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Le Monde dissipa a ilusão da imunidade coletiva contra a Covid-19 em Manaus

O diário francês publica na edição com data desta quinta-feira (24) uma grande reportagem analisando os dados de um estudo recente que indica que 76% da população da capital do Amazonas teriam anticorpos contra o novo coronavírus. Le Monde afirma que imunidade coletiva contra a Covid-19 em Manaus é uma ilusão.

Matéria do jornal Le Monde, publicana na edição de 24 de dezembro de 2020, com o título: "Em Manaus, a ilusão da imunidade coletiva".
Matéria do jornal Le Monde, publicana na edição de 24 de dezembro de 2020, com o título: "Em Manaus, a ilusão da imunidade coletiva". © Reprodução
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A experiência da metrópole amazonense, que vive a segunda onda de contaminações, serve de exemplo para mostrar que a suposta imunidade de rebanho não acaba com os riscos da epidemia, escreve o correspondente do jornal no Brasil, Bruno Meyerfeld.

A matéria começa lembrando as imagens terríveis da primeira onda da Covid-19 em Manaus, no primeiro semestre, que "mostraram ao mundo uma certa visão do apocalipse: hospitais saturados de doentes e mortos, enfermeiros impotentes e famílias em pranto, corpos armazenados em caminhões frigoríficos e enterrados em valas comuns”. Oito meses depois, a cidade estaria fora de perigo e seria capaz de interromper a propagação descontrolada da doença? pergunta Le Monde.

O resultado do estudo publicado no início do mês na revista Science, realizado entre março e outubro por pesquisadores das Universidades USP, Harvard e Oxford, é surpreendente, mas um especialista entrevistado pelo jornal relativiza os dados. "As informações reveladas pela pesquisa são muito interessantes, mas ela foi realizada com amostras de doadores de sangue que normalmente são jovens, se protegem menos e têm mais chances de serem contaminados. Por isso, o estudo não é representativo da população em geral", previne o epidemiologista Guilherme Werneck.

Ele ressalta, ainda, ser necessário fazer a diferença entre a presença de anticorpos e a imunidade. Ainda não se sabe com certeza se, no caso da Covid-19, os anticorpos protegem total ou parcialmente, a duração dessa proteção e a possibilidade de reinfecção.

Segunda onda

A segunda onda está aí para provar essas lacunas. Depois de um recuo em setembro, a epidemia registrou um pico inquietante em outubro, com até 3.300 casos e 132 mortos por semana. Desde então, o surto se estabilizou a um nível intermediário, mas elevado, em torno de 2.000 infectados e entre 40 a 70 mortos semanais.

A evolução indica que a imunidade coletiva, mesmo se ela foi em algum momento atingida, não foi suficiente para manter a taxa de reprodução R abaixo de 1, indica Luiz Gustavo Goes, virologista da USP, ao Le Monde. Ele lembra que em outros coronavírus já conhecidos há registros de reinfecção após 4 meses e, por isso, é precipitado dizer que Manaus atingiu a imunidade de rebanho.

Com as festas de fim de ano, as próximas semanas correm o risco de serem difíceis e até mesmo catastróficas na cidade, prevê o diário. Assim como o resto do Brasil, o segundo país mais atingido pela epidemia no mundo com quase 190 mil mortos, os casos graves estão em alta na capital do Amazonas nos últimos dias e mais de 80% dos leitos nas UTIs estão ocupados por doentes da Covid.

A pandemia não está controlada e é necessário continuar a respeitar os gestos de proteção, aconselham os especialistas. "Pensar que as contaminações serão contidas com a imunidade coletiva é a garantia de que muita mais gente vai morrer", alerta Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abasco, Associação Brasileira de Saúde Coletiva, nas páginas do Le Monde.

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