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Bolsonaro tenta usar coração de Dom Pedro I como marketing de campanha

Presidente recebeu com honrarias o coração do primeiro imperador brasileiro, em meio à indiferença da população. Preservado há mais de 180 anos no formol – líquido trocado a cada dez anos – o coração de Dom Pedro I, trazido de Portugal a Brasília em virtude das celebrações dos 200 anos de independência do Brasil, tem sido visto como peça de marketing do presidente Jair Bolsonaro que tenta a reeleição.

O presidente Jair Bolsonaro participa de uma cerimônia para receber o coração do monarca português Dom Pedro I, que declarou a independência do Brasil de Portugal há 200 anos e foi nomeado Imperador do Brasil, no Palácio do Planalto, em Brasília, 23 de agosto de 2022.
O presidente Jair Bolsonaro participa de uma cerimônia para receber o coração do monarca português Dom Pedro I, que declarou a independência do Brasil de Portugal há 200 anos e foi nomeado Imperador do Brasil, no Palácio do Planalto, em Brasília, 23 de agosto de 2022. REUTERS - ADRIANO MACHADO
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Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Enquanto faz contagem regressiva para o Sete de Setembro, convocando apoiadores a irem às ruas numa demonstração de força política, o presidente recebeu o órgão do primeiro imperador brasileiro com honras de chefe de estado, com direito a tiro de canhão, reverência, descida da rampa presidencial e até coração pintado no céu pela esquadrilha da fumaça.

Pessoas descendentes da linhagem real foram convidadas para a cerimônia de recebimento do coração, que alterou o trânsito na esplanada dos ministérios em Brasília na tarde dessa terça-feira (23).

Difícil não remeter às comemorações dos 150 anos da Independência, em 1972, quando demais partes do corpo de Dom Pedro I, que personifica o ato político da separação da colônia de sua metrópole, foram trazidos de Portugal para o Brasil durante o regime militar.

O coração em particular ficou na cidade portuguesa do Porto cumprindo desejo do próprio Pedro deixado em testamento.

"Não acho necessário"

Brasília não está perto dos grandes centros para atrair visitantes de fora. Tampouco se imagina que a maioria de seus habitantes, que moram em regiões mais afastadas do centro de poder da capital federal, irá se deslocar até o Ministério das Relações Exteriores para ver a relíquia portuguesa. Daí se questiona o resultado de tamanho esforço cerimonialista, com custos ao erário brasileiro, num país com tantas urgências reais.

“Não estava sabendo disso não. Fiquei sem tempo de ver notícias esses dias. Mas não acho necessário tudo isso aí diante de tanta coisa que o país precisa”, refletiu Silas Araújo, que trabalha como porteiro em Brasília.

“É importante pensarmos o que foi o processo de independência do país, mas não por esse tipo de cerimônia, que não dialoga com a população. Sem contar os custos da viagem, da segurança”, afirmou a professora aposentada Neide Silva.

Uso político da data 

Sem tirar sua importância histórica, Dom Pedro I não figura entre os personagens mais queridos dos brasileiros, nem o dia da Independência é um feriado de orgulho nacional, como é o 2 de Julho na Bahia ou o 9 de Julho em São Paulo.

Nos últimos anos, a data da independência tem sido usada pelos políticos para medir força e evidenciar um país dividido politicamente. Bolsonaro apostou de novo nisso e este ano quis contar com a mão, ou melhor, o coração de Pedro I, num exagero de pompas oficiais que deu mesmo um ar cômico, para não dizer trágico, a todo ritual.

"Dois países unidos pela História, ligados pelo coração”, disse Bolsonaro durante a cerimônia no Ministério das Relações Exteriores. “Duzentos anos de independência. Pela frente, uma eternidade em liberdade. Deus, pátria, família! Viva Portugal, viva o Brasil!", completou.

A partir de quinta-feira (25), o órgão do ex-monarca ficará em exposição no Itamaraty até o 7 de Setembro, retornando no dia seguinte a Portugal. Durante a semana a visita deve ser liberada para estudantes.

Demais interessados poderão ver de perto a urna e o recipiente com o coração de Pedro I no fim de semana. Ainda não foram divulgados detalhes da mostra, como se será necessário agendamento prévio como chegou a ser cogitado.

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