambientalistas e o desrespeito contra os povos da floresta.
Angela Mendes destaca o aumento da violência contra ambientalistas e o desrespeito contra os povos da floresta. © Tatiana Ávila

 

De acordo com o estudo da coalizão, o tamanho do território brasileiro fonte de conflitos pela terra passou de 39 milhões de hectares em 2018 para 71 milhões de hectares em 2021. Essa disputa significa que, especialmente na Amazônia, indígenas e quilombolas estão tendo dificuldades em se manter em seus territórios, protegidos e demarcados pela Constituição Federal.

Aumento nos feminicídios, maior risco para população negra e insegurança alimentar

Erika Campelo, uma das integrantes do movimento e copresidente da instituição Autres Brésils, ressalta que o estudo desse ano faz uma avaliação dos quase quatro anos do governo Bolsonaro e de como esses ataques aos direitos humanos e ao meio ambiente pioraram drasticamente. O barômetro existe desde o início do mandato da extrema direita no Brasil.

O estudo é realizado desde o início do governo Jair Bolsonaro, há quase quatro anos.
O estudo é realizado desde o início do governo Jair Bolsonaro, há quase quatro anos. © Tatiana Ávila

“O número de mulheres assassinadas aumentou 9,5% em três anos no Brasil e as invasões de terras indígenas aumentaram em 141%. Assim, a partir de dados científicos produzidos pela sociedade civil brasileira, fazemos essa análise para alertar as entidades, instituições e os governos francês e europeu sobre todos os ataques contra os direitos humanos e contra o meio ambiente no Brasil vindos da parte do Governo federal”, sinaliza.  

A pesquisa destaca também que 59% da população brasileira se encontra em situação de insegurança alimentar neste ano de 2022, 15,5% está passando fome.

Outro dado alarmante: a população negra é um dos maiores alvos da violência no país, sendo 76,2% das vítimas de assassinato negras. Estatisticamente, esta população é também a maioria entre as vítimas de violência policial.

“Esse estudo é muito importante porque destaca exatamente o que se passa hoje no Brasil. A situação no país é bastante tensa, porque o presidente Bolsonaro tenta permanecer no poder, e, com a proximidade das eleições, sabemos que ele pode contestar os resultados, o que é muito preocupante", destacou Laurence Cohen, senadora do Partido Comunista francês e presidente do grupo interparlamentar França-Brasil.

"Mas, ao mesmo tempo, há uma sociedade civil extremamente mobilizada, e que milita para que o presidente não seja reeleito por conta das consequências negativas aos direitos humanos e às questões ambientais. Em nível internacional, na minha opinião, o ideal seria enviar uma comissão para acompanhar as eleições no Brasil para que tudo se passe da melhor maneira possível e para que o resultado não seja contestado”, insiste a senadora.

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